Quente. Cálido. Ardente. A escaldar. Assim se espera o ambiente em pleno Estádio da Luz, esta quarta-feira, cerca das 21h30, apesar das notícias sugerirem que as temperaturas se prepararam para chegar aos 10 graus em alguns pontos do país. Porém, ainda que assim seja, há duas coisas certas: vai poder acompanhar ao minuto todas as incidências do encontro entre Benfica e Sporting no SAPO24 e vai haver muita correria na disputa pelos três pontos, visto que ninguém quer ceder terreno para os rivais.
Não é difícil antever porquê. Afinal, o trio da frente joga na mesma noite e os lugares cimeiros podem conhecer alterações, mediante certos resultados. O Benfica procura encurtar distâncias, o Sporting reforçar o estatuto à corrida ao título na casa do rival e o FC Porto quer proclamar a independência na liderança.
Do ponto visto encarnado, as contas são simples de fazer: jogam em casa e não querem deixar escalar a distância pontual para os dois da frente (que estão em fuga e ameaçam descolar do pelotão), naquela que é a única competição que ainda podem ganhar. Não tem sido normal nos últimos tempos, mas é a realidade em que vive atualmente a nação benfiquista. Para isso, basta recordar aquilo que foi feito durante a corrente temporada: as águias estão a competir em apenas uma frente, depois do 'adeus' à Liga dos Campeões, Taça de Portugal e Taça da Liga. No entanto, ainda que assim seja, Rui Vitória acredita que o futebol de previsível não tem nada e que os três pontos podem pender para qualquer lado.
"Não penso nas consequências dos jogos antes de os jogar. Não se consegue prever as coisas no futebol. A onda benfiquista quando começa a rolar é muito difícil travar. Se olharmos o ‘se’ de forma negativa, também podemos olhar para o ‘se’ de forma positiva. Não é fácil jogar aqui. Amanhã [quarta-feira] há um jogo com uma belíssima equipa, uma equipa de qualidade. Temos capacidade para ganhar, como o adversário tem capacidade para nos vencer", rematou durante a antevisão.
Na outra face da moeda, os leões querem ultrapassar ou, pelo menos, não deixar o dragão fugir. E não só. Há também uma equação a resolver numa variável a três jogos. "Na Luz ganhei uma, perdi outra e amanhã é o desempate", disse Jorge Jesus, técnico do Sporting.
No entanto, apesar do dérbi se disputar na Luz, as atenções também vão estar focadas naquilo que se vai passar em Santa Maria da Feira, na receção do Feirense ao FC Porto. Mediante o resultado dos azuis e brancos, também poderão acontecer mudanças na liderança da I Liga. Dragões e leões somam 39 pontos, ocupando a 1.ª e 2.ª posição, respetivamente; já as águias ocupam o terceiro posto, com menos três, ou seja, 36.
A estreia do 4x3x3 de Rui Vitória num dérbi
Os treinadores já se conhecem, as equipas, apesar das entradas e saídas de alguns elementos, também, mas há um fator importante que faz a sua "estreia" neste dérbi lisboeta: o novo modelo de jogo implementado por Rui Vitória.
Analisa o Goal Point (GP) que, desde que o técnico das águias adotou a nova formação, os encarnados têm mais qualidade no último terço. Isto é, ainda que o número de ocasiões flagrantes sejam quase idênticas, a percentagem de conversão para golo quase que dobrou. A estatística revela também que, com três elementos no meio-campo, a equipa faz mais desarmes. Quanto ao resto, os números são virtualmente idênticos aos da tática que fez limar o sucesso na Luz nos últimos anos, o 4x4x2, uma herança pesada do sucesso de Jesus durante os seis anos que esteve à frente do clube.
Em dezembro, no Dragão, diante o FC Porto, o GP relembra que, apesar do Benfica ter feito menos de metade dos remates do adversário, a equipa de Rui Vitória executou 5 dos seus 7 dentro da grande área.
A mudança definitiva de sistema deu-se na Cidade do Berço, em Guimarães, onde o Benfica se apresentou em 4x3x3 na vitória por 1-3. A exibição foi francamente positiva, vincando uma filosofia mais conservadora, ponderada e que demonstra uma nova apreciação pelo papel dos seus criativos (Krovinovic e Pizzi) em campo. Na ótica do treinador ribatejano, estes devem pressionar alto, mas, mais importante, devem fantasiar e servir os colegas. No fundo, deu-lhes liberdade. Isto porque Fesja está de pedra e cal no vértice mais recuado do triângulo do meio-campo, a cobrir espaços, a ler o ataque adversário e a desarmar quando tem essa possibilidade. No ataque, Jonas recua para ajudar na organização ofensiva e Salvio aproveita para atacar em profundidade, como lhe é natural, estando muitas vezes na zona de finalização.
