Alberto Contador. Ciclista profissional espanhol, 34 anos, anunciou antes do início de “La Vuelta” que iria terminar a carreira profissional depois de percorrer a edição 2017 da prova que começou em Nimes, em França, dia 19 de agosto e percorre as estradas espanholas até 10 de setembro. "Estou contente e sem pena. É uma decisão pensada e penso que não há despedida melhor que uma prova em casa, no meu país”, disse num video que publicou.
Vencedor do Tour de França, em 2007 e em 2009, dois Giro de Itália, em 2008 e em 2015, e três La Vuelta de Espanha, respetivamente em 2008, 2012 e 2014, o vasto e imponente curriculum desportivo fazem dele uma das grandes figuras mundiais do ciclismo da atualidade com direito a entrada certa no panteão dos deuses do desporto.
Natural de Pisto, localidade perto de Madrid, “El Pistolero” como é apelidado, tem uma enorme legião de fãs, em especial em Espanha, país onde é visto como uma estrela mediática planetária. E nem a retirada da vitória do Tour de 2010 na sequência de uma análise positiva de Clenbuterol, uma substância proibida, lhe retira a devoção nacional.
A etapa 15 da La Vuelta que ligava Alcalá la Real à Serra Nevada, 129 quilómetros pela Andaluzia, serviu para comprovar a loucura à volta do ciclista espanhol. Na cidade local de partida da etapa, na rua destinada ao estacionamento dos autocarros das equipas, Calle Hoya de la Mora, a “casa sobre rodas” da Teck-Segafrego, distinguia-se das demais. E não era por causa da cor preta com ar high tech.
Uma longa espera para tentar alcançar um beijo ou uma selfie
Uma dúzia de polícias servia de "guarda pretoriana" ao autocarro que transporta Alberto Contador. Acompanha-o onde quer que estacione em cada uma das etapas. Têm por missão “proteger” a estrela do ciclismo da legião de fãs, adeptos que, mal se apercebem que a equipa está a chegar ao local do estacionamento reservado, cercam o “hotel ambulante”.
Em Alcalá la Real, foi só mais uma concentração em que se montou o “circo mediático” à volta de Contador. Elementos da Guardia Civil foram destacados para, ao longo do camião, estabelecerem um perímetro de segurança, colocando baias e deixando Alberto Contador e os seus fãs e jornalistas a uma distância aconselhável.
Amontoados à espera para verem o astro do ciclismo sair, quem espera, sabe que antes do ritual da assinatura diária da prova (os ciclistas assinam o livro de ponto em cada uma das etapas) e das primeiras pedaladas para a zona de partida, existe a possibilidade de alcançá-lo, de o ver de perto, pedir um autógrafo, tentar uma selfie, tocar-lhe ou mesmo beijá-lo.
Matt Rendell, assessor de imprensa da Trek-Segafrego, sorri quando lhe perguntamos a razão de todo aquele aparato. “É simples. Temos o (Alberto) Contador, é a última corrida da carreira e todos querem estar perto dele”, resume. “Tudo o que disse antes não tem aplicação na realidade. Já vais ver a loucura à volta”, prometeu.
À medida que o relógio avançava para a hora indicada para a partida, chegava cada vez mais gente ao espaço que se ia tornando exíguo. O público gritava “Contador, Contador…”. Duas japonesas, coladas à parte da frente do autocarro, desfraldam uma bandeira. Em destaque o nome Contador, com direito à assinatura do próprio e uma frase “Soy apoyador de ti, para siempre” (sou tua apoiante, para sempre).
A bicicleta de cor cinzenta, diferente da demais da equipa (de cor encarnada), com o número 1 (a organização da prova homenageou Contador entregando-lhe o dorsal 1, número reservado aos vencedores da edição anterior), colocada à porta do autocarro, assim como a presença do massagista particular (Jacinto, de seu nome) indicavam que a estrela espanhola estava prestes a descer os degraus para contactar com o povo que o esperava ansiosamente.
“Contador é um Deus nacional”
“Contador é um Deus nacional. Toca nas pessoas e estas ficam melhores”, solta com humor britânico o assessor de imprensa que se estreia no contacto com este mediatismo, embora já tivesse presenciado esta “loucura” à volta do “El Pistolero”, em especial em Espanha e França durante os anos em que foi jornalista e que acompanhou as provas.
No momento da aparição do ciclista de Madrid, o público que o espera vive uma quase catarse coletiva (imagine-se como será na capital espanhola quando terminar a prova). Braços no ar, gritam pelo nome. “Contador, aqui, Contador”, exclamam enquanto o artista das duas rodas permanece segundos (que parecem minutos) debaixo do toldo à conversa com o massagista, elementos da equipa que lhe dão para a mão a bicicleta e com dois mecânicos de outras equipas que, afortunadamente, estão ali numa zona de quase impossível acesso. Pelo menos para o comum dos mortais.
Tirada a primeira selfie (com os tais felizardos), monta na bicicleta, desloca-se para a direita, com o camião nas suas costas, sorri, troca afetos com os fãs, toca-lhes ligeiramente, há demasiados pedidos para fotografias e autógrafos. Houve quem tentasse colocar a mão por cima do pescoço, o que foi de imediato travado.
Percorre pausadamente cerca de três metros e recua para uma zona de conforto, em frente à porta do autocarro, para desespero das centenas que o esperavam só para terem os tais segundos a “sós”. Alberto Contador sai, pela parte da frente do autocarro, como se fosse a “porta dos fundos”, pedalando, por uma zona paralela e secundária à rua onde desfila o resto das equipas. Sai acompanhado por um grupo de polícias que o levam à tal zona reservada aos ciclistas para assinarem a presença na etapa e, seguirem, de seguida, para a zona de partida.
Andaluzia grita pela última vez o nome do “El Pistolero"
Ao longo dos 129 quilómetros, a sua passagem não deixa ninguém indiferente. Quem se deslocou, em especial a Granada e ao longo da subida até à Serra Nevada, viu as mensagens de apoio ao ciclista madrileno. No Alto Hoya de la Mora, local da meta, espectadores, acicatados pelos comentários do speaker de serviço, fixavam o olhar nos plasmas gigantes quando Contador, a cerca de 27 quilómetros da meta liderou um grupo perseguidor a Adam Yates que seguia um minuto à frente. Cada vez que o seu nome era pronunciado ouvia-se um burburinho que antecipava uma possível vitória. Tal não sucedeu.
Alberto Contador, que à medida que se aproximava da meta escutava os últimos gritos e aplausos de incentivo em terras de Andaluzia, não conseguiu subir ao pódio, e caiu um lugar na classificação geral, onde é nono classificado. Esse dado estatístico não impediu jornalistas e fãs de correrem uns metros acima da linha de chegada atrás da camisola vermelha da Trek-Segafrego com o dorsal 1.
Cercado por jornalistas, numa flash interview “de tudo ao monte e fé em Deus”, respondeu a algumas perguntas. “Desfruto correndo, sou assim”, afirmou. Desceu para a zona de entrevistas acompanhado do seu massagista, foi quase “atropelado” por fãs, para uma selfie e para “darem” um beijo a quem consideram como divino.
* Os jornalistas viajaram a convite do Eurosport
Comentários