O ano de 2016 começou repleto de sonhos. Quando Messi, na Gala da FIFA, em janeiro, levantava o galardão de melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo sonhava em voltar a receber a Bola de Ouro. Fernando Santos sonhava com o primeiro grande título da Seleção A de Portugal. O Europeu de Atletismo fez o nosso país sonhar com uns Jogos Olímpicos memoráveis. Uns concretizaram-se, outros ficaram por terra, por vezes a milésimos de segundo ou a milímetros de serem concretizados.
Outros nem sequer existiam e foram sendo formados, como é o caso do Leicester que deixou o mundo de boca aberta quando conquistou o título inglês. E outros ainda eram desejos antigos que se viram finalmente concretizados, como o de LeBron James que regressou à equipa da sua cidade natal para a ajudar a conquistar, pela primeira vez, o título da NBA.
Foi um ano onde coube tudo isto, um ano em que Portugal se elevou e superou, um ano em que lendas partiram. 2016 foi um ano enorme para o desporto e tão depressa, cá dentro e lá fora, não será esquecido.
2016, o ano de Portugal
Em maio, Fernando Santos dizia que tinha um objetivo: ser campeão da Europa. Dizia-se, no passa a palavra das redes sociais, que não ia ser desta, que pensar em vencer era demasiado, e o ‘mister’ respondeu à letra: “Agora que digo que Portugal tem este objetivo, algumas pessoas dizem que estou a exagerar. É ser preso por ter cão e preso por não ter. Eu prefiro ser preso por ter.”
No final de junho, Portugal partia para França para disputar a fase final do Campeonato da Europa de futebol. O começo foi tímido e complicado. Ultrapassámos a fase de grupos com 3 empates. Aliás, seria esse o principal resultado da seleção portuguesa ao final dos 90 minutos em todos os jogos que fez, à exceção do encontro com o País de Gales, nas meias-finais.
No entanto, Fernando Santos não descurava: “Só vou dia 11 para Portugal e serei recebido em festa”.
Dia 10 de julho lá estava ele, o homem à frente de uma nação a subir ao relvado do Stade de France para comandar as suas tropas na segunda final de sempre numa seleção virgem em títulos. Ali havia uma certeza, só voltaria dia 11 para o seu país. Mas e a festa? Iria haver festa?
A lesão do capitão, Cristiano Ronaldo, deixou o país em alvoroço, mas, talvez, mais unido. Mais uma vez o jogo ficaria empatado aos 90 minutos (o-o). No prolongamento o herói improvável apareceu. Com Ronaldo ao lado de Fernando Santos a fazer ecoar as indicações do selecionador para dentro das quatro linhas, Éder, "o patinho feio", vestiu a capa, entrou, marcou num pontapé que fica na história do futebol e de Portugal. E, de repente, o país explodiu de alegria. Ali estava o primeiro título de sempre de Portugal.
Talvez este tenha sido o mote para as conquistas que se seguiram. Cinco dias depois, a seleção nacional de hóquei em patins derrotou a campeã europeia Itália por 6-2 e sagrou-se campeã da Europa. O 21º título e um marco na história da modalidade que quebrou um jejum de 18 anos sem vencer a competição.
Mas não nos ficámos por aqui. Em outubro, as “nossas meninas” da seleção nacional carimbaram diante da Roménia (1-1) um apuramento histórico e único para uma fase final de uma competição de futebol profissional feminina. Em 2017 lá estarão elas, de quinas ao peito a envergar as cores nacionais na Holanda.
Brasil de Bronze
Na Europa brilhava-se, parecia viciante. Não conseguíamos parar. No Europeu de Atletismo, em Moscovo, na Rússia, Fernando Pimenta sagrou-se campeão europeu de K1 1.000 e K1 5.000, dois títulos conquistados em menos de 24 horas.
No atletismo, Patrícia Mamona e Sara Moreira tornaram-se campeãs europeias, do triplo salto e na meia-maratona, respetivamente. Esta última seria, também, a competição que receberia mais uma portuguesa no pódio, Jéssica Augusto, que venceu a medalha de bronze.
Vimos ainda Tasnko Ardaunov, ser bronze no lançamento de peso e assistimos ao ‘renascer’ de Nélson Évora que conquistou a medalha de bronze no triplo salto.
