Mary Tucker, de 20 anos de idade, é uma estrela em ascensão do tiro norte-americano. E, de acordo com Wall Street Journal (WSJ), está a fazer frente a um dos maiores tabus do desporto: comer doces antes de competir.

"Eu consumo realmente um pouco de açúcar mesmo antes de disparar", conta ao jornal a atleta que ficou em 6.º na categoria na disciplina de carabina 10 metros em Tóquio e que ganhou a medalha de prata na mesma disciplina, mas na categoria mista, juntamente com Lucas Kozeniesky.

O WSJ escreve que a particularidade de Tucker está no facto de ela se hipnotizar com doces quando não é suposto fazê-lo. Até porque não é especialmente difícil compreender porque é que os atiradores se abstêm de cafeína e açúcar quando competem. São vícios que podem fazer as pessoas tremerem. "É um potencial desastre para as pessoas que precisam de manusear uma arma com precisão", para citar de forma direta a publicação.

Ora, o que sucede, é que Tucker faz exatamente o oposto. Gosta de tal maneira das guloseimas que sabe melhor do que ninguém aquilo que realmente a faria tremer: não comer nenhuma.

No início, até o seu treinador estava céptico quanto a esta prática pouco comum nos atiradores. Só que depois não teve outra escolha senão oferecer-lhe um dos seus doces favoritos, umas barras de cereais rice krispies (basicamente arroz tostado com manteiga e marshmallows derretidos). Era tão pouco ortodoxo como eficaz. "Um atirador de carabina clássico olhava para aquilo e tinha um ataque cardíaco", confessa.

Só que, como está mais do que documentado por esta altura, não se sabia se seria possível levar este "petisco" adocicado para Tóquio, mais concretamente para a Aldeia Olímpica, devido a todas as restrições impostas. Recorde-se que até as deslocações dos atletas são restringidas por causa dos protocolos covid e o acesso a superfícies comerciais que vendem este tipo de produto é limitado. O que fez com que Tucker tomasse medidas. E levasse consigo 12 pacotes de Pop Tarts (bolachas) e quase 2 quilos de gomas (as dos ursinhos). 

créditos: Tauseef MUSTAFA / AFP

O perfil do WSJ sobre a jovem escreve que esta já tentou deixar o açúcar, mas descobriu que não a ajudava. Aliás, se fez algo, apenas fez com perturbasse a sua rotina — que inclui um doce antes de agarrar a sua carabina. 

"A minha maneira de ver as coisas é: descobre o que funciona para ti. Por isso, se alguém tem comido a quantidade de açúcar que tenho comido durante a toda a minha vida, não acabes com isso", frisou a jovem.

O WSJ também realça que a sua loucura (invulgar) por doces reflete igualmente o caminho (invulgar) que trilhou até ao pináculo do desporto: os Jogos. É que até há meros quatro anos não fazia isto nem de forma recreativa. Tucker passou de uma adolescente de 16 anos que nunca tinha disparado na vida para estar na corrida pelo ouro olímpico. Tanto que nem assistiu à categoria em que agora compete nos Jogos do Rio, em 2016. 

O primeiro contacto que teve com o tiro aconteceu durante o secundário, na Florida, quando frequentava uma academia militar. A atividade chamou-lhe a atenção, decidiu inscrever-se e experimentar. Olhando para esses tempos, quando se compara com os seus colegas de equipa da altura, afirma que era "a pior" do grupo. Tanto assim era que o seu treinador concordou — e acrescentou que ela não tinha potencial para melhorar muito. Tucker, depois disto, virou costas. (Mas tinha um plano.)

Irritada e motivada para provar que estava errado, pois acreditava que tinha potencial para chegar longe, abandonou a equipa e dedicou a sua existência à causa. Treinou na sua garagem durante horas todos os dias. Passou outras tantas no YouTube. Viu todos os vídeos que conseguiu encontrar dos melhores atiradores profissionais e estudou os traços comuns nas suas performances. Quando os viu de pé de uma certa forma, imitou-os. Quando deu pelo equipamento que utilizavam, teve de o ter. O resto, como se costuma dizer, é história. E doces. Muitos doces.

Claro que não será certamente uma medida que agrade ou seja recomendável para todos, mas para Tucker a ingestão de guloseimas parece ser precisamente o hábito que lhe permite ser uma das melhores atiradoras. Tanto que nos Jogos Olímpicos de Tóquio participa em três disciplinas. 

Uma delas, como se escreveu anteriormente, ficou em 6.º na categoria de Carabina 10 metros. Outra, ganhou mesmo a medalha de prata, na mesma disciplina, mas na categoria mista, juntamente com Lucas Kozeniesky. Segue-se a Carabina 3 Posições (a prova consta de 120 tiros, de joelhos, deitado e de pé), a 31 de julho.

Veremos como se sai — com a esperança que não lhe faltem gomas. 

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