Não é fácil ser adepto do Sporting CP por estes dias. É certo que a época não começou bem, com a derrota por 5-0 frente ao eterno rival SL Benfica. É também certo que o empate na Madeira, a pouco convincente vitória sobre o SC Braga e a derrota frente ao Rio Ave, em Alvalade (que motivou o despedimento do treinador Marcel Keizer), também não ajudaram. Mas o problema parece ser maior. Há duas ideias que passam, quando assistimos a um jogo dos leões nesta época: a primeira, é que é “fácil” criar perigo e beneficiar de oportunidades de golo junto da baliza leonina; a segunda, é que há como que uma falta de confiança generalizada na equipa, apenas apaziguada pelo voluntarismo de Bruno Fernandes e alguns fogachos de homens como Acuña (o rei do “voluntarismo” para os lados de Alvalade, ainda que às vezes peque por excesso) ou, mais recentemente, Bolasie.
Exemplo disto é Doumbia: o jovem médio marfinense, hoje a jogar como homem mais recuado no meio-campo leonino, por mais do que uma vez recebeu a bola e, com espaço, optou quase sempre pelo passe para o lado ou para trás, em vez de tentar a progressão e obrigar os jogadores do PSV Eindhoven a “desmontar” o seu posicionamento e, assim, abrir espaço para que o ataque à baliza holandesa pudesse ser mais fácil. Alguns dirão que Doumbia não é “jogador para isso”, outros dirão que não é esse o seu trabalho, mas a alguns (incluindo este que vos escreve e João Aroso, comentador da SPORTTV para o jogo desta tarde) pareceu, pura e simplesmente, falta de confiança.
Repare-se que o Sporting CP até entrou no jogo personalizado – na verdade, essa é uma das características dos leões nos últimos meses. A questão é que, quando essa entrada não é efetivada em golos, quando o jogo se equilibra e, porventura, a equipa adversária consegue equilibrar a contenda e criar perigo, as coisas mudam. E, até agora, ainda que só tenham sido disputados sete jogos oficiais, a verdade é que os verde-e-brancos não conseguiram ainda vencer um jogo em que começaram a perder (o mais perto que estiveram foi a derrota frente ao Rio Ave, em que deram a volta ao jogo mas viram os vila-condenses voltar a ficar em vantagem com dois penáltis nos últimos minutos).
E hoje, em Eindhoven, não foi exceção. O Sporting entrou melhor (talvez o 4-4-2 losango escalado por Leonel Pontes, a fazer lembrar os tempos de Paulo Bento à frente dos leões, altura em que o atual timoneiro da equipa verde-e-branca era adjunto de Bento), o PSV marcou dois golos de rajada e os leões levaram o resto do jogo a correr atrás do prejuízo.
O primeiro golo do PSV surgiu aos 19 minutos da primeira parte por intermédio de Donyell Malen, jovem avançado holandês que chegou ao jogo na sequência daquelas que foram, muito provavelmente, as suas melhores duas semanas desde que se tornou futebolista profissional: estreou-se com um golo pela seleção da Holanda frente à Alemanha, num jogo que a Laranja Mecânica venceu por 4-2 em terras germânicas, e apontou os cinco (!) golos com que o PSV bateu o Vitesse na última jornada da liga holandesa. O Sporting CP estava, pois, avisado. Mas de pouco valeu: numa jogada de contra-ataque, Malen conduziu a bola pela esquerda, fletiu para o meio e rematou em arco, com a bola a desviar ainda em Neto e a bater no poste esquerdo antes de entrar na baliza de Renan.
Seis minutos depois, novo golo dos holandeses, com Coates a introduzir a bola na própria baliza depois de cruzamento de Bruma no lado direito do ataque do PSV. Sendo justos, é certo que o corte de Coates, naquela zona, era imperativo, fruto da presença de Malen nas costas do defensa uruguaio, pronto para empurrar para a baliza leonina. Mas é um regresso azarado daquele que foi um dos esteios da defesa do Sporting CP nos últimos anos: depois de cometer três penáltis e ser expulso na partida frente ao Rio Ave, faz agora um auto-golo na estreia dos leões na Liga Europa.
O Sporting CP tentou “voltar” ao jogo e acabou por consegui-lo: um penálti ganho pelo sempre esforçado Bolasie deu a Bruno Fernandes a hipótese de reduzir para 2-1 antes de o jogo ir para intervalo, e o capitão leonino, quase sem tomar balanço, não desperdiçou.
Mas a esperança leonina tomou novo golpe quando, minutos depois do reatamento, na sequência de um canto, o Sporting CP cometeu um erro “inadmissível” (como o capitão Bruno Fernandes fez questão de frisar no final do encontro) e o central alemão Timo Baumgartl (chegado a Eindhoven no início da época, vindo do Estugarda) surgiu solto na área e a empurrar de pé direito para a baliza de Renan.
