O que realmente são os seven-a-side?
Antes de mais, para o leitor que não está habituado ao rugby explicamos o que são os 7's, qual o seu contexto desportivo e a sua importância para países como Portugal (para os mais conhecedores que não queiram ler algo que já sabem, convidamos a passar para o 8.º parágrafo).
7's é uma variante do rugby, mas ao invés de termos 15 jogadores de cada lado dentro das quatro-linhas, temos 7 para 7 com mais 7 no banco de suplentes. Ou seja, os jogadores participantes vão ter de correr mais, o "pulmão" tem de se dividir em vários, entrando não tanto a exigência da colisão física das placagens consecutivas, mas sim do poder de explosão, o aguentar o mesmo ritmo e intensidade, para além da concentração ter de ser superior. São 14 minutos (menos 66 que um jogo de 15) de total entrega e sacrifício, mas que alimentam uma magia e fantasia muito própria desta variante.
É nos 7's que se veem os melhores offloads (passes feitos no limiar da queda ou quando um jogador está já aparentemente agarrado pelo placador), os sprints mais loucos e sensacionais (parem de ler neste momento e vão até ao YouTube... pesquisem por Perry Baker ou Carlin Isles e apreciem dois dos maiores sprinters de sempre) e ensaios completamente loucos.
É uma variante do rugby rápida e emocionante porque está munida de constantes pormenores ofensivos ou defensivos de extraordinário relevo, e é valiosa para dinamizar a cultura do desporto em países onde este tem menor expressão.
Já sabemos o número de jogadores, as regras (a formação-ordenada, ou para quem não está tão familiarizado com o termo, é aquele aglomerado de jogadores sendo que nos 7's é só de 3 para 3), o tempo de cada encontro, passamos agora para o seu contexto e o porquê de ser importante para Portugal.
Os 7's nasceram há algumas décadas atrás, mas só a partir do final dos anos 90 é que se começou a olhar para esta variante com outra seriedade.
Os Hong Kong 7's (torneio que Portugal integrou como convidado este ano) foi o 1.º grande torneio a surgir no calendário mundial da variante, tendo começado em 1976. Todavia, por respeito ao "pai-fundador", é importante relembrar que foram os escoceses a alimentar a variante com vários torneios a decorrer durante os anos 80 e 90.
Ainda assim, nenhum torneio tinha uma "rede" internacional una que permitisse a variante catapultar-se para outro patamar, apesar da insistência dos Hong Kong 7's. Por exemplo, a World Rugby (na altura IRB) congeminou um plano e formulou uma liga mundial anual de 7's, conhecida por 7's World Series, reunindo as melhores seleções do Mundo num super torneio.
7's World Series, a pérola do rugby
Inicialmente, com várias seleções participantes (Portugal só participaria a partir da 2.ª edição do torneio em 2000), a Nova Zelândia dominou quase por completo a competição, numa Liga Mundial com mais de 10 torneios anuais, criando um frenesim extraordinário para a modalidade.
Foi na altura o maior e melhor veículo para plantar as "sementes" do rugby em diversos países, uma vez que não exigia um esforço financeiro tão grande, para além de ser fácil de promover e ensinar a nível escolar.
De lá para cá, os World Series foram "comprados" a nível de naming pela HSBC, evoluindo cada vez mais e de uma forma sensacional, sendo que facilmente qualquer pessoa pode assistir em direto ao torneio, passado em direto no Facebook e YouTube.
Quénia, Papua Nova Guiné, Uganda, Coreia do Sul, Chile ou Hong Kong são claros exemplos de seleções que no rugby de quinze não têm grandes hipóteses de atingir sequer uma dimensão média, mas já tiveram as suas primeiras experiências no Circuito Mundial, tocando no "sol". O caso do Quénia é ímpar, uma vez que se afirmou no contexto dos 7's World Series, com já algumas conquistas conseguidas nas principais competições.
Neste momento, os 7's a nível dos World Series são jogados em 10 etapas, cada uma delas com duração de um fim de semana, resultando quatro "campeões" por torneio: Cup, Plate Bowl e Shield (ordenadas por grau de importância). Mas e no resto do Mundo?