Tudo isto deixou o país entusiasmado. Partimos para o Rio de Janeiro para disputar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos com o acreditar de que poderia acontecer um desfecho idêntico ao Euro2016. Infelizmente, não correu tudo como desejávamos. Telma Monteiro, judoca, foi o eco maior da prestação olímpica com a única medalha conquistada, bronze na categoria de -57 kg. A campanha Paralímpica no Brasil trouxe mais sorrisos, 4 bronzes: Luís Gonçalves (200 metros T12) e Manuel Mendes (maratona T45/46), no atletismo, e de José Macedo, na categoria BC3, e da equipa BC1/BC2, no boccia.
As lágrimas de Emanuel Silva, que ficou a escassos milésimos do pódio, espelhavam a amargura e a tristeza de quem, do lado de cá do Atlântico, assistia impotente a uma campanha de “quase”.
Estivemos tão perto e tão longe de tudo, que passou despercebido o facto de esta ter sido a segunda melhor campanha de sempre de Portugal nos Jogos Olímpicos. Afinal de contas, foram 10 os diplomas de mérito que regressaram, com a canoagem e o atletismo a serem os mais destacados. Emanuel Silva e João Ribeiro foram quartos no K2 1.000 metros, Fernando Pimenta quinto no K1 1.000 metros e o K4 1.000 concluiu a participação das canoas lusas em sexto.
Nelson Évora e Patrícia Mamona ‘voaram’ para o sexto lugar no triplo salto, a mesma posição alcançada por Ana Cabecinha nos 20 km marcha. Marcos Freitas, no ténis de mesa, a seleção de futebol comandada por Rui Jorge, João Pereira, no triatlo e o sétimo lugar do ciclista Nelson Oliveira, no contrarrelógio, fecharam este nosso palmarés.
Cá dentro, o ano foi vermelho
A época futebolística em Portugal foi, em 2016, imprópria para cardíacos. Benfica e Sporting protagonizaram uma corrida a dois como não se via há muitos anos e que culminou no dérbi de Alvalade, já na jornada 25. Os encarnados chegaram a casa do rival depois de terem recuperado uma desvantagem de 7 pontos e tinham, finalmente, a oportunidade de assumir o comando do campeonato. Os pupilos de Rui Vitória viriam a vencer o dérbi com um golo de Kostas Mitroglou, e a partir daí nenhuma das duas equipas voltou a perder, culminando numa época em que o Benfica bateu o recorde de pontos acumulados numa temporada, 88, e alcançou o tricampeonato, 39 anos depois - o último remonta a 1977.
Pouco tempo depois, os encarnados viriam a conquistar a sua sétima Taça da Liga, ao golearem o Marítimo, na final, por 6-2.
O país acabaria por se pintar de vermelho e branco, de norte a sul, quando o Sporting de Braga venceu a segunda Taça de Portugal da sua história, no Jamor, depois de derrotar o Porto nas grandes penalidades.
A nona de Vítor Oliveira, “o rei das subidas”
Na segunda divisão do futebol profissional o vermelho não foi imperador, foi o azul que dominou com as subidas do Feirense e do Desportivo de Chaves, e com o título de campeão do Porto B.
Mas tão ou maior feito que voltar a estar na I Liga, entre os grandes, é chegar até lá, e nisso ninguém é melhor que Vítor Oliveira. A subida do Chaves foi a terceira consecutiva do técnico português, depois de Arouca e União da Madeira, e a nona no geral. O “rei das subidas” fez história, despediu-se e já assumiu o seu desafio para chegar ao número redondo das 10 subidas: o Portimonense.
Lá fora? Espanha, Espanha e Espanha
Além fronteiras, 2016 foi dominado por Espanha, no que toca ao futebol. A final da Liga dos Campeões colocou frente a frente os rivais de Madrid, Atlético e Real. A equipa liderada por Zidane, com os portugueses Cristiano Ronaldo e Pepe, acabaria por levar a melhor.
Na Liga Europa, o Sevilha conseguiu o feito impressionante ao conquistar a terceira taça, consecutiva, depois de ter derrotado o Liverpool de Klopp.
Já no final deste ano, o Real Madrid venceu o Campeonato do Mundo de Clubes, no qual brilhou Ronaldo, o melhor jogador do torneio.
Foi portanto, indiscutivelmente, um ano de ouro e mais um de afirmação para o futebol espanhol.
Os melhores do mundo
Indo até lá fora, voltamos a passar a fronteira para celebrar o que de melhor temos cá dentro.
