Levani Botia. Nascido a 14 de março de 1899, em Vita Levu, Fiji, tem um par de nomes a si associados e o número sem fim de vídeos demonstrativos a justificá-lo.
O “Homem Demolidor” ou a “Besta”, antigo guarda-prisional, conhecido por “destruir” os adversários, obliterando-os à passagem dos seus quase 100 kg (e 1,78 metros de altura), estreou-se ao serviço da seleção fijiana de râguebi a 9 de novembro de 2013, em Lisboa, no Estádio Universitário, frente a Portugal.
Botia marcou um ensaio, o sexto das Fiji, ao minuto 80 na vitória (13-36) da nação do Pacífico Sul diante o XV português liderado pelo neozelandês Errol Brain, que misturava na equipa jovens promessas (Pedro Bettencourt e Rafael Simões), lobos do Mundial 2007 (Gonçalo e Vasco Uva) e um lusodescendente (Julien Bardy).
Foi o segundo triunfo do pequeno país, em outros tantos jogos entre as duas seleções, ambos no Estádio Universitário de Lisboa. No primeiro encontro, na janela de novembro de 2005, venceram (26-17) a então campeã europeia liderada por Tomaz Morais. Na equipa, partir da qual se começou a construir a base de jogadores para o primeiro mundial do râguebi português, morava Luís Pissarra, atual treinador adjunto da seleção nacional.
10 anos depois, Levani Botia, 34 anos, 27 vezes internacional, quase uma década a jogar no Top-14 (La Rochelle), com as faixas de campeão europeu ao peito, é um dos homens da máquina de destruição fijiana no reencontro com Portugal, na quarta e última partida do Grupo C do Mundial de França, hoje à noite (20h00) no Estádio de Toulouse.
Às Fiji (3.º classificada, 10 pontos), oitava do ranking mundial, basta um ponto para igualar a Austrália (2.ª) e saltar para os quartos de final. A suceder será a quarta vez (1987, 1999 e 2007) nas nove participações em campeonatos do mundo (falharam a qualificação para o África do Sul 1995). Isto é, podem até perder o duelo, desde que somem ponto de bónus defensivo.
Ao oitavo jogo na segunda participação num Mundial de râguebi, Portugal, 16.º da hierarquia, procura a primeira vitória de sempre em mundiais, depois das seis derrotas (4 em 2007) e um empate frente à Geórgia, no França 2023, competição onde somam os restantes dois desaires diante o País de Gales e Austrália.
5.º e último classificado no Grupo C, os lobos (2 pontos) procuram somar, pelo menos, um ponto extra defensivo para igualar a Geórgia (3 pontos), derrotada (43-19) pelo País de Gales (1.º do grupo) e fazer contas de cabeça aos critérios de desempate para conseguir o prémio de consolação de terminar em 4.º lugar e não no fundo da tabela.
Recordar 2013. Pedro Bettencourt e Rafael Simões
Do lado dos lobos, na última dança em França, no encontro número 40 e encerramento da fase de grupos, há uma ponte que liga ao tal jogo de 2013.
Bettencourt e Rafael Simões estão no XV inicial escolhido por Patrice Lagisquet, selecionador que se despede após quatros anos no cargo. A seu lado estará Luís Pissarra, adjunto. Nos gabinetes da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR) está Julien Bardy, vice-presidente a quem cabe a pasta das seleções nacionais e a ligação aos campeonatos franceses e jogadores lusodescendentes para comporem o mosaico dos lobos.
“Esta equipa mudou bastante”, confessou Rafael Simões, 29 internacionalizações, na conferência de imprensa de antevisão do Portugal-Fiji. “Nos avançados estamos diferentes. Temos jogadores mais experientes e mais versáteis”, adiantou o jogador que pode fazer três posições, 2.ª e 3.ª linha e número 8.
As diferenças entre os lobos de 2013 e 2023 foram igualmente destacadas por Pedro Bettencourt, 32 vezes internacional. “A equipa de há 10 anos era completamente diferente da atual. Temos (hoje) muitos jogadores a jogar fora de Portugal e na altura tínhamos dois ou três. E em 2013 não éramos tão bons com a bola nas mãos”, comparou. “Também a equipa das Fiji é melhor comparada com a de há 10 anos” analisou. “Será uma boa batalha”, antecipou.
Na hora de despedidas as emoções não entram em campo
A última dança dos lobos no Mundial coincide com a despedida do selecionador nacional, Patrice Lagisquet, um adeus acompanhado por alguns dos veteranos jogadores lusodescendentes, como sejam o caso de Francisco Fernandes (46 jogos como lobo) e Mike Tadjer (33). O tema voltou a dominar a antevisão último encontro de Portugal no França 2023.
“Será um grande desafio para a nossa equipa. Faremos o nosso melhor para fazer (deste jogo) uma boa memória”, disse João Mirra, adjunto de Patrice Lagisquet, selecionador nacional. “Não penso que o aspeto emocionai seja tão importante. O que acontecer no campo é mais. Reunimos todas as condições para ter uma boa performance e temos de nos focar naquilo que podemos fazer como equipa”, notou João Mirra, adjunto. “Prestaremos um tributo ao Patrice e aos jogadores no final, mas por agora, só o jogo conta”, atestou.
“Faremos esforços para surpreendê-lo (Patrice Lagisquet), mas também a todos os portugueses uma vez mais. Teremos de dar tudo”, sublinhou José Madeira, titular na 2.ª linha. “Sobre o Patrice, queremos dar-lhe uma boa surpresa, mas também a nