“Esperava melhor”, desabafou Renato Sanches no final do encontro da Seleção A frente à Letónia, a contar para o apuramento do Mundial de 2018 da Rússia, sobre os seis meses que já passou na Alemanha a envergar as cores do Bayern de Munique.
No início do ano, o “menino da Musgueira” vivia um sonho. A sua rápida ascensão à equipa principal, onde depressa conquistou um lugar e o carinho dos adeptos, maravilhou o mundo. Os títulos de campeão nacional e de vencedor da Taça CTT adornavam uma época de estreia de sonho na equipa A do Benfica. E ainda antes da temporada terminar, já havia negócio: a jovem pérola encarnada tinha sido vendida ao Bayern de Munique por 35 milhões de euros. E muito mais estava ainda para vir.
A lesão de Bernardo Silva abriu uma vaga na convocatória de Fernando Santos para o Campeonato da Europa a realizar-se em França. Com alguma surpresa para alguns, com uma enorme sentimento de justiça para outros - e ainda com um brilho nos olhos para os homens fortes do Seixal -, o miúdo maravilha do Benfica foi chamado. Começou por não ser opção, mas rapidamente ganhou o seu espaço e marcou a diferença, tal como tinha feito no clube da Luz. Com velocidade, imprevisibilidade e toda a irreverência de um jovem de 19 anos que estava a conquistar o mundo, Renato terminou o Europeu com a medalha de campeão e dois prémios de melhor jogador em campo. A par de Adrien, foi uma das entradas que mais revolucionou o esquema do meio-campo nacional e a força da táctica lusa.
Da Musgueira para a Baviera
Contudo, os primeiros tempos de Renato Sanches em Munique têm sido tudo menos fáceis. O internacional português lesionou-se na final do Euro frente a França e não pôde trabalhar a 100% logo desde o início da pré-temporada. Teve de recuperar e esperar pela sua oportunidade. Mas quando chegou a sua hora, não venceu.
De facto, as oportunidades foram chegando, mas Renato parecia um "extraterrestre", alienado do estilo de jogo da Liga alemã, e aparentemente pouco adaptado ao sistema tático de Carlo Ancelotti. E o facto de o técnico italiano, com um conjunto de centro campistas de luxo à disposição, estar a mostrar ser adepto da rotatividade, também não tem funcionado a seu favor. A chamada "primeira linha" de opções para o meio-campo é composta por estrelas maiores do futebol mundial como Arturo Vidal, Thiago Alcântara ou Xabi Alonso. Na segunda linha, contudo, aparecem as jovens promessas que se encontram ao serviço do clube alemão, teoricamente encabeçada por Renato, o miúdo dos 35 milhões de euros. Só que a sua "vez" parece ter sido roubada por um jovem alemão.
Kimmich, ou a vitória da polivalência sobre a pujança física
Joshua Kimmich. É este o nome do maior entrave do ex-Benfica na Alemanha, no que à entrada no onze diz respeito. O médio internacional alemão, polivalente - tanto pode jogar a defesa lateral como a médio -, começou a época com golos e um encaixe tático praticamente exímio, relegando Sanches para o banco e reduzindo as suas oportunidades para uma ocasional entrada nos minutos finais. Espelho disso é a sua participação na Liga dos Campeões, em que nos três jogos em que entrou fê-lo aos 71’, 87’ e 85’, quando a vitória já não escapava.
E isso reflete-se nos números do campeão europeu mais novo de sempre. Desde que chegou ao Bayern, Renato fez apenas 10 jogos, não tendo feito os 90’ minutos em nenhum deles. E nos últimos dois jogos para o campeonato, não foi sequer opção. Ainda assim, no pouco que jogou, soma já duas assistências - apesar de não ter apontado qualquer golo.
Um jogador que prima pela agressividade, velocidade e força, e que deixou como imagem de marca na cabeça dos adeptos aquele movimento de transição defesa/ataque com uma pujança incrível, parece "outro" no meio-campo bávaro. Em terras germânicas pedem ao ex-Benfica que "pense" antes de jogar, quando Renato, em Portugal e na seleção, era um jogador que canalizava paixão para o jogo. Agora, parece que tudo sai mal: passes, arrancadas.
E nem com o prémio Golden Boy, atribuído pelo jornal italiano ‘Tuttosport’ e que distingue o melhor jogador com menos de 21 anos a atuar na Europa, o jovem internacional português conseguiu mudar o panorama no seu novo clube.
Denis Huber, jornalista dos jornais Münchner Merkur e TZ, de Munique, e profundo conhecedor do dia-a-dia do clube bávaro, falou ao site desportivo zerozero na sequência do desabafo do jogador português, dizendo que Renato “tem claramente que evoluir na velocidade que dá ao jogo e na qualidade do passe. Às vezes demora demasiado tempo a tomar a melhor decisão e já cometeu alguns erros na construção do jogo, que na Bundesliga podem sair caro muito rapidamente”, conta o repórter
Carlo, deixa jogar o Renato
Para Carlo Ancelotti, Renato Sanches não é nenhum tipo de desilusão, tendo inclusivamente já vindo a praça pública defender o português, afirmando que este “ainda é jovem e que este tipo de mudanças leva o seu tempo” e acrescentando que “está satisfeito com ele”.
Perante estes fatores, Denis Huber acredita que o antigo treinador do Real Madrid “vive nesta altura com um dilema em relação ao português.” Se por um lado “Renato devia jogar para se ambientar e ganhar ritmo”, por outro “Ancelotti arrisca que a equipa sofra golos e, eventualmente, derrotas se Renato continuar a falhar tantos passes”, analisou Huber.
Apesar de tudo, o repórter alemão garante que na Alemanha não há críticas ao Golden Boy, muito menos em relação ao preço desembolsado para a sua contratação.
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