22 de janeiro de 2005. O Benfica, comandado pela Velha Raposa Giovanni Trapattoni, acaba de ser derrotado pelo Beira-Mar em pleno Estádio da Luz, fruto de um bis de um tal de Santiago “Tanque” Silva – o clube aveirense acabaria por descer de divisão nesse ano, apesar dos oito golos do seu “Tanque”. Mas não dispersemos. Depois da derrota, os comandados de Trap encontram-se no 5.º lugar do campeonato (ainda que a apenas três pontos do primeiro classificado) e a criatividade do seu meio-campo tem vindo a ressentir-se.
Sim, já sei que foi o ano de estreia de Manuel Fernandes, então a despontar na alta roda do futebol. E sim, Petit fez uma das melhores épocas da carreira e era um dos motores do meio-campo benfiquista. Mas as despesas do ataque exigiam mais do que um Zahovic com 33 anos que foi uma opção a espaços (e que acabou por sair da Luz em janeiro), de um Everson (quem? Everson Pereira da Silva, médio canhoto que depois de duas boas épocas no Nice chegou à Luz sem nunca convencer) que só fez cinco jogos, ou de Bruno Aguiar que, não obstante os 30 jogos nessa época, não era um jogador tão exuberante ofensivamente como provou mais tarde no Hearts escocês.
Assim, as atenções viraram-se para Nuno Assis, pequeno genial que tinha marcado cinco golos em 15 jogos pelo Vitória minhoto e que chegou às águias em janeiro acompanhado do defesa-central André Luis e do avançado Delibasic. Os dois últimos tiveram pouco impacto na equipa (somaram apenas sete jogos no conjunto), mas tal não sucedeu com o médio-ofensivo formado no Sporting CP mas que nunca jogou pelos leões em seniores (somou empréstimos a Lourinhanense, Alverca e Gil Vicente até sair em definitivo para Guimarães).
A estreia de Nuno Assis aconteceu dias depois de assinar, em Moreira de Cónegos, e logo com um golo que se revelou decisivo (a turma de Trapattoni venceu por 2-1, sendo o outro tento das águias marcado por outro Nuno, o Gomes).
Depois disso, pegou de estaca e até final da época fez mais 19 jogos e marcou mais dois golos pelo clube da Luz, sendo peça decisiva na caminhada das águias a um dos títulos mais disputados, marcantes e polémicos do futebol português. Se Simão foi fundamental pelos seus 15 golos, se Pedro Mantorras foi talismã pelos seus cinco tentos que valeram pontos (numéricos e, acima de tudo, anímicos), Nuno Assis foi a arma secreta de Trapattoni para a segunda metade da época e o baluarte ofensivo benfiquista, formando com Petit e Manuel Fernandes o trio de um meio-campo campeão.
12 anos depois, o país voltou a pintar-se de vermelho, o Sporting CP de José Peseiro passou aquelas que, até aos acontecimentos de Alcochete no ano passado, eram por muitos consideradas as piores duas semanas do universo sportinguista (derrota por 1-0 na Luz, na penúltima jornada, que arredou os leões do título num campeonato que lideravam até então, e derrota na final da então Taça UEFA, em Alvalade, frente ao CSKA de Moscovo) e Trapattoni venceu um campeonato no terceiro país diferente (depois de Itália e Alemanha, o título em Portugal seria ainda seguido por um na Áustria, ao serviço do Salzburgo).
Quanto a Nuno Assis, permaneceu mais três épocas na Luz (com uma suspensão de um ano pelo meio, por doping) até voltar a Guimarães, numa carreira que passou ainda pelo Al Ittihad da Arábia Saudita e que terminou no Omonia, do Chipre, em 2016.
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