Apenas se ouve um pequeno burburinho, mas já se sente a tensão a crescer.

É mais um domingo de Verão. No Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, Rússia e Bélgica definem quem ficará com a medalha de bronze neste Campeonato da Europa de Sub 20 Divisão B. Apesar de estarmos a falar de uma partida entre duas equipas com enorme talento, as bancadas estão despidas, sendo que aos poucos vão chegando pessoas para marcar lugar para o apogeu desta competição.

Matosinhos, uma cidade à beira mar e quartel geral, tem sido a casa de alguns dos maiores recentes feitos portugueses na modalidade, sendo que em 2015 a seleção Sub 16 feminina protagonizou o maior feito histórico ao conquistar a medalha de prata na Divisão A, a melhor classificação de sempre da nação em competições jovens da FIBA.

E com os minutos a passar, a pressão vai acumulando, ou não fosse Portugal disputar uma final europeia masculina, algo inédito desde o ano 2005, em que conseguiu a promoção à Divisão A — apesar de uma derrota frente a Alemanha na final.

Nos corredores do pavilhão começam a surgir caras conhecidas da modalidade, olheiros das melhores faculdades norte-americanas, mas, sobretudo, amantes do basquetebol de várias gerações. Avós e netos trajados a rigor, famílias completas com camisolas de Portugal e alguns mais ilustres tentando passar despercebidos entre os adeptos mais comuns do basquetebol, mas que são os que mais contribuem para o sucesso deste no país.

As conversas e preocupações estão neste momento focadas em Neemias Queta, um dos guerreiros desta seleção. O jovem português de 2,11m, é, sem dúvida, o maior símbolo atual da modalidade, depois da sua ascensão acutilante na universidade de Utah State e na NCAA, o que o colocou nas bocas do mundo como uma possível escolha para a NBA.

Mas na partida mais importante da sua ainda curta carreira, este não poderá dar o seu contributo devido a uma lesão — que se viria a saber ser uma entorse no joelho — que o deixaria de fora.

Falta cerca de uma hora para a partida iniciar. Ainda em campo, russos e belgas disputam uma medalha de bronze, que na verdade sabe de pouco porque o objetivo destas seleções era a promoção à divisão de elite, algo que apenas Portugal e República Checa conseguiram, depois de vitórias nas meias finais.

O CDC Matosinhos tem capacidade para 4000 pessoas, e por esta altura, todos saberíamos que viria a ser insuficiente para acomodar aqueles que queriam presenciar mais um momento alto no palco de todos os sonhos.

Em conversas de bancada, a confiança está em alta, Portugal jogou frente a República Checa num jogo de preparação para esta mesma competição, tendo vencido de forma contundente por 103-65. Para além disso, os portugueses vêm de uma campanha imaculada, sendo que a vitória nas meias finais frente a um dos candidatos ao título, a seleção russa, projetava a nossa seleção para um título inédito.

Existiam algumas dúvidas sobre com os timoneiros desta seleção, o staff composto por André Martins, Sérgio Ramos e João Costeira, iria adaptar a ausência interior de Queta, mas a confiança sentia-se no aquecimento dos jogadores e em toda a seriedade à volta das quatros linhas.

Como é habitual em competições de seleções, com apenas alguns minutos para iniciar o encontro, as duas equipas perfilaram-se para entoar os hinos nacionais, e seguiu-se um momento que ficará para a história do basquetebol português: quase 5000 pessoas, entre lugares sentados e de improviso, seja em escadas ou em pé nos corredores, ouviram e cantaram A Portuguesa de mão ao peito e com a grande emoção. Viram-se pessoas a chorar, crianças que só daqui a um par de anos terão noção do momento que presenciaram e adultos que nunca pensaram que Portugal chegaria a este nível. Unidos na mensagem de que juntos somos mais fortes e que a “Locomotiva portuguesa” só pararia no título.

Portugal foi mesmo isso durante toda a competição, uma “locomotiva”: A capacidade defensiva acima da média, o querer em cada bola disputada e o talento inato a nível ofensivo dos doze atletas que compuseram este conjunto suportado por uma nação que, por apenas alguns momentos, encarou esta modalidade como tudo menos amadora, foi a mistura perfeita.

Chegou por fim o momento da glória: Henrique Barros, o capitão deste conjunto, e Vit Krejci, a estrela do basquetebol checa, disputam a bola ao ar para iniciar a partida e a partir daqui o resto é história... A história mais bonita de sempre, do basquetebol português.

Voltamos para a elite do basquetebol com a promoção a Divisão A europeia, onde sempre devemos ambicionar estar. Se será fácil? Claro que não. Mas só a competir contra os melhores, poderemos, naturalmente, ser um deles.

O nosso país mostrou mais uma vez que não vivemos de nostalgia. O “estivemos quase” não chega para esta geração, o “na minha altura é que era” está a ser reposto pelo “o futuro é brilhante e temos de continuar a trabalhar”, mas, sobretudo, continuamos a combater o complexo de inferioridade que muitas vezes é o nosso maior inimigo, muito além dos adversários que enfrentamos.

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