Os World Series não são para todos, uma vez que só existem neste momento 15 equipas residentes, com convites oferecidos a algumas seleções e dependendo do torneio (caso de Portugal nos Hong Kong 7's em 2019). E os outros todos, ficam parados o ano inteiro? Para além das competições continentais de apuramento para os Hong Kong 7's Qualifiers (que dão acesso direto aos World Series) existe uma série de outros torneios de elevada categoria, como o OKTOBERFEST 7s (Alemanha), Punta Del Este 7's (Uruguai) ou Kenya 7's (Quénia).
E chegamos ao ponto importante deste artigo: e Portugal? No território luso existiu durante largos anos o Lisbon 7's, um torneio que teve algumas das melhores equipas e seleções da variante a jogar. Depois de anos de sucesso, em que teve um crescimento e sucesso espetacular, o Lisbon 7’s desapareceu e só voltou a existir um verdadeiro torneio da variante a partir de 2018 com o Algarve 7’.
Felizmente, e novamente por força e vontade da Sports Ventures, o maior torneio de seven-a-side de Lisboa está de regresso em 2019, realizado agora nos campos de rugby da Tapada no dia 1 e 2 de junho, em jeito de antecâmara para o que se vai passar em Vila Real de Santo António.
Lisbon 7's: o (re)início de uma cultura?
O ano de 2002 marcou a última edição do histórico Lisbon 7’s, que depois de vários anos de atividade e de ter conseguido trazer diversos atletas e equipas internacionais à capital portuguesa para jogar rugby, encerrou atividade, o que deixou um enorme vazio na variante em Portugal. Ironicamente, foi a partir desse ano que os Lobos começaram a fazer parte do Circuito Mundial Internacional de 7’s (o atual HSBC World Series).
E assim chegamos a 2019, com o retorno do Lisbon 7’s que não só vai promover um torneio internacional como albergará o Campeonato Nacional 1 da variante, sendo que no final do fim de semana será encontrado o Campeão desta divisão tanto dos femininos como masculinos, sendo esta a maior novidade deste regresso do torneio lisboeta.
No domingo o campeão português desta divisão é encontrado dependendo da classificação de cada uma das equipas, e é necessário um esforço e cuidado suplementar devido a outro pormenor: a participação de equipas estrangeiras.
Por exemplo, a seleção nacional de Hong Kong volta a visitar Portugal depois de ter participado no Algarve 7’s de 2018, o que ajuda a evidenciar a “costela” internacional destes torneios, algo que sempre foi muito típico da história do Lisbon 7’s.
Nomes como Pedro Leal, Vasco Ribeiro, Manuel Marta, Diogo Miranda, Fábio Conceição, Jorge Abecassis, Raffaele Storti (entre outros), marcarão presença como os jogadores mais notáveis da esfera dos 7’s nacionais, procurando estrear da melhor forma possível o retorno do Lisbon 7’s.
A realização do Lisbon 7’s (o local dos jogos é na Tapada da Ajuda, “casa” da AEIS Agronomia) tem então como primeiro objetivo recolocar a variante de regresso a Lisboa, servindo também como antecâmara ao Algarve 7’s que se joga no fim de semana seguinte.
Welcome to the sun... The Algarve 7's!
Sediado no Complexo Desportivo de Vila Real de Santo António, o torneio apareceu do nada, liderado pela Sports Ventures, empresa dedicada ao turismo desportivo com um ex-jogador do rugby português a fazer parte da direção do projeto: José Diogo Trigo de Moraes.
Em conjunto com a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, a Sports Ventures marcou em 2018 o reinício da atividade dos 7's em Portugal, que vivia massacrada por anos de torneios "vazios" e sem interesse da Federação Portuguesa de Rugby (de ano para ano foi-se reduzindo o número de etapas, até que em 2018 os campeões das 3 divisões eram apurados num só fim de semana...).
