O mítico Pacaembú, estádio tradicional no centro de São Paulo (SP), construído em 1940 e uma das sedes do Mundial de 1950, recebeu a festa do camisola 11. Estranhamente, a despedida de um ídolo tão ligado ao futebol carioca aconteceu em São Paulo, para comemorar, também, os 65 anos do estádio paulistano. Mais uma das ideias geniais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Sorte do Pacaembú e do adepto paulistano, que veria, alguns anos depois, a despedida de Ronaldo no mesmo relvado.
Romário é uma personagem polémica no mundo da bola. Brilhante e de personalidade forte, sempre se bateu de frente com dirigentes e treinadores. Só voltou à seleção nos últimos jogos das eliminatórias para o Mundial de 1994, quando o Brasil precisava de um milagre para se classificar. O milagre Romário não só fez os golos que classificaram o escrete nacional para o Mundial dos EUA como foi o principal responsável pelo Tetra.
Eleito o Melhor do Mundo (94), abandonou o futebol europeu para ser feliz no Rio de Janeiro. Ficou fora do Mundial de 98, por lesão, e o de 2002, por embate com Scolari. Romário e o seu jeito malandro sempre adornaram a ilusão do brasileiro pelo futebol arte. Jogou até os 40, fez os 1000 golos (apesar de contar com golos da formação), reinventou-se para ser o melhor atacante dentro da área de todos os tempos.
Naquela noite de abril de 2005, Brasil contra Guatemala e uma festa menor do que poderia (por ser em SP), Romário celebrou a sua carreira na seleção e marcou a criação de um novo inimigo para a CBF. Romário se tornaria político, deputado e senador, e uma das suas bandeiras seria a luta contra a corrupção no futebol.
Foi um jogo cheio de curiosidades. Romário marcou o seu último golo, o de número 65 – é hoje o quinto maior artilheiro da história da seleção, atrás de Pelé, Ronaldo, Zico e Neymar – num cruzamento do médio Ricardinho. A convocatória reuniu somente jogadores que atuavam por clubes nacionais e o seu último parceiro de ataque foi Robinho, então no Santos.
No seu lugar, aos 29' do segundo tempo, entrou Grafite, naquela que foi a sua estreia pelo Brasil. Ainda estrearia outro atacante, na mesma noite, um menino de 21 anos chamado Fred, que brilhava pelo Cruzeiro.
Aos 39 anos, Romário seria artilheiro do Campeonato Brasileiro com 22 golos. Jogou mais três e até o físico aguentar.
Fora de campo continua com a língua afiada e destaca-se na política, sendo um dos senadores mais votados da história do Rio de Janeiro e candidato ao governo do estado em 2018. As suas principais bandeiras, no Congresso e no Senado, foram a defesa dos direitos dos portadores de deficiência (tem uma filha com Síndrome de Down) e a investigação da corrupção no futebol.
Romário foi um enorme jogador, apesar dos seus 1,67 m, mas poderia ter sido maior. No auge, resolveu voltar ao Brasil para ter uma vida mais confortável. Mandava nos clubes pelos quais passou, escolhia companheiros, treinava menos, mas sempre foi decisivo em campo. Foi sempre relevante, mas optou por viver uma vida feliz e tranquila ao invés de buscar o Olimpo dos mitos do futebol. Mesmo assim, é um dos maiores de todos os tempos e não se viu nada igual nos campos do Brasil.
Foram a sua genialidade e teimosia que fizeram do Brasil campeão do mundo após 24 anos, em 1994. A sua personalidade forte fê-lo ir, sem medo de se arrepender, para o Carnaval e a vida no Rio e deixar o futebol europeu. É um ídolo brasileiro, que fala o que pensa e que veste o estereótipo do brasileiro malandro. Por isso, o povo sempre se identificou com ele e o quis bem. Romário foi um gigante e deixou saudade.
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