Esta deverá ser a principal novidade no jogo desta noite. A par de Rúben Dias, caso Rui Vitória queira lançar o defesa central para a sua estreia (pela equipa principal) num dérbi. Para a Taça de Portugal, na eliminação frente ao Rio Ave, Luisão saiu lesionado e o timoneiro encarnado foi obrigado a mexer e cedeu o seu lugar ao argentino Lisandro Lopez. No entanto, nos últimos dois jogos, ambos para a Taça da Liga, o jovem de 20 anos, recuperado também ele de uma lesão, assumiu a titularidade, jogando os 180’ e marcando um golo.
O golo de Dost, o talento de Bruno Fernandes e a permeabilidade defensiva dos encarnados
Um dos problemas do Benfica este ano reside na defesa. A falta de opções para o setor recuado tem sido um dos tópicos mais visados entre os críticos de Rui Vitória e da estrutura das águias, que não conseguiu arranjar soluções (internas ou no mercado) que garantissem o mesmo rendimento que Nelson Semedo, Ederson ou Lindelof atingiram na época passada.
Prova disso são os recentes seis jogos do coletivo encarnado sempre a sofrer golos. A última vez que tal não aconteceu foi no Estádio do Dragão, a 1 de dezembro, num empate a zero. De lá para cá, sofreu sempre um ou mais golos: Basileia (2), Estoril (1), Rio Ave (3), Tondela (1), Portimonense (2) e Vitória de Setúbal (2). Desde 2013/2014, ainda sob a batuta de Jesus, que tal não acontecia.
Não será estranho, portanto, assumir que os leões queiram tirar partido desta fragilidade do jogo benfiquista. Grimaldo, caso se confirme a sua a titularidade momentos antes do apito inicial, ou Eliseu, caso o espanhol não esteja em condições, terá pela frente um Acuña empenhado em servir o seu cliente habitual nestas andanças; até ao momento, para o campeonato, já o fez por 5 vezes, sendo certo que vai tentar cruzar bolas para o avançado que mais marcou de cabeça na Europa em 2017: Bas Dost. O holandês fez da sua testa a arma letal para fazer 13 golos na liga, algo que não acontece por mero acaso e que Jesus quererá certamente tirar partido.
Mais: a eficácia do Sporting no momento golo está bem apurada nesta nova temporada. De acordo com o Goal Point, o “Sporting é a equipa mais eficaz da Liga e uma das mais eficazes da Europa, ao concretizar 18% dos seus remates”.
Será também impossível dissociar a boa época leonina do bom desempenho de Bruno Fernandes. O português, resgatado no verão à Sampdoria, tem-se revelado instrumental no meio-campo a três utilizado por Jorge Jesus nas deslocações/jogos mais complicados no calendário do Sporting. Ninguém remata mais, nem enquadra melhor os seus remates, do que ele; assim como também é dos seus pés que saem, nas contas do Goal Point, não só a maior percentagem de livres enquadrados, mas também o maior número de passes para finalização entre todos os leões. A chave de um resultado positivo dos comandados de Jesus na Luz passará muito por aquilo que o médio poderá ou não fazer.
Onzes prováveis
A equipa leonina tem demonstrado estofo e apresentado um futebol de qualidade durante esta temporada. E, até ao momento, em jogos de grau de dificuldade mais elevado, apresentou sempre um modelo de jogo em que o técnico opta por tirar Podence do onze, sobe Bruno Fernandes no terreno e reforça o meio-campo com músculo, poder aéreo e pressão com a entrada de Battaglia no miolo, em semelhança ao que aconteceu nos jogos da Liga dos Campeões e frente ao FC Porto. Esta quarta-feira, no Estádio da Luz, não deverá ser diferente.
Por seu turno, o Benfica deverá apresentar apenas alterações no eixo mais recuado, sendo que Luisão é certo e sabido que é carta fora do baralho. Resta a dúvida sobre quem se vai apresentar ao lado de Jardel: se Lisandro López, se o jovem Rúben Dias. A aposta, nos últimos dois jogos, recaiu no português. Outra dúvida será na asa esquerda; tanto à frente, como atrás. Na retaguarda Grimaldo foi convocado, mas não se sabe se estará apto a alinhar de início e Eliseu pode saltar para a titularidade; na frente, Zivkovic jogou os 90’ frente ao Vitória de Setúbal, mas Cervi tem sido a opção mais constante de Rui Vitória.
O que dizem os misters
O treinador do Benfica, Rui Vitória, considera que o 'dérbi' não tem caráter decisivo nas contas pelo título português de futebol, salientando que as duas equipas têm capacidade para vencer o jogo.
Em conferência de imprensa de antevisão ao encontro da 16.ª jornada, o técnico deixou claro que a equipa entrará em campo com o objetivo de conquistar os três pontos, pelo tónico que os mesmos poderão dar ao conjunto 'encarnado'.
"Estes são jogos que qualquer equipa gosta de ganhar. São jogos muito disputados e equilibrados por natureza. Ganhando ao Sporting é sempre um bom élan, mas há muitos jogos pela frente. Há 19 jornadas e não basta fazer um bem. A partir deste jogo, ainda falta mais de uma volta para jogar. Há campeonatos que são decididos nos jogos entre grandes, outros nos jogos com as outras equipas", afirmou.
