O futebol norte-americano uniu-se no desafio ao presidente dos Estados Unidos Donald Trump, no domingo, dia 24, com jogadores, treinadores e proprietários a ajoelharem-se massivamente durante o hino nacional antes dos desafios da liga profissional da NFL.
Donald Trump desencadeou um autêntico alvoroço naquele que é considerado o desporto mais popular nos EUA, depois de atacar os jogadores que se recusaram a ficar de pé durante o hino, numa atitude simbólica para chamar a atenção para a injustiça racial que se vive país.
Os comentários do presidente norte-americano foram amplamente condenados pelos patrões das equipas da NFL — inclusive aqueles que o apoiaram durante a campanha eleitoral. A poucos dias da próxima jornada da NFL, que se realizará no domingo, dia 1, ainda não se sabe se os protestos do último fim de semana vão ganhar força ou se vão perder fôlego.
Alguns jogadores que se ajoelharam já vieram a público afirmar que não fazem intenção de repetir o protesto. Um desses atletas é Donald Penn, dos Oakland Raiders. O tackle afirmou que o seu protesto visava as declarações do líder da Casa Branca.
"Não o vou fazer na próxima semana", contou Penn aos jornalistas. "Já não o queria fazer esta semana. Isto tem tudo a ver com os comentários do presidente Trump".
Do outro lado da moeda, Rishard Matthews, wild-receiver dos Titans Tennessee, alega que se vai continuar a ajoelhar "até que o presidente peça desculpas".
Por seu turno, os Green Bay Packers pediram aos seus adeptos que façam uma corrente humana entrelaçando os braços na partida contra o Chicago Bears, por uma questão de solidariedade e para "demonstrar união".
Protestos sem significado
As diferentes mensagens criaram um debate sobre a eficácia destes protestos a longo prazo. Para alguns analistas, o significado das manifestações iniciadas pelo antigo Quarter-Back dos San Francisco 49ers, Colin Kaepernick, acabou por se perder.
Trump reformulou o debate como sendo uma questão de patriotismo, ao acusar os jogadores que optam por se ajoelhar como sendo alguém que está contra a nação e contra quem por ela luta além-fronteiras.
Orin Starn, professor de antropologia cultural da Universidade de Duke, que conta com várias publicações sobre desporto e a sociedade, vê nos protestos uma tradição de ativismo iniciada pelos atletas negros nos anos 60.
"Existe um fio que une Tommy Smith e John Carlos, em 1968, com o que vimos no domingo: os atletas negros usam o desporto para protestar contra a injustiça racial, para dizer aos Estados Unidos que não há ordem racional", disse Starn à Agence France-Presse (AFP).
Starn não está certo o quão efetivos serão os protestos da NFL a longo prazo — o que sugere que os pontos de vista diferentes registados na última jornada de guerras da cultura norte-americana permanecem profundamente arraigados.
"Sendo um tema tão importante para a cultura norte-americana como é o racismo e a brutalidade policial, as pessoas já criaram as suas opiniões", disse Starn. "Duvido que muitas cabeças tenham mudado de uma maneira ou de outra por causa quer por aquilo que se passou este fim de semana, quer pelo bravo protesto inicial de Kaepernick", explicou.
"Este é um país dividido: uma parte pensa que muitas oportunidades foram dadas aos afro-americanos, enquanto a outra, um grande segmento dos Estamos Unidos, pensa que temos problemas reais com o racismo e a brutalidade policial e quer fazer algo a esse respeito. Mas, para mim, não é claro que o 'status quo' esteja a mudar", acrescentou Starn.
Próximo passo
Mary-Frances Winters, que dirige uma consultoria especializada em programas de diversidade e inclusão social, a "The Winters Group", elogiou estes protestos simbólicos.
"Só que, agora, é preciso dar o próximo passo", disse Winters à AFP. "As pessoas precisam de se sentar e ter um diálogo adequado. Quando se olha para a história, as pessoas que protestam com frequência são perseguidas. E não são vistas de maneira diferente depois de 50 anos", contou.
No entanto, Winters concordou que o ponto do protesto original de Kaepernick foi esquecido. O quarterback posicionou-se em resposta aos assassinatos, de homens negros desarmados, por parte da polícia, cujos autores dos crimes ou não foram punidos ou foram condenados com penas leves.
"Existe um mal entendido sobre o que se trata", avaliou. "Não se trata da bandeira, não se trata do hino, mas das desigualdades raciais", concluiu Winters.
Por: Rob Woollard /AFP
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