Emiliano Sala morreu em 21 de janeiro de 2019, com 28 anos, quando o avião que o transportava, pilotado pelo britânico David Ibbotson, caiu no Canal da Mancha, numa altura em que o jogador se encontrava em trânsito dos franceses do Nantes para o País de Gales, para assinar pelo Cardiff.

A investigação do Departamento de Investigação de Acidentes de Aeronaves do Reino Unido (AAIB) revelou que Ibbotson perdeu o controlo da aeronave ao curvar, o que era o “mais provável" de acontecer por o voo "não ter sido realizado de acordo com os padrões de segurança aplicáveis a uma operação comercial”.

Segundo a AAIB, David Ibbotson, de 58 anos, não tinha treino prévio para voar à noite e a sua licença SEP, que lhe permitia pilotar um avião monomotor, tinha expirado três meses antes do acidente. Além disso, o piloto foi pago pela viagem, algo para o qual também não estava autorizado pela sua licença.

A mesma investigação avança que a aeronave em que o jogador argentino Emiliano Sala faleceu se partiu em dois quando o piloto perdeu o controlo, enquanto voava em excesso de velocidade para tentar escapar do mau tempo.

"O piloto perdeu o controlo da aeronave durante um giro de voo manual, que provavelmente se iniciou para recuperar visibilidade devido às condições meteorológicas".

"Posteriormente, a aeronave partiu-se em voo enquanto manobrava a uma velocidade significativamente superior à velocidade de manobra para a qual foi concebida", conclui o estudo.

A investigação publicada hoje concluiu que Sala e Ibbotson “provavelmente” sofreram intoxicação por inalação de monóxido de carbono, na altura em que o avião mergulhava para o mar.

Fatores agravantes

A par destas conclusões foram apontadas agravantes: o piloto operava em "voo visual à noite em más condições meteorológicas, apesar de não ter uma formação em voos noturnos e faltava-lhe experiência em voos com instrumentos".

As inspeções realizadas nos destroços indicaram que "não havia nenhum detector ativo na aeronave que pudesse ter alertado o piloto da presença de CO a tempo para que tomasse medidas de mitigação [para evitar o risco de intoxicação por monóxido de carbono", concluiu o relatório.

O Cardiff comentou este relatório dizendo que "embora não estabeleça culpa ou responsabilidade, [o documento] planta uma série de novas questões que esperamos sejam abordadas durante a investigação judicial que será retomada na semana que vem".

Desde o acidente, e indo contra uma ordem da Fifa, o clube galês recusou-se a pagar o valor da transferência ao Nantes.

Enquanto o corpo de Sala foi recuperado semanas após o acidente, juntamente com a fuselagem do avião, Ibbotson nunca foi encontrado.

O jogador argentino tinha descolado da cidade francesa de Nantes, cujo clube defendia, para se juntar ao elenco do Cardiff galês, da Premier League inglesa e que tinha acabado de comprar o passe do atleta por 17 milhões de euros.

O falecimento de Sala comoveu ambos os clubes e diversas personalidades do futebol, que expressaram a sua solidariedade para com a família e ajudaram financeiramente a localizar os destroços, após as autoridades abandonarem as buscas.

Pouco depois da tragédia, os investigadores determinaram que o Piper PA-46 Malibu, registado nos Estados Unidos, não estava autorizado a operar voos comerciais.

O Cardiff garantiu ter oferecido um voo numa companhia aérea ao jogador, que recusou.

Ao invés disso, Willie McKay e seu filho Mark, designados pelo Nantes para concluir a transferência, organizaram o voo privado por intermédio do piloto britânico David Henderson.

A polícia britânica, que em junho deteve um homem identificado como Henderson, anunciou na quarta-feira (11) que as acusações de homicídio contra ele foram retiradas.

Na noite da tragédia, Sala havia expressado a amigos a sua preocupação com as condições da aeronave. "Estou aqui num avião que parece que se vai despedaçar e estou a caminho de Cardiff", disse o jogador em mensagem de voz reproduzida pela imprensa argentina.

A tragédia comoveu Progresso, a cidade natal de Sala, especialmente a família do jovem atacante.

A sua irmã, Romina, envolveu-se fortemente nas buscas pelos destroços da aeronave no Reino Unido. O golpe, porém, foi fatal para o seu pai, Horacio Sala, que morreu de enfarte três meses após o falecimento do filho.

*Com agências