Diante dos 'leões', Rui Vitória deixou claro que Luisão, lesionado, não entra nas contas do Benfica e que Grimaldo, embora figure nos convocados, só saberá se irá a jogo esta quarta-feira. Limitações que não retiram a ambição ao treinador dos tetracampeões nacionais que prefere não assumir favoritismo neste encontro.
"É um dérbi, um jogo centenário, com equipas de grande qualidade. Esperamos que seja o Benfica a ganhar, mas sabemos como são estes jogos, que pode cair para qualquer uma das partes. Uns e outros vão ter as suas dificuldades, é um jogo apetecível para qualquer um", realçou.
Do outro lado da 2.ª circular, o técnico leonino quer ganhar e aponta diretamente para os 3 pontos. A cumprir a terceira época no comando do Sporting, nas últimas duas temporadas alcançou uma vitória (3-0) e uma derrota (2-1) na casa dos ‘encarnados'.
"Espero vencer na Luz, assim como os meus jogadores, os adeptos, independentemente do que aconteceu há um ano. O que interessa é o jogo de amanhã [hoje]. Face à grande equipa que o Sporting tem, faz-me pensar e acreditar que temos todas as possibilidades de vencer", começou por referir, recordando: "Na Luz ganhei uma, perdi outra e amanhã é o desempate".
Quanto ao ambiente que envolve o encontro entre ‘águias' e ‘leões', Jorge Jesus considera que é uma partida diferente pela "paixão fervorosa dos adeptos" de ambos os lados, acreditando na "capacidade de gestão e de qualidade" da sua equipa, aludindo aos três pontos de vantagem na classificação.
Para a visita ao Estádio da Luz, o técnico confirmou que Gelson Martins, Fábio Coentrão e Bruno Fernandes, três dos onze presumíveis titulares no dérbi, estarão convocados.
Por outro lado, o facto do Benfica estar apenas na luta pelo campeonato é uma vantagem para o rival, segundo o técnico do Sporting.
"Têm mais tempo para preparar os jogos por estarem fora [das competições europeias e das taças internas] em relação ao FC Porto e Sporting. Tem essa vantagem, mas na prática não quer dizer que seja um facto", argumentou.
Por último, Jorge Jesus sublinhou que nem foi preciso motivar os seus atletas para o dérbi, porque "há jogos que dão mais gozo jogar, como o Barcelona, o Real Madrid, o Benfica e FC Porto, é normal”.
“São os jogos chamados grandes, face a todo o cenário e ênfase que se dá na comunicação. Nestes jogos nem é preciso motivar os jogadores porque já o estão", terminou.
Passado recente: os últimos dois encontros
22 de abril, 2017. No último jogo que opôs as duas equipas, no Estádio José Alvalade, os protagonistas que colocaram o seu nome do placard dos marcadores já não fazem parte das fileiras de ambos os plantéis, visto que os dois jogadores em causa, no último verão, fizeram as malas e rumaram até à Premier League. Adrien Silva, após meses sem ter autorização para jogar pelo Leicester, já se estreou pelos “foxes” e Lindelöf tem sido escolha recorrente no Manchester United de José Mourinho.
Num jogo intenso e bem disputado mas com poucas oportunidades de golo, uma grande penalidade do então ‘capitão’ leonino, aos cinco minutos, e um golo de livre direto do sueco Victor Lindelöf, aos 66, fizeram mexer o marcador num ‘dérbi’ que era apontado como decisivo para as contas do título.
Em Alvalade, os ‘eternos rivais’ disputaram o duelo 300 entre si, numa partida acesa na qual os homens da casa entraram melhor, aproveitando para chegar à vantagem num erro de Ederson, que cometeu falta sobre Bas Dost.
O Benfica reequilibrou, depois, a partida, estando por cima do jogo até ao golo, ainda que o avançado holandês dos ‘leões’ tenha tido, pouco antes do empate, uma oportunidade soberana para fazer o 2-0.
Depois do 1-1, os ‘verde e brancos’ procuraram o 2-1 para encurtar distâncias para o rival, que estava em risco de deixar a liderança à mercê dos ‘dragões’, mas o empate acabou por imperar no final do jogo.
11 de dezembro, 2016. No último embate na Luz, a vitória sorriu aos da casa, por 2-1. Foi a contar para a 13.ª jornada, mas o Benfica teve de sofrer durante quase toda a segunda parte do dérbi para solidificar a liderança da prova.
Salvio (24 minutos) e Raúl Jiménez (47) colocaram o Benfica com dois tentos de vantagem sobre o eterno rival, mas o golo de Bas Dost (69) fez ‘tremer' as hostes ‘encarnadas', que tiveram de ‘sobreviver' a um autêntico ‘assalto' do adversário durante quase toda a etapa complementar.
Veremos como se será hoje, a partir das 21h30, no Estádio da Luz.
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