James Kirkham trabalha em futebol. Ou melhor, com futebol. Mas não em relação ao jogo jogado. O futebol da Copa90, um canal de media dedicado ao desporto-rei, dirigido por Kirkham, é sobre tudo para além dos 90 minutos que acontecem no relvado.
Aqui encontra-se de tudo sobre futebol, dos documentários mais sérios aos vídeos mais light. Porque o futebol tem essa amplitude: “é como te sentes, umas vezes estás de ressaca, outras vezes estás feliz, outras queres ser sério. O futebol consegue ser todas essas coisas”. Não é jornalismo, mas acredita que têm mentes jornalísticas por detrás dos documentários. Kirkham acredita em mais que isso, que o futebol pode “ser uma lente, uma forma de lidar com as coisas”. “Os jovens entendem futebol, mas não política. O futebol está a substituir política. Basta ver o exemplo de quando o Leganés fez uma camisola para alertar contra a violência de género, a política da Adidas para combater o plástico nos oceanos, o que Sterling está a fazer no Reino Unido contra o racismo… os jovens são tão pouco afetados pela política, estão tão fartos de políticos que o desporto está a fazer isso. O futebol tem um papel, pode unir pessoas”, defende.
Convidado para falar do fã de futebol moderno na Soccerex Europe, James Kirkham diz que este é incansável, quer tudo a todo momento. Tudo o que gira em torno do jogo. É por isto que acredita que hoje o futebol está no centro da cultura popular.
Falámos com James e tirámos sete lições sobre o jogo dos dias de hoje, o que os fãs querem e o que eles são.
1 - Do documentário à dança do Neymar
“O Copa90 sempre quis fazer conteúdo que entretivesse as pessoas, que as arrepiasse. Quer façamos um documentário de 10 minutos ou um vídeo mais divertido com jogadores. Acredito que um fã futebol tem muitas necessidades diferentes. Umas vezes quer ver um documentário na Netflix, outras vezes quer ver uma coisa durante 10 segundos. Podes querer ver um documentário sobre futebol na Síria ou ver o Neymar ser entrevistado por duas pessoas e a fazer danças. É como te sentes, umas vezes estás de ressaca, outras vezes estás feliz, outras queres ser sério. Futebol consegue ser todas essas coisas”.
2 - O futebol no coração da cultura pop
“Acho que foi recentemente que o futebol se transformou no coração da cultura pop. Mas está em todo o lado. O Travis Scott, no palco, veste a camisola do PSG ou o equipamento da Nigéria... Há tantos exemplos em que a música e o futebol, o gaming e o futebol, a moda e o futebol se misturam... Quando Paul Pogba se mudou da Juventus para o Manchester United e saiu um vídeo dele com Stormzy muita gente disse "futebol e música? Isso é fixe". Acho que isso pode ter mudado as coisas”.
3 - A bola fora da televisão
“O futebol ainda está na televisão, mas é em todos os outros sítios que vês os documentários, os filmes, os resultados, os bastidores, os jogadores. O futebol na televisão são 90 minutos, mas talvez a verdadeira riqueza esteja em tudo o resto. Talvez tudo o resto seja maior do que o jogo. Quando olhamos para as pesquisas e para os dados vemos que as pessoas não preenchem as vidas delas com os 90 minutos. Isso é parte disso, é algo de que se pode falar, partilhar vários clipes. Mas é tudo isso. O Copa90 começou como tudo para além dos 90 minutos o que faz os 90 minutos importarem mais”.
4 - Futebol, a nova política
“O futebol pode ser uma lente, uma forma de lidar com as coisas. Os jovens entendem futebol, mas não política. O futebol está a substituir política. Basta ver o exemplo de quando o Leganés fez uma camisola para alertar contra a violência de género, a política da Adidas para combater o plástico nos oceanos, o que Sterling está a fazer no Reino Unido contra o racismo… os jovens são tão pouco afetados pela política, estão tão fartos de políticos que o desporto está a fazer isso. O futebol tem um papel, pode unir pessoas. Há muita gente que não concorda com o Brexit porque não consegue imaginar um momento em que estará tudo dividido. Eles não acreditam nisso. O futebol pode fazer muito, é muito poderoso”.
5 - “Se tens menos de 30, tudo o que sabes de futebol foi através dos jogos”
“Adoro o facto de que o meu filho ande comigo pela rua a usar a camisola do PSG com o nome do Zlatan. Ele não apoia o Paris Saint-Germain. Ele é fã do Zlatan, ele é adepto do Manchester United. O Manchester United é o mais importante do seu pequeno mundo, mas ele vai vestir uma camisola da seleção belga, do Atlético Madrid. Ele adora clubes, ele adora futebol, adora a muralha amarela do Borussia Dortmund. A primeira vez que viu o estádio do Tottenham foi no FIFA, e quando foi lá disse "nós já jogámos aqui no FIFA". O Football Manager também, ensina-te tanto sobre os jovens jogadores, deixa-te tão atento aos talentos. Depois segues a carreira deles. Tudo isso torna o jogo ainda mais excitante”.
6 - Não pode haver um jogo do mundo se ignorarmos 50% do mundo
“Neste momento, o mais importante no futebol é o futebol feminino. Achamos que é uma parte do futebol que as pessoas ainda têm muito por descobrir. Há este lado que muitas pessoas ainda não viram, achamos que nunca pode ser o belo jogo se não houver paridade, e não pode haver um jogo do mundo se ignorarmos 50% do mundo. Estes são os novos super atletas. Têm histórias, melhores que muitos homens, histórias de superação para estarem onde estão”.
7 - Futebol feminino, é futebol.
“Agora há histórias, jogadoras de quem as pessoas não gostam. As pessoas não gostaram da Alex Morgan, da seleção norte-americana, no Mundial. Isso é bom, é a textura, é a riqueza do jogo. Não podemos paternalizar e dizer “mas que bom”. É futebol a sério, futebol feminino é futebol”
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