Apesar de o golo ter sido uma machadada forte na equipa leonina, os minutos seguintes mostraram talvez o melhor Sporting CP, ou, pelo menos, o mais perigoso. Bruno Fernandes “tomou conta” do jogo e pôs o guardião holandês por várias vezes à prova, através de remates de fora da área e de um cabeceamento que raspou no poste da baliza do PSV.
Leonel Pontes sentiu que precisava de mexer na equipa e, primeiro, lançou Jovane Cabral para o lugar de um apagado Luciano Vietto. Contudo, foi a entrada do jovem avançado Pedro Mendes que veio a “acordar” os adeptos do Sporting CP para o jogo. Ao avançado de 20 anos, autor de sete golos em seis jogos pela equipa de sub-23 dos leões, bastaram cerca de 30 segundos para receber a bola de costas para a baliza à entrada da área, virar-se e disparar um míssil que surpreendeu o guarda-redes do PSV e também, muito provavelmente, muitos dos que estavam a assistir à partida.
O relógio marcava 81 minutos e estava feito o 3-2, naquela que foi uma estreia de sonho (pelo menos a nível individual) para o avançado que está inscrito na Liga Europa mas não está inscrito no campeonato (porque “a data já tinha expirado”, segundo Leonel Pontes), numa decisão que, se já era polémica depois das saídas de Bas Dost e Diaby no fecho do mercado, mais será agora, uma vez que o Sporting CP conta apenas com Luiz Phellype como evidente solução para o eixo do ataque.
Esperava-se que o golo pudesse, mais do que animar os adeptos dos leões, servir de estímulo final para o Sporting CP procurar o empate, mas a verdade é que o esforço leonino não se traduziu em verdadeiras oportunidades de golo e foi até o PSV a criar mais perigo junto da baliza de Renan, que teve de se aplicar por mais do que uma vez.
No final da partida, Leonel Pontes reafirmou a necessidade de o Sporting CP “vencer” para “poder estabilizar do ponto de vista emocional”. É difícil não concordar com o treinador dos leões.
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
Não é uma crítica específica a um jogador, antes a toda uma equipa: o terceiro golo do PSV, tal como referiu Bruno Fernandes no final da partida, não é admissível para uma equipa como o Sporting CP. Não só é uma jogada que, aparentemente, parecia fácil de contrariar, como é um golo a abrir a segunda parte de um jogo em que os leões já estavam em desvantagem e a tornar a sua tarefa muito mais complicada.
Donyell Malen, a vantagem de ter duas pernas (e ser avançado)
É uma das coqueluches do PSV e do futebol holandês. Explosivo e com faro de golo, Donyell Malen foi para a equipa holandesa aquilo que faltou ao Sporting CP durante quase todo o jogo: uma referência no ataque, um jogador procurado pelos colegas na hora de visar a baliza adversária. É certo que Bruma fez uma boa exibição frente à sua antiga equipa e que o jovem Ihattaren tem muito futebol nas chuteiras ainda que tenha apenas 17 anos, mas Malen foi sempre muito perigoso, com ou sem a bola nos pés.
Formado no Ajax e no Arsenal, cumpre agora a sua terceira época no clube de Eindhoven e, com 10 golos em 12 jogos até agora, promete ser a próxima grande venda do clube holandês, que no início da época perdeu Lozano para o Nápoles e Jong para o Sevilha (e que já “deu ao mundo” nomes como Ruud van Nistelrooy, Jaap Stam, Arjen Robben ou Mark van Bommel, o homem que agora se senta no banco do PSV).
Fica na retina o cheiro de bom futebol
Pedro Mendes tem nome de jogador e promete colocar os adeptos dos leões de cabelos em pé até à próxima segunda-feira, altura em que o Sporting CP recebe o Famalicão em Alvalade. Tudo porque apontou um grande golo menos de um minuto depois de se estrear, e a equipa leonina parece órfã de referências atacantes depois da saída de Bas Dost e da lesão de Luiz Phellype.
Autor de 18 golos na temporada passada no campeonato sub-23 com a camisola verde-e-branca, o jovem avançado levava sete golos em seis jogos no mesmo campeonato na presente época e estreou-se agora pela equipa principal com um golo “à ponta-de-lança” que vai deixar os responsáveis dos leões a pensar no porquê de não o terem inscrito no principal campeonato português.
Nem com dois pulmões chegava a essa bola
A vida não tem sido fácil para Coates nos últimos jogos. A somar aos três penáltis (e expulsão) cometidos frente ao Rio Ave, o defesa-central foi o autor do 2-0 do PSV esta tarde em Eindhoven. Não há muito a criticar na ação do uruguaio: fez o que tinha a fazer, principalmente porque estava com Malen nas costas, pronto a marcar o seu segundo golo na partida. Mas que os últimos tempos de Coates em campo não têm sido fáceis, lá isso não têm.
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