Rússia (na altura participava nas World Series), Hong Kong, New Zealand Metro, Alemanha, Portugal, Worcester Warriors, marcaram presença desde logo, para além de quase todas as equipas portuguesas tanto masculinas ou femininas, outro a aspeto de se realçar.
A competição de Women’s é vista como uma das melhores na Europa, ombreando com os 7’s da Flanders (no qual o SL Benfica conquistou por algumas ocasiões o título nessa competição), conseguindo trazer não só equipas de fora, mas garantindo um espetáculo imenso das formações nacionais, que não têm recebido o olhar devido pelos vários intervenientes do rugby português.
Com transmissão em direto na Sport TV(só as finais), Portugal voltou a estar assim no mapa das competições de 7's internacionais, conseguindo classificar-se como convidado para os Hong Kong 7's e tendo sido chamado a participar em dois torneios na América do Sul, onde obteve bons resultados.
Portugal pôde definitivamente experimentar e preparar-se devidamente para o Campeonato da Europa da variante, onde registou uma grande melhoria, não só em termos de qualidade de jogo como de resultados, conquistando uma espécie de "bilhete dourado" para marcar presente no maior torneio asiático de 7's, todavia sem possibilidade de promoção.
Mas a função do Algarve 7's vai muito para além de estimular a seleção nacional, trazer equipas de fora de forma esporádica ou acordar o passado recente da variante, consegue também mostrar aos turistas-desportivos que Portugal é a localização ideal para não só viajar, conhecer e saborear o país como para praticar o desporto que em casa praticam. Isto é: criar uma experiência desportiva única.
A Sports Ventures (SV) surgiu com esse foco e tem levado a cabo essa missão de abrir a cultura desportiva a outros "campos", de mostrar que o turismo em Portugal não se fica por descansar, conhecer monumentos e museus, mas também envolve equipas e clubes.
Ao trazer um evento desta dimensão ao Algarve, a esperança é incentivar o surgimento de novos clubes de rugby na região, que para já se fica pelo histórico RC Loulé (parceiro na organização do Algarve 7’s e que até fará um jogo de quinze frente a uma formação venezuelana) e o CR Universidade do Algarve.
Por outro lado, complexos desportivos e infraestruturas que não têm qualquer atividade durante a época baixa podem agora ver as suas instalações a funcionar nessa altura, rentabilizando-as.
Não sendo só o Algarve 7’s a única mostra de rugby de “sete” em Portugal — já que em 2018 e 2019 foram realizados dois torneios internacionais da variante também pela SV, que ficou agora responsável por organizar os torneios nacionais para os escalões de formação nos próximos anos — estes são uma espécie de pináculo máximo do melhor que a empresa e a modalidade em Portugal têm para oferecer, e não há dúvida alguma que funcionou como impulsionador turístico no último ano.
Mas como podemos classificar o Algarve 7's como o melhor torneio da variante da Península Ibérica?
Olhamos não só para o número de equipas e diferentes divisões que apresenta (são 4 divisões, para além dos torneios de Touch Rugby e veteranos, compondo mais de 40 equipas presentes no mesmo fim de semana), como para o impacto que tem não só em Vila Real de Santo António como em Portugal (criou logo a vontade de outros clubes quererem desenvolver os seus próprios torneios de 7's e equipas de fora a terem o desejo de visitar cada vez mais o espaço nacional) e para a dimensão internacional que atingiu (vários jogadores internacionais decidiram ingressar com uma equipa na competição, para além de revistas e jornais internacionais a darem destaque), equiparando-se ao Oktoberfest 7's, talvez o maior torneio invitational da Europa.
Não serão estes motivos suficientes para o Algarve 7's merecerem o estatuto de torneio de topo a nível mundial?
Para 2019 esperam-se ainda mais seleções e clubes de renome mundial, num torneio que é de livre acesso.
Marquem na agenda: dia 8 e 9 de junho, Vila Real de Santo António, 48 horas de rugby, experiências únicas e de um torneio que promete marcar o mundo do rugby de uma forma inesquecível e contínua. Estás pronto para fazer parte do maior torneio de rugby de Portugal e Península Ibérica?
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