Se a final promete ser um espetáculo memorável, o que há a dizer da caminhada de ambas as equipas até lá chegar? O Fair Play reuniu os melhores momentos desta Champions e acrescentou a história de um herói improvável que, aconteça o que acontecer em Madrid, será lembrado como a figura desta Champions League.
Klopp e o “seu” Liverpool: última oportunidade para agarrar a orelhuda?
Klopp assinou pelo Liverpool em 2015 e na altura teve uma afirmação curiosa, mas que passou ao lado do mediatismo da sua apresentação. No entanto, esse momento de Klopp tem vindo a reaparecer nos media e nas redes sociais, tudo porque o alemão garantiu que se em quatro épocas não conquistasse nenhum título, iria treinar para a Suíça.
Poucos podiam esperar, mas chegamos a 2019 e a realidade é que o técnico alemão ainda não conquistou nenhum troféu pelos Reds.
Depois de duas finais europeias perdidas (uma em cada competição) e de um ano onde o título nunca pareceu tão perto, Klopp parece ter aqui uma última oportunidade para cumprir com a sua previsão com esta final da Champions.
Depois de não ser o favorito na época passada, o Liverpool parte para Madrid com todo o favoritismo nesta segunda final consecutiva, e parece melhor preparado para não cometer os erros da época transata, principalmente pela melhoria que tem na sua baliza.
Conseguirá Klopp alcançar o tão desejado título e continuar esta caminhada nos Reds, ou será suficiente para o alemão ter reaproximado a equipa da cidade dos Beatles das conquistas internas e europeias, mesmo não tendo nunca levantado um troféu?
Regra geral diz-se que os treinadores vivem de títulos e, portanto, pode ser vítima de um olhar mais frio sobre o seu trabalho carente de conquistas, sendo que perder uma final tão importante pode mesmo significar um adeus definitivo.
Pode o Tottenham ser considerado um outsider dos tempos modernos?
É uma pergunta de difícil resposta. Os mais céticos responderão prontamente que uma equipa com um valor de mercado de mais de 800 milhões de euros nunca pode ser considerada outsider, mas o facto de os Spurs não terem contratado nos dois últimos mercados, tornam a equipa londrina numa das maiores surpresas da liga milionária dos últimos anos, tendo em conta o investimento brutal de equipas como PSG, Manchester City ou Juventus.
A turma de Pochettino não teve uma fase de grupos tranquila, e os oito pontos conquistados estiveram a um curto espaço de tempo de serem insuficientes caso o Inter tivesse conseguido vencer o PSV em casa. Ainda assim, os londrinos seguiram em frente e dominaram por completo a eliminatória com o Borussia Dortmund. Parecia estar a esfumar-se a ideia dos Spurs serem um outsider.
De seguida, veio o City de Guardiola. Não haveria melhor prova para testar a capacidade de Kane, Eriksen e companhia, e os londrinos conseguiram contra todas as expectativas eliminar os campeões ingleses. A prova seguinte seria na teoria mais fácil que os quartos de final, e apesar do sofrimento até aos 95 minutos do segundo jogo, o brasileiro Lucas conseguiu garantir o bilhete para Madrid. É o Tottenham um outsider? Porque é que haveria de ser? É o PSG um outsider?
Não, e também nunca chegou a um título europeu. Os outsiders devem ser as equipas menos capazes de chegar a uma final por várias razões, não sendo o futebol praticado uma delas. O Tottenham de Pochettino pratica um futebol atrativo e muito difícil de contrariar, tem capacidade para se impor aos adversários e tem em todos os setores jogadores de classe mundial, tendo um dos médios mais completos do mundo (Eriksen) e talvez o melhor finalizador do mundo a seguir aos ET's Messi e Ronaldo (Kane). Por tudo isto, os Spurs de Pochettino não são outsiders, mas sim uma das mais atrativas equipas do futebol europeu.
Os melhores momentos da Champions
Esta tem sido uma das edições mais entusiasmantes e imprevisíveis da UEFA Champions League, e vários são os momentos que certamente perdurarão na memória dos adeptos do desporto durante muitos e muitos anos. Desde históricas exibições individuais a demonstrações magistrais da qualidade que um coletivo em plena sintonia e harmonia pode atingir, a maior competição europeia de clubes tem sido sinónimo de espetáculo garantido.
12 de Março de 2019. Após uma derrota por 2-0 em Madrid, frente ao Atlético, a Juventus de Cristiano Ronaldo encontrava-se numa posição muito complicada para assegurar a passagem aos quartos-de-final, precisando de marcar 3 golos e não sofrer nenhum no seu reduto. Aí, num momento de extrema pressão, o “Sr. Champions League” voltou a impor a sua presença. Com um “hattrick” (aos 27’, 49’ e 86’), Ronaldo colocou a “Vecchia Signora” nos “quartos” e escreveu mais uma página da sua brilhante carreira na competição.
