Era um talento puro, com características à la Edgar Davids (até o corte de cabelo era similar) e também com aquela potência que só se via em jogadores como Roberto Carlos. Vibrante na hora de correr com o esférico, enérgico na hora de lutar pela sua recuperação. Era o the whole package [pacote completo] e a tenra idade ainda deixava os seus pretendentes com mais "água na boca".
Assumiu a titularidade no Feyenoord em 2006 (estreou-se com 17 anos, um ano antes pelo mesmo clube) e na Holanda rotulavam-no da nova estrela do futebol do país e da Europa. A vitória no Europeu de Sub-20 parecia ser um sinal extremamente promissor para aquela seleção holandesa e, em especial, para Drenthe. A somar a essa vitória, o lateral-esquerdo conquista o título de melhor jogador da prova ficando à frente de jogadores como Ryan Babel, Branislav Ivanović, Miguel Veloso ou Giorgi Chiellini.
Foi, portanto, com alguma naturalidade, que surgiram vários pretendentes como o AC Milan, Liverpool, FC Barcelona, Olympique de Lyon. Contudo, foram todos batidos pelo clube do costume, que na altura aglutinava todas as jovens estrelas: Real Madrid. Os merengues naquele momento eram loucos por ir buscar novas potenciais coqueluches e nesse ano "só" contrataram Marcelo, Wesley Sneijder, Arjen Robben, Balboa, Soldado e Miguel Torres, juntando-se Drenthe por 14M€.
O holandês optou por ir para Madrid e as condições eram sensacionais: tinha companheiros da mesma nacionalidade que facilitavam o entrosamento dentro do plantel; não havia concorrência que o atirasse de imediato para o banco de suplentes (Roberto Carlos tinha saído nesse verão); o Real Madrid era campeão em título, o que facilitava ainda mais a sua entrada em campo, seja do banco ou no 11.
A primeira época ao serviço do Real Madrid não foi má de todo, tanto a nível individual ou coletivo: 26 jogos, 15 dos quais a titular, três golos e três assistências, com o clube a sagrar-se bicampeão de La Liga. Todavia, na Liga dos Campeões, a prestação dos merengues não foi a melhor, ficando logo de fora nos 16-avos de final. O clube estava num processo de renovação do plantel e contou com a entrada de uma série de novas estrelas internacionais.
Drenthe impressionou nesta primeira época, com uma série de pormenores de elevada categoria, arrancando aplausos da bancada a cada nova arrancada, finta e tiro para a área — apesar de se denotarem alguns problemas a nível tático e de se aguentar com uma boa intensidade durante o encontro todo. Mas era mesmo na hora de pensar o jogo, de saber o que fazer sem bola, de pensar como um sénior, que residia o problema do jovem holandês.
Porém, como a La Liga estava no "bolso", ninguém notou tanto esses problemas, esperançosos que o internacional Sub-21 holandês evoluísse para um novo tipo de Roberto Carlos. Contudo, a catastrófica época que se seguiria para o Real Madrid etiquetou Drenthe para sempre. 2º lugar na La Liga, fracasso por completo na Champions League, pior ainda na Taça do Rei; ou seja, foram resultados mais que suficientes para despedir Bernd Schuster a meio da época, sem que Juande Ramos conseguisse salvar a temporada.
O jovem lateral-esquerdo foi um dos jogadores que somou mais minutos, não a lateral-esquerdo mas sim como extremo na mesma ala. Não resultou tão bem, já que carecia de alguns aspetos que lhe impediam de ter outra projeção e consistência na manobra ofensiva. Para além disso, tanto Heinze como Marcelo não davam espaço que o holandês descesse para a defesa, retirando-lhe quaisquer possibilidade de afirmação como lateral.
Comportamentos pouco profissionais vs talento. Quem ganha?
De 26 e 28 jogos nas duas primeiras épocas, Drenthe passou para 11 na terceira temporada como merengue, não merecendo de todo a confiança de Manuel Pellegrini que apostou totalmente em Marcelo. Quando o brasileiro não jogava, era Arbeloa que se deslocava para a faixa da esquerda. No ataque, a chegada de Cristiano Ronaldo acabou definitivamente com todas as possibilidades de afirmação no Real Madrid. E o facto de ter passado de suplente bastante utilizado e titular, para quase proscrito, iniciou uma queda vertiginosa na carreira do explosivo lateral/extremo.
Ainda com contrato com o Real Madrid, Drenthe foi emprestado ao Hercules e Everton. Tanto na formação espanhola como inglesa, começou da melhor forma com golos e assistências, boas prestações e um futebol que animava as bancadas. Parecia que estava no trilho certo até que entravam as complicações extra futebol: atrasos para os treinos, respostas tortas a treinadores e direção e falta de compromisso a meio da época.
O próprio David Moyes prescindiu dos serviços do holandês depois de terem dado uma licença para se ausentar, uma vez que Drenthe não apareceu ao treino que supostamente marcava o seu regresso. Para além de não aparecer, não quis prestar declarações e a relação com os toffees terminou em março apesar dos 27 jogos, 4 golos e 10 assistências produzidas na Premier League.
A sua constante má conduta e fraco profissionalismo foram afastando-o dos principais emblemas europeus, sendo que o Everton foi a sua grande oportunidade para merecer a confiança de clubes de maior dimensão. O regresso a Madrid foi amargo, com o clube a rescindir contrato com o holandês. Só voltaria a jogar futebol em 2013 pelo Alania Vladikavkaz, da Premier League russa, onde actuou em 6 jogos.
Voltou a merecer uma oportunidade em Inglaterra (desta feita no Championship), para jogar ao serviço do Reading, tendo-lhe corrido positivamente bem a primeira época, em que somou 24 jogos em 36 possíveis. Nos Royals demonstrou alguns dos seus atributos que mereceram o interesse do Real Madrid em outros tempos, mas já sem aquele fulgor físico e dinamismo explosivo que marcaram os seus anos como Sub-20.
Novamente, problemas com a direção e staff técnico precipitaram-no outra vez para a porta de saída tendo o Reading rescindindo o contrato e Drenthe foi forçado a procurar novo emblema. Seguiram-se o Sheffield Wednesday, Kayseri Erciyesspor e Baniyas FC (Emirados Árabes Unidos), completando 35 jogos no total. Nunca foi bem-sucedido, os comportamentos negativos fora do campo influenciaram a sua reputação dentro das quatro linhas.
Farto do Mundo do futebol, Royston Drenthe pôs um ponto final na sua carreira. "Estou cansado do futebol e das pessoas em seu redor. Fiquei sempre marcado por más opões e nunca voltaram a dar-me uma oportunidade real para brilhar. Não quero mais jogar futebol profissional", justificou.
Dedicou-se ao rap e hip-hop entre 2016 e 2018, altura em que aceitou um convite do Sparta para tentar aos 31 relançar uma carreira que podia ter sido de outro nível. Oportunidades não faltaram, o futebol estava lá, no aspeto físico era um portento e tinha um talento especial. Faltou ter cabeça e paciência para aprender ler o futebol de outra forma que não de uma maneira juvenil.
Foi uma das maiores esperanças para o futebol holandês, mas como outros tantos ficou-se por um clube de alto nível e uma queda constante até embater em ligas inferiores ou até ficar sem contrato.
(Jovens estrelas que caíram cedo demais é uma rubrica do Fair Play que debruça sobre as promessas do mundo futebol que não chegaram aos patamares que o seu talento prometia. Veja mais aqui.)
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