“As pessoas podem dizer que o Benfica foi campeão, mas já o foi 35 vezes, o FC Porto 20, o Sporting 18. Campeonatos há muitos, mas um resultado destes há só um, e por isso é que passados 30 anos os sportinguistas ainda hoje me felicitam no dia 14 de dezembro”, disse Manuel Fernandes em entrevista à agência Lusa, quando se comemora o trigésimo aniversário desse jogo que perdura na memória dos adeptos do Sporting.
Além do mais, é também uma data especial para Manuel Fernandes por coincidir com o aniversário da sua filha, considerando que “é uma data que vai recordada não só pelos sportinguistas atuais”.
“Eu, por exemplo, tenho netos e os filhos dos meus netos vão saber que o bisavô naquele dia daquele ano fez quatro golos ao Benfica. E enquanto não houver outro resultado parecido, este fica para a história”, afirmou.
Quanto às incidências do jogo, Manuel Fernandes tem-nas todas na memória, assegurando que “não falha nada”, pois “é um jogo que qualquer sportinguista gosta de rever, de vez em quando”.
“E eu também. A exibição do Sporting foi muito melhor na primeira parte, em que dominámos, mostrámos enorme vontade de ganhar, em que o Raphael Meade falhou dois ou três golos na cara do Silvino [guarda-redes do Benfica], mas só marcámos um, pelo Mário Jorge”, referiu.
“Na segunda parte fiz o 2-0 num canto em que combinei com o Zinho para meter a bola ao primeiro poste, que eu iria aparecer ali. Mais tarde o Vando [jogador do Benfica] fez o 2-1, o jogo equilibrou-se, mas quando surgiu o 3-1, o Benfica perdeu totalmente o equilíbrio emocional e nós dominámos a nosso bel-prazer”, recorda Manuel Fernandes, que exemplifica a descrença anímica do Benfica a partir desse momento.
Nessa fase do jogo, recorda, ele e o seu colega no ataque, Raphael Meade, faziam movimentos e ninguém os acompanhava da defesa do Benfica, “que bloqueou, tal como o meio-campo”, a ponto de o resultado se ter avolumado daquela maneira, e “se o jogo durasse mais uns minutos o resultado teria sido ainda mais desnivelado”.
No final da partida, o seu colega Gabriel, lateral direito, precipitou-se sobre a bola e disse “esta é minha”, mas Manuel Fernandes ‘puxou dos galões’ de capitão e respondeu: “Não, não é tua, não por eu ter feito quatro golos, mas porque a minha filha faz hoje nove anos e vou oferecer-lha”.
Uma bola com inegável valor histórico, que a filha de Manuel Fernandes guarda “com muito carinho” em casa e que “até renderia um bom dinheirinho se fosse posta à venda na internet”.
“Ainda tenho na memória, quando fiz o 5-1, de cabeça, de ver os benfiquistas a arderem as bandeiras todas na parte norte da Superior, numa labareda impressionante”, lembra Manuel Fernandes, que não se considera ‘persona non grata’ entre os benfiquistas apesar de ter estado tão ligado a um dos dias mais negros da história do Benfica.
A sua explicação para isso é curiosa: “Penso que nem os benfiquistas desgostam de mim, nem os sportinguistas desgostam do Toni. Se calhar, temos uma forma de estar na vida diferente. Não há ninguém que goste tanto e defenda mais os nossos clubes, mas também sabemos respeitar os outros e sempre nos respeitámos mutuamente. Posso até dizer que o Toni é um dos meus melhores amigos que tenho no futebol”.
Curiosamente, após ter marcado o 5-1, o treinador Manuel José quis substituí-lo “talvez para sair debaixo de uma ovação”, mas não aconteceu porque o seu companheiro Fernando Mendes dirigiu-se, entretanto, ao ‘banco’ “a dizer que estava com dores nas pernas”, e Manuel Fernandes acabou por marcar mais dois golos, o sexto e o sétimo.
“Não fico na história do Sporting por causa dos 7-1, mas pelo que fiz ao longo de 12 anos no clube, embora este jogo com o Benfica tenha sido algo inesquecível, marcante para a vida, mesmo para os benfiquistas”, realça Manuel Fernandes, que nunca falhou nenhum dérbi para o campeonato nesses 12 anos, além de outros em que participou para a Taça de Portugal, a Supertaça e Taça de Honra, só tendo estado ausente de um, para a Taça, também célebre, em que o seu substituto, o brasileiro Manoel, marcou três golos.
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