Cristiano Ronaldo foi galardoado com o prémio de Melhor jogador a atuar na Europa, recebeu a 4ª Bola de Ouro da sua carreira e, também pela quarta vez, foi considerado o melhor do mundo nos chamados "Óscares do futebol" pela Globe Soccer, depois de uma temporada inédita no mundo do futebol em que o capitão da seleção nacional venceu todas as competições internacionais em que participou, e tornou-se no primeiro futebolista a ser eleito desportista europeu do ano pelas 27 agências de notícias.
Para além disso juntou mais recordes à sua longa lista. Pelos ‘merengues’ tornou-se no maior goleador de sempre em dérbis madrilenos. Com a seleção nacional passou a ser o jogador com mais jogos e golos em fases finais de Campeonatos da Europa, e definiu um novo recorde de Europeus seguidos a marcar: 4
Mas CR7 não é o único a brilhar. Ricardinho voltou a ser distinguido com o prémio de Melhor Jogador do Mundo de futsal, pela terceira vez. Mais uma vez o jogador português deixou o mundo de boca aberta com impressionantes fintas e golos que foram alvo de inúmeras repetições nas redes sociais e plataformas de vídeo.
Como dizem não há duas sem três, e este ano tivemos três melhores do mundo. Madjer foi eleito o Melhor Jogador do Mundo de futebol praia, pela segunda vez consecutiva. Um título que assenta bem no internacional português, especialmente depois de ter chegado à marca dos 1.000 golos pela seleção nacional.
Três melhores jogadores e um melhor selecionador. Fernando Santos, o homem que guiou Portugal na conquista do Campeonato da Europa foi eleito o melhor treinador do mundo pela Globe Soccer e o melhor selecionador do ano pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS). Um ano incrível que poderá a vir a ser coroado, no início de 2017, com o prémio de melhor treinador do mundo da FIFA, uma vez que o selecionador nacional está na lista final de candidatos ao galardão.
O ano dos contos de fadas
Dissemos que este foi o ano de todos os sonhos.
E foi. E que o diga Claudio Ranieri! Quem diria que o Leicester, clube que, teoricamente, lutaria para não descer de divisão iria vencer o campeonato inglês? As probabilidades eram tão baixas... Foi uma vitória de David contra Golias que emocionou e que uniu todos os adeptos de futebol.
Depois, nos Estados Unidos da América vimos o sonho de LeBron James finalmente concretizado. O três vezes MVP da NBA (jogador mais valioso do campeonato), conseguiu dar à equipa que o formou e o atirou para as luzes da ribalta o primeiro título da Liga Norte-americana de Basquetebol (NBA). Um daqueles regressos a casa que ficarão para a história.
Na Fórmula 1, Nico Rosberg fez jus ao seu apelido e conquistou o Campeonato numa temporada incrível em que o seu maior rival foi o seu colega de equipa, Lewis Hamilton. O alemão venceu, celebrou e … retirou-se. Se calhar há sonhos que só podem ser vividos uma vez.
Depois, em bom português, vimos João Sousa a chegar a verdadeiros lugares de sonho. O vimaranense chegou a entrar no top 30 do ranking ATP, chegando a ocupar a 28ª posição, a melhor de sempre de um tenista luso.
E nunca é demais relembrar o conto de fadas que aconteceu dia 10 de julho, no Stade de France, ao minuto 109 da final do Euro 2016, os minutos inesquecíveis de Éder, desde a entrada ao pontapé para a glória que transformaram o "patinho feio da seleção" em herói de uma nação.
Adeus
E perante tantos sonhos concretizados, tantos sonhos idealizados e tantos sonhos chorados, houve a mágoa de dizer “adeus” a figuras incontornáveis do desporto. Por cá, vimos partir o “senhor atletismo”, Moniz Pereira, o homem que guiou grandes nomes do atletismo português como Carlos Lopes, Fernando Mamede e os gémeos Castro; e Mário Wilson, “o velho capitão” e lenda do Benfica e Académica.
Lá fora, assistimos ao adeus emocionado de Camp Nou a um dos maiores jogadores de sempre da história, Johan Cruijff, lenda do Barcelona e Ajax, vencedor por três vezes da Bola de Ouro.
Um ano de sonhos, viu vários desaparecerem de uma só vez. 2016 foi um excelente ano para o desporto, mas acabou de uma forma horrenda e injusta. O avião da equipa brasileira Chapecoense despenhou-se quando voava em direção à Colômbia para disputar o jogo das meias-finais diante do Atlético Nacional a contar para a Taça Sul Americana de futebol.
Infelizmente, 2016 acabou escrito a preto e branco, e numa grande onda de solidariedade que culminou com a atribuição do título da Taça Sul Americana à Chapecoense.
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