Desde que assumiu a liderança da China, em 2013, Xi Jinping, que visita esta semana Portugal, tornou-se o centro da política chinesa e é hoje considerado um dos líderes mais fortes na história da República Popular, comparável ao seu fundador, Mao Zedong.
Em março passado, numa única sessão do legislativo chinês, Xi conseguiu abolir o limite de mandatos para o seu cargo, criar um organismo com poder equivalente ao do executivo, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promover aliados a posições chave do regime.
"É enorme; é histórico", afirma à agência Lusa Xie Yanmei, analista de política chinesa do centro de investigação Gavekal, com sede em Hong Kong.
"Requer grande margem de manobra e muito capital político", nota.
Xi Jinping anunciou já o início de uma "nova era" para a China, com dois objetivos: construir uma "sociedade moderadamente próspera", até 2035, e firmar a posição do país como grande potência, até 2050.
"Ele tem uma visão para o país e quer usar os meios institucionais para cumprir essa visão", explica Xie Yanmei.
Entre aqueles "meios institucionais" destaca-se a criação da Comissão Nacional de Supervisão, que acumula poderes comparados aos do Executivo, Legislativo ou Judicial, e abrange toda a função pública.
Trata-se de uma "organização política e não de aplicação da lei", que "pode ser potencialmente transformativa", defende Xie.
"A Comissão está encarregue de garantir que as decisões do partido são rigorosamente implementadas", através do envio de inspetores para as empresas estatais e diferentes organismos do Governo, afirma.
Trata-se de uma forma de institucionalizar a mais ampla e persistente campanha anticorrupção na história da China comunista, uma das fontes de legitimidade de Xi, lançada após este ascender ao poder, e que puniu já mais de um milhão e meio de funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC).
Além de combater a corrupção, a campanha tem tido como propósito reforçar o "controlo ideológico" e afastar rivais políticos, com as acusações a altos quadros do regime a incluírem frequentemente "excesso de ambição política" ou "conspiração".
David Kelly, diretor da unidade de investigação China Policy, com sede em Pequim, defende, no entanto, que é no plano internacional que Xi quer deixar o seu "grande legado".
"A China vai trazer para o mundo moderno a sua sabedoria milenar e recuperar a grandeza de outrora. Vai oferecer ao mundo uma solução chinesa. E isto vai ser atribuído a Xi", aponta à Lusa o analista, sobre a nova narrativa do regime.
A "solução chinesa" materializa-se no gigantesco plano de infraestruturas ‘um cinturão, uma rota', lançado por Xi, e que visa reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático, através da construção de uma malha ferroviária intercontinental, portos, aeroportos ou autoestradas.
A proposta chinesa surge numa altura em que os Estados Unidos de Donald Trump rasgam compromissos internacionais sobre o clima, comércio, migração ou nuclear.
"Xi projeta a imagem de um líder no comando, com uma visão estratégica de longo prazo e rodeado de uma equipa capaz", afirma Xie Yanmei. "É um contraste nítido com a imagem agora projetada por Washington", nota.
Na faixa junto à entrada do Wujing Yiyuan, Xi Jinping está com as duas mãos juntas, palma contra palma, à altura do peito. Veste um uniforme militar verde-oliva. Atrás, um dos símbolos mais expressivos da China, a Grande Muralha, serpenteia por um vasto terreno montanhoso.
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