Portugal aproveitou esta competição para ganhar um fôlego extra, depois de uma prestação a meio-gás no Mundial de 2018, sobrevivendo à ausência de Cristiano Ronaldo durante os últimos quatro meses do ano passado com excelência.
Apesar dos "soluços" na qualificação para o Europeu 2020, Fernando Santos e os adeptos portugueses têm razões para sorrir, uma vez que o futuro das Quinas tem conseguido ocupar um lugar de importância nos jogos, com Bernardo Silva à cabeça, ladeado por André Silva (um dos melhores marcadores da competição com 3 golos concretizados), Rúben Neves, Rúben Dias, Bruma, João Cancelo, para além da reintrodução de Pizzi e do recuperar de forma de William Carvalho e Mário Rui.
A Seleção Nacional durante o processo de apuramento para a fase final da Liga das Nações apresentou (ou pelo menos tentou) um futebol mais dinâmico, na aposta clara do tomar de iniciativa e de colocar pressão ofensiva sob o adversário, tendo abandonado um pouco a imagem do futebol mais pragmático, defensivo e longe da vontade de jogar em zonas mais avançadas do terreno.
Os quatro jogos da fase de apuramento para as meias-finais da Liga das Nações serviram, portanto, de tubo de ensaio para o Engenheiro Fernando Santos testar novos esquemas de jogo, outra forma de abordar o espetro ofensivo português e montar um onze com significativas mudanças em termos de lógica de pensamento e execução de processos. Com dois empates e duas vitórias, Portugal pareceu conseguir limpar a imagem precária deixada no último Mundial (em especial nos jogos frente a Marrocos e Irão), motivando ainda o assumir da responsabilidade de outros jogadores (face à ausência de Cristiano Ronaldo).
Passando a fase laboratorial do pós-Mundial, Portugal chega aos primeiros testes mais complicados em termos de exigência competitiva e rivalidade com adversários de outra dimensão (na teoria, largamente superiores à Ucrânia ou Sérvia, com quem as Quinas já jogaram no início da qualificação), começando pela Suíça e, dependendo do resultado, a Holanda ou Inglaterra.
Contudo, as mudanças táticas e estratégicas operadas por Fernando Santos entre setembro e novembro de 2018 são para se manter, passando de testes a certezas? Ou as experiências laboratoriais são para continuar até ao final da Liga das Nações? Poderíamos ter em conta o que se passou nos jogos frente à Ucrânia e Sérvia em termos do que será o futuro, todavia nesses dois encontros houve uma mescla do Portugal pré e durante Mundial e do pós-Mundial, ficando a dúvida do que será efetivamente o futuro das Quinas.
Será que a última convocatória encerra alguma previsão do que vai ser a aposta efetiva do selecionador Nacional?
As apostas e os craques
Sem João Mário (excluído por opção, depois de uma época entre o fraco e o aceitável ao serviço do Inter de Milão), Bruma (também de fora por opção, depois de uma época de pouca utilização) e André Silva (lesionado desde Março, com um problema físico mal debelado), o Engenheiro incluiu João Moutinho e Diogo Jota na lista de convocados, ao contrário do que aconteceu para os jogos frente à Ucrânia e Sérvia, sendo que o onze titular não deverá fugir à seguinte previsão:
Rui Patrício; João Cancelo, Raphael Guerreiro, Pepe e José Fonte; William Carvalho, Rúben Neves e Pizzi; Bernardo Silva, Gonçalo Guedes e Cristiano Ronaldo.
No meio da reformulação, as introduções mais importantes são as de Rúben Neves e Bernardo Silva como titulares-resistentes da nova formulação de Fernando Santos, ficando, no entanto, a questão do porquê de deixar Bruno Fernandes no banco de suplentes.
A resposta pode ser encontrada pela forma como Fernando Santos vê a utilidade de Pizzi na construção de "pontes" entre o meio-campo defensivo e a frente de ataque, destinado a ser mais um servo da casa-das-máquinas das Quinas do que um jogador de mudança de ritmos de jogo, algo mais do âmbito de Bruno Fernandes e Bernardo Silva.
Mas ter Bruno Fernandes e Bernardo Silva no mesmo 11 é impossível? É utópico? Na teoria, o pensamento comum é de que incluir os "mágicos" do Sporting CP e Manchester City iria corresponder um a fluxo ofensivo totalmente demolidor, virado sempre para a distribuição rápida para as unidades mais avançadas, para além de subir na escala do arriscar e no assumir do protagonismo individual, pormenores definidores do que são os dois jogadores. Mas e na prática?
É fundamental ter um médio com as valências de bom transporte de bola, com capacidade de procura de linhas tanto nas laterais como no centro da área e de trabalho físico, mediante o esquema atual de jogo optado por Fernando Santos e essa responsabilidade deve recair num jogador com as valências de Pizzi ou de João Moutinho.
Outra dúvida vai para a inclusão de Gonçalo Guedes nas alas, empurrando Cristiano Ronaldo para o centro, ou até o contrário, fruto da alguma polivalência do jogador do Valência CF e da facilidade com que a lenda da Juventus e da Selecção Nacional apresenta em trocar de posições. Porém, não seria errado de todo dar a oportunidade a um ponta-de-lança de raiz que neste caso recairia na pessoa de Dyego Sousa.
O avançado do SC Braga opera com qualidade dentro da grande área com capacidade de poder arrastar a marcação direta, jogando bem com as unidades nos extremos, detalhes reconhecidos na Liga NOS. Apesar de não ser o típico matador de fluxo intenso de golos, tem valências suficientes para merecer uma oportunidade nesta Liga das Nações e de dar outro espaço a Cristiano Ronaldo nas alas, fechando a porta da rotatividade entre a ala e o centro da área.
Estas são só algumas das dúvidas e questões que surgem na cabeça dos adeptos e comentadores nacionais, desconhecendo-se realmente se Fernando Santos vai voltar aos ideais da fase de apuramento da Liga das Nações ou se vai manter tudo no limbo como aconteceu nos dois jogos de qualificação para o Campeonato da Europa de 2020. No meio das teorias, assunções, probabilidades, a verdade é que é impossível voltar atrás no plano colocado em marcha em 2018, da ascensão da juventude e da renovação profunda que tem sido levado a cabo nas Quinas.
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