A questão é que a Fórmula 1 (F1) é atualmente dominada por uma equipa a um nível que nunca se tinha visto — nem mesmo em outras épocas, como aconteceu com a McLaren no final dos anos 80/início dos 90 ou a Ferrari no início deste milénio.

São já seis temporadas seguidas em que a Mercedes termina como Campeã do Mundo de Construtores e que um piloto da Mercedes se torna também campeão (Hamilton cinco vezes, Rosberg uma vez, em 2016).

E não só se vê um claro domínio de uma equipa, como também se vê que a qualidade das corridas está a diminuir, com poucas ultrapassagens, apesar de medidas como pneus com menos durabilidade ou auxiliares de ultrapassagem (DRS).

O certo é que a F1 gosta de se reinventar e, tal como a atual geração de monolugares que surgiu em 2014, em 2021 irá surgir uma nova versão, com novas regras, pelo que há muito pelo qual podemos ficar expectantes.

Para começar, vai haver uma revolução a nível aerodinâmico que irá fazer com que os carros sejam francamente diferentes. É que depois de, em 2017, se ter tentado que os carros ganhassem um aspeto mais agressivo, 2021 vai levar isso a um novo extremo. Os carros vão ter uma revisão que os fará menos dependentes das asas dianteiras e traseira, e mais dependente do fundo e difusor.

Estas mudanças vão ser criadas não só para tornar os carros mais agradáveis à vista, mas também para ajudar a melhorar o espetáculo. Os novos monolugares serão perfeitos para isso porque vão permitir criar carros aerodinamicamente mais eficazes, com menos criação de turbulência para os carros seguintes — o que vai permitir muitas mais lutas em pista.

Com efeitos de solo e menos dependência nas asas dianteiras, os carros serão apenas 15% menos eficazes, ao contrário dos atuais, que serão pelo menos 50% menos eficazes. Isso vai fazer com que não só haja mais ação em pista, como também vai obrigar os pilotos a terem de elevar o seu nível — e não ficarem dependentes de ultrapassagens fáceis ou apenas com o auxílio do DRS. Com isto pode ser que a vontade de vencer dos pilotos volte a ser o que separa os bons dos melhores.

Claro que, para ser o melhor, também é preciso ter o melhor equipamento — o que levava muitas equipas a gastar "rios de dinheiro" para vencer. Em 2021, no entanto, isso não será possível. As novas medidas ditam uma introdução de um orçamento transversal a todas as equipas, limitando assim os gastos que poderão fazer durante a temporada. O segredo será saber onde utilizar os recursos financeiros.

Será a primeira vez que algo desse género será implementado, o que fará deste regulamento a maior mudança de sempre na F1. A ideia é que as equipas fiquem em pé de igualdade, impedindo as mais ricas e com mais recursos de simplesmente gastar mais do que as mais pequenas. Além disso, a ideia também passa por tornar a F1 um desporto menos elitista, atraindo assim novas equipas ao pelotão. Tudo isto sobre o ar atento da FIA.

Também irá ser implementado um modelo com mais peças universais, como protetores das rodas ou a bomba de combustível. Desta forma haverá mais limite de componentes e menos sobrecarga nas equipas, que já não têm de desenhar tantas peças. A FIA também promete que irá prestar ainda mais atenção aos pilotos, equipas e fãs.

Em suma, as ideias parecem ser todas bem pensadas e intencionadas, em prol do espetáculo da F1. Depois de uma era onde o domínio tem sido constante, a F1 parece saber exatamente qual o caminho certo a tomar. 2021 pode bem vir a ser a maior mudança que a F1 já enfrentou, mas uma que bem precisa, e uma pela qual mal se pode esperar.