“Estou há mais de dois meses fechada em casa com o menino. Ele queria sair e achámos que hoje devia ser um bom dia para vir, devia estar vazio e como vai chover nos próximos dias…”, começou por explicar Carla, na companhia do filho de 7 anos, Pedro.
De acordo com a visitante, é diferente estar no jardim zoológico sem muitas pessoas, mas sendo um espaço ao ar livre sentiu ser “bastante seguro” levar o filho, lembrando a existência de vários pontos com desinfetante pelos caminhos.
Pedro não se importou muito em não ver o Zoo cheio de pessoas e confessou à reportagem da Lusa que, desta forma, pode andar “mais descansado a ver os animais”, mostrando-se deliciado junto dos pássaros.
Evelyn Tembe observava os primatas com a filha de 4 anos um pouco mais à frente. Explicou que a saída hoje lhe trouxe uma “sensação de algum alívio, de descomprimir” da quarentena, que “já começava a pesar, especialmente para a filha”.
“Hoje de manhã ouvimos a notícia que estava aberto e viemos. O que está disponível agora é muito reduzido para crianças novas, são os passeios e espaços abertos e pouco mais, foi ouro sobre azul o Zoológico estar aberto porque ela adora animais”, explicou.
Há cerca de três anos que não visitava o Jardim e, ao contrário das vezes anteriores, hoje Luzia Moniz contou que foi pela primeira vez sozinha, escolhendo a hora de almoço para se fazer à aventura.
“Saí para descomprimir um pouco, já não vinha há algum tempo e aproveitei a reabertura sabendo que hoje também não iria ter uma grande enchente. Estou satisfeita porque saí um pouco e tem-se vida social, o que já fazia falta, e o jardim zoológico é o sítio ideal”, contou.
Luzia Moniz sublinha que a ida até ao Zoológico e o convívio com os animais é uma vivência “muito boa e que deixa as pessoas relaxadas também”.
“Vim sozinha, não me lembro de alguma vez ter vindo sozinha. O prazer é sempre maior sozinha, fazer aquilo que se quer, ir para onde se quer, é maravilhoso”, confidenciou.
Duas semanas depois, a reportagem da Lusa voltou ao Jardim Zoológico e hoje já se deparou com algumas pessoas no seu interior, mais do que somente os tratadores e trabalhadores do espaço, longe ainda das lotações dos dias que antecederam a pandemia.
Rui Bernardino, veterinário e responsável pelo plano de contingência do Jardim Zoológico, explicou que o regresso será feito por fases, com planos dinâmicos e ajustáveis, sendo que o espaço esteve fechado ao público, mas as pessoas continuaram a trabalhar “com um plano apertado de regras e normas” para todos estarem em segurança.
“É essa segurança que queremos que passe para as pessoas. As alterações maiores têm a ver com as desinfeções dos espaços gerais, dos espaços de higienização e dos espaços que são agora percorridos”, explicou, adiantando que o impacto é maior para os que trabalham no espaço, que deixaram de ver os visitantes, e menos para os animais.
Quando as condições climatéricas não são apropriadas, em anos que chove durante dois a três meses, exemplificou Rui Bernardino, também não há visitantes e, neste período em que estiveram de portas fechadas, o que sentiram mais da parte dos animais foi curiosidade quando alguém se aproximava.
“Há um maior interesse quando vem alguém, curiosidade, quando há aproximação, mas é igual quando passamos do inverno para a primavera, depois de não verem tanta gente no espaço”, explicou, sublinhado que dois meses na vida dos animais “não é nada”.
Uma das principais preocupações agora no Zoo prende-se com a limpeza, sobretudo as questões dos vidros, dos bancos, dos baldes dos lixo, ou seja, tudo aquilo que se pode tocar, conforme explicou Rui Bernardino, daí estarem espalhados pelo recinto una série de dispensáveis com gel desinfetante.
Agora, com os novos tempos, Rui Bernardino quis deixar um apelo aos visitantes do Zoo: que percam tempo a olhar os animais, que se demorem junto das instalações, lembrando que faz toda a diferença em perder tempo.
“A vida é feita a correr e quando vimos aqui fazemos da mesma forma, tudo a correr. Ninguém consegue ver todas as instalações que nós temos, num dia, mesmo a correr, e neste momento também não”, frisou.
No primeiro dia já foram registadas algumas entradas e o responsável sublinhou que enchentes não vão ter, até porque, lembrou, tudo o que está a ser feito no Zoo “peca por excesso”, estando previsto o limite de entradas de cinco pessoas por 100 metros quadrados, o que dá numa área visitável de 1.100 pessoas, “seguramente longe de alcançar nesta fase”, disse.
Com algumas medidas novas no jardim, salienta que “talvez seja desta que as pessoas entendam que não devem alimentar os animais”.
“Tivemos um discurso durante anos para que não alimentassem os animais, alimentar não é um hábito que deva ser recomendado, esperemos que seja desta”, explicou.
Apesar de ter fechado portas, o Zoo de Lisboa reinventou-se, ao abrir “as janelas” das novas tecnologias com conteúdos ‘online’ para as famílias, alunos e professores.
A coordenadora do Centro Pedagógico, Antonieta Costa, lembrou terem sido reforçadas as atividades na página oficial do Jardim e no canal do Youtube.
“Além de reforçar as atividades ‘online’, vamos ter atividades presenciais, em dias específicos, com mais biólogos pelo jardim a explicar e a fazer umas ‘Conversas com Biólogos'”, explicou Antonieta Costa, sendo que a primeira deverá acontecer já dia 15, em que se assinala o dia da família, e muito provavelmente em 28 de maio, quando se assinalam os 136 anos do Zoo.
Comentários