No ano que passou escrevi vários artigos sobre o treinador francês. De ídolo a vilão I e De ídolo a vilão II foram textos que procuraram perceber a história e o respeito que “O Professor” nos merece. Mas posta essa premissa de parte, durante a época passada fui dizendo que estava a chegar a hora de ver partir Arsène Wenger. A saúda do francês, que dificilmente conseguiria dar a volta a uma situação que, valha a verdade, não começa nem acaba no treinador, poderia, ainda assim, resolver muitos dos problemas que o Arsenal vive neste momento.
Com um início de temporada prometedor, vencendo a Supertaça Inglesa, o início de Premier League tem sido, no mínimo, desastroso. É verdade que começou com uma vitória muito sofrida (4-3) frente ao Leicester, mas seguiram-se depois duas derrotas - 1-0 frente ao Stoke e um humilhante 4-0, frente ao Liverpool. As coisas não poderiam estar mais amargas para os adeptos do Arsenal. Ainda mais impressionante que o (mau) desempenho desportivo é a falta de reacção por parte dos responsáveis. Ser adepto do Arsenal nos dias que correm é, no mínimo, ingrato.
O caos técnico-tático
Comecemos pelo que é mais visível a "olho nu": o onze de Wenger no jogo com o Liverpool. São incompreensíveis algumas das escolhas do técnico francês para defrontar um dos mais diretos rivais. Depois de mais uma tímida janela de transferências, mas ainda assim com dois nomes de renome contratados, Arsène decide deixar no banco de suplentes ambas as aquisições. Não só não coloca Alexandre Lacazette na frente de ataque, como tendo um defesa esquerdo apto a fazer o corredor, Sead Kolasinac, opta por colocar Hector Bellerin, um defesa direito, nessa posição. No mínimo, bizarro.
Obviamente que não sabemos os motivos pelos quais os treinadores tomam algumas decisões, e na maioria das vezes não sabemos as restrições que técnicos e jogadores possam ter. Ainda assim, nenhuma indicação foi dada, nem antes nem depois da partida, e como tal assumimos a total disponibilidade dos atletas.
Não só a escolha de jogadores não foi a melhor, como a escolha do sistema tático também não o foi. Depois de um sucesso relativo no final da época passada utilizando um 3-5-2/3-4-3, Wenger decidiu, desde o primeiro jogo da temporada, assumir esse esquema tático. Resultado: um desastre. Não tenho por norma acusar treinadores pelo insucesso das equipas, porque sei o quão difícil é organizar a mesma. Ainda assim, contra factos não há argumentos, e o desempenho tático dos jogadores de Wenger foi desastroso.
Analisando o jogo, percebe-se um constante 3 (defesas) para 1 (atacante) do Arsenal no centro da defesa. Esta excessiva preocupação com Firmino levou a que os extremos do meio campo tomassem excessivas preocupações defensivas e, consequentemente, a que a equipa recuasse imenso no terreno. Desde logo, o Liverpool dominava a bola a seu belo prazer e uma pressão mínima era efectuada sobre os seus médios. Se logo à partida a estrutura e ideia da equipa estão mal montadas, tudo o resto desmorona.
Há imagens durante o jogo que nos levam a colocar as mãos na cabeça. Aaron Ramsey decide a certa altura abandonar a sua posição de médio defensivo e correr desenfreadamente nas costas da equipa adversária. Resultado? Após perda de bola do Arsenal, golo do Liverpool.
Outro, entre muitos exemplos, foi o erro, amador, a dar origem ao terceiro golo do Liverpool. Num canto a favor do Arsenal, a equipa deixa apenas Hector Bellerin como último homem. Ao sofrer oposição de Salah aquando da recepção de bola, o egípcio vê-se isolado por mais de 50 metros até finalizar na baliza de Petr Cech.
Com uma defesa constantemente com cinco elementos, o meio campo foi deixado ao abandono e o Liverpool fez gato-sapato do Arsenal. Atento esteve sempre Wenger, mas sem nunca alterar o esquema tático, pelo menos até ser tarde demais, acabou por nunca influenciar a prestação da equipa de forma positiva.
Paradigma Ox
A juntar-se às pouco convincentes escolhas técnicas já vistas, estão outras duas escolhas: Mustafi e Oxlade-Chamberlain. Se a ausência, ou presença no banco de suplentes, de Mustafi é menos polémica, uma vez que o alemão requisitou a sua saída ao clube londrino, a presença a titular, em todos os jogos do Arsenal esta época, por parte do internacional inglês Oxlade-Chamberlain é incompreensível. Colocar nas mãos, ou nos pés, de um jogador a responsabilidade de lutar pela equipa, sabendo que este tem vontade de a abandonar, não acontece em mais lado nenhum a não ser no Arsenal de Arsène Wenger. É uma espécie de "paradigma Ox" (Ox é a alcunha do jogador inglês).
O "paradigma Ox" parece ditar toda a ilusão vivida dentro do Arsenal. Chamberlain recusou há apenas uma semana um contrato de cento e oitenta mil libras semanais para renovar com o Arsenal. Isso, por si só, não pode ser novidade para a direção dos Gunners, uma vez que já existiam rumores de que o jogador queria sair do clube. (Recorde-se que tanto Ox, como Alexis Sánchez, como Mesut Özil entraram agora no seu último ano de contrato com o Arsenal.) Ox não só se recusou a assinar um novo contrato, como decidiu sair do clube, aceitando uma proposta salarial do Liverpool muito inferior à oferecida há uma semana e rumando a Anfield no último dia do mercado de transferência do verão.
Todo este "filme" em redor da falta de aquisições, e principalmente em torno de jogadores a quererem abandonar o "navio arsenalista", é extremamente humilhante para um clube que se diz candidato ao título, com receitas dentro do top 3 em Inglaterra e cujos bilhetes de época são caríssimos e raros de conseguir. Todo este paradigma é o baixar da fasquia de um clube de topo, para um clube de meio da tabela.
Depois de, no final da temporada passada, não ceder à pressão para sair, Wenger assinou um novo contrato de dois anos, recebeu um aumento salarial de dois milhões de libras anuais, e com apenas três jornadas jogadas a crise está mais uma vez instalada.
Para além disso, a apatia do clube na janela de transferências é exasperante. Estando o Arsenal pronto a jogar a Europa League este ano, o baixar da fasquia parece ser uma realidade. E sem uma atitude radical, não haverão mudanças visíveis no clube. O paradigma Ox representa o inicio do fim de um era.
Por fim, e depois do fecho do mercado de transferência, de notar que o Arsenal, após compras e vendas de jogadores, acabou com um saldo positivo. Sendo os londrinos, a par do Manchester United, as organizações com mais dinheiro em caixa, é incompreensível para os adeptos a falta de motivação financeira dada ao clube pelo homem forte do Arsenal, Stanley Kroenke.
É evidente um claro desinvestimento na equipa.
Acompanhemos, então, este Arsenal, e olhemos para as opções técnicas e táticas de Wenger com atenção, porque entusiasmo e emoção não vai faltar a mais uma época do francês ao comando dos Gunners.
Esta semana a Premier League "descansa", mas para a semana está de regresso e emoção não faltará. Por fim, agradecer a todos os que se inscreveram, e continuam a inscrever, na nossa Liga SAPO24 da Fantasy Premier League. O número passou em grande parte as nossas expectativas. A todos, boa sorte.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra, passou por clubes como o MK Dons e o Luton Town, e também pela Federação Inglesa, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24. E não se esqueça que poderá sempre juntar-se à nossa liga SAPO 24 na Fantasy Premier League. O código de acesso é o 3046190-707247.
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