Foi precisamente nessa fase seguinte da competição que a Juventus defrontou o Ajax, outro dos grandes destaques da prova. Comandados por Erik Ten Hag, conquistaram o coração de todos os fãs ditos “neutros”, com um futebol positivo, ofensivo e apaixonante, alicerçado num grupo muito jovem, mas igualmente muito talentoso. Os adeptos renderam-se à prestação dos “meninos de Amesterdão” nas fases a eliminar, e a mais extraordinária de todas elas aconteceu igualmente nos “oitavos”. Após uma derrota por 1-2 em sua casa, o Ajax chocou o mundo futebolístico, e goleou o ainda campeão europeu em título Real Madrid por 1-4, em pleno Santiago Bernabéu.
Por fim, novamente um nome e um “hattrick” como argumento: Lucas Moura. O avançado brasileiro do Tottenham, de 26 anos, aproveitou a ausência por lesão de Harry Kane – a principal figura dos “Spurs” – para assumir uma maior importância na equipa de Mauricio Pochettino, e no passado dia 8 de maio protagonizou o maior momento da sua carreira, ao apontar os 3 golos com que o Tottenham eliminou – de forma épica – o Ajax, para se qualificar para a final da competição, com o último golo a ser apontado praticamente na última jogada da partida. Um momento para contar aos netos.
O maior conto de fadas do século XXI? Lucas Moura e o salvador do destino
Quantas vezes ouviram a expressão “Há Males que vêm por Bem” e sentiram que era simplesmente uma ladainha sem profundidade para encher de falsas esperanças os desafortunados da vida?
Para Lucas Moura, esta expressão muito portuguesa, não é uma ladainha, nem uma falsa promessa de um futuro melhor, mas sim uma realidade.
Recuemos até 2017, altura em que o internacional brasileiro atravessava uma fase muito crítica da carreira, colocado de parte no Paris-Saint Germain, assumindo-se apenas como um reserva convocado jogo sim, jogo não.
Desacreditado, posto de parte e rotulado de fracasso absoluto para vários adeptos da equipa parisiense, Lucas Moura acabou dispensado em dezembro desse ano depois de 229 jogos, 46 golos e 49 assistências ao fim de cinco épocas e meia de serviço.
Comprado em 2012 por 37 milhões de euros, Lucas Moura acabou vendido ao Tottenham por 25 milhões de euros numa clara prova da desvalorização do brasileiro aos olhos do futebol europeu. Chega a Londres no dia 31 de janeiro de 2018 e… volta a não conseguir pegar de estaca. Lesões, falta de confiança e forma foram os motivos apontados para uma entrada a frio nos primeiros seis meses ao serviço dos Spurs.
Desilusão, fracasso e um flop, parecia não haver forma de fugir a estas etiquetas. Quando veio o Verão de 2018 e o Tottenham não adquiriu qualquer novo ativo, os adeptos dos Spurs diziam “Well, at least we have Moura”, numa clara expressão de gozo perante o não-reforço que era o brasileiro.
Mas após dez meses desde esse fatídico mercado de transferências e da “brincadeira” com o nome de Lucas Moura, tudo mudou, com uma mudança de destino dos Spurs não só naquela exibição brutal em Amesterdão, mas sobretudo em Barcelona.
Já se devem ter esquecido, mas o Tottenham esteve com um pé e meio na Liga Europa, na última jornada da fase-de-grupos quando se vê a perder por 1-0 ante o FC Barcelona. Perante este cenário, o Inter de Milão só precisava de garantir o empate ante o PSV (as outras duas equipas do grupo), que era o resultado que se registava.
Chega ao minuto 84, momentos depois de Messi ter enviado uma bola ao poste, e aparece Lucas Moura no coração da área… Harry Kane assiste o brasileiro e este introduz a bola seca e friamente na baliza dos culés. Empate e era o Tottenham que estava na fase seguinte neste momento, contudo, tinham de esperar que soasse o apito final no Giuseppe Meazza para celebrar a passagem aos oitavos-de-final. Felizmente, chegou e a festa foi feita.
Foi o 1.º grande momento de Lucas Moura na temporada, alterando o rumo dos acontecimentos para os Spurs. Fazendo uma retrospetiva, foi ali que a fénix do avançado brasileiro renasceu, com um total apetite para se assumir como o herói nos momentos mais improváveis nesta caminhada europeia.
Sim, esta edição da Champions League foi aquela em que Lionel Messi acabou com 12 golos (e voltou a marcar nas meias-finais), que Cristiano Ronaldo subiu ao 4.º andar para enviar Simeone do céu ao inferno em 90 minutos e do aparecimento de Dusan Tadic, De Ligt e restante Nova Escola Ajax na maior prova de clubes da Europa… mas esta foi a Champions em que um “desacreditado” vestiu a camisola de herói e proporcionou um momento paralisante e histórico para o Tottenham Hotspur.
Há males que realmente vêm por bem e Lucas Moura é a prova viva desse facto.
Comentários