“Quando me foi dito ter sido honrado com este prémio [Literário Guerra Junqueiro] eu fiquei sacudido em termos de espanto. Eu fui guerrilheiro e Junqueiro fez uma guerra. Ser comparado a Guerra Junqueiro para mim é uma honra enorme que pela genialidade transformou a consciência social e política em arte é para mim uma homenagem sem precedentes”, disse o líder histórico da resistência timorense.
De acordo com Xanana Gusmão, o poeta Guerra Junqueiro deixou uma obra universal “quer em tempo, quer em espaço”, disse.
“Manter viva a memória de Guerra Junqueiro é um honra para todos falantes da língua portuguesa, onde em Timor-Leste não é exceção. Na verdade, a distinção obtida hoje, não se pode restringir só a mim, cabe sobretudo aos meus bravos antepassados que brandiram as suas espadas ao ideal de emancipação que os honrosos homens e mulheres timorenses, já do meu tempo, não se deixaram vergar por uma violenta ocupação que durante um quarto de século e que sangue, suor e lágrimas conquistaram a independência”, frisou o político.
Xanana Gusmão disse ainda que é no seu povo que reside a sua inspiração para “sonhar e para escrever".
“As minhas palavras não são mais que “ecos de grandeza, coragem e resiliência de um povo, o povo Maubere. E eu sou um mero afortunado por ter passado pelos bancos da escola idiossincrasias da língua portuguesa. Digo se houve uma semelhança entre mim o grande poeta Guerra Junqueiro, está será certamente o gosto pela língua portuguesa”, vincou Xanana Gusmão.
Além da política, Gusmão assinou poesia e pintura, com títulos publicados como “Mar Meu”.
Natural de Freixo de Espada à Cinta, no Douro Superior, Guerra Junqueiro dá o nome ao prémio que distinguiu, na sua primeira edição, em 2017, o português Manuel Alegre e, desde então, se alargou para distinguir vários nomes da lusofonia, todos os anos.
Por seu lado, o presidente da câmara de Freixo de Espada à Cinta, Nuno Ferreira, disse que “um orgulho” ter uma figura do panorama mundial como Xanana Gusmão, considerando ainda que “é marco ímpar do que é liberdade”.
“Freixo de Espada à Cinta galardoou Xanana Gusmão com o prémio literário Guerra Junqueiro por haver sinergias entre ambos quer pela resistência e resiliência e acima de tudo por expressaram os seus sentimentos de um povo através de um povo e de população”, enfatizou o autarca socialista.
Para Nuno Ferreira, com este prémio atribuído pela primeira vez a um timorense, Freixo de Espada à cinta “dá passos largos no que é afirmação cultural, desenvolvimento e progresso.
Xanana Gusmão foi ainda convidado por representantes da Comunidade Intermunicipal (CIM) Douro a ser um dos embaixadores da “Cidade do Vinho 2023” que vai decorrer nos 19 concelhos deste território.
Outro dos convites foi a presença do antigo presidente de Timor-Leste, nas comemorações do centenário da morte de Guerra Junqueiro previstas para 2023.
Instituído desde 2017, em Portugal, o primeiro prémio foi atribuído a Manuel Alegre, seguindo-se Nuno Júdice, em 2018, José Jorge Letria, em 2019, Ana Luísa Amaral, em 2020, e em 2021 a Hélia Correia.
Desde 2020, nos restantes países da lusofonia, o prémio foi entregue a Lopito Feijóo, Raul Calane da Silva, Sidney Rocha, Olinda Beja, Jorge Carlos Fonseca, Tony Tcheka, Abdulai Sila, Dina Salústio e Vera Duarte Pina.
Estão em agenda as cerimónias de entrega do Prémio de 2021 a Abraão Bezerra Batista, do Brasil, Luís Carlos Patraquim, de Moçambique, Agustín Nze Nfumu, da Guiné Equatorial, e João Tala, de Angola.
O júri do prémio é constituído pela curadora, Avelina Ferraz, por um elemento da autarquia e pelos anteriores premiados, sendo este mesmo coletivo que avança com os nomes nomeados, de onde saem os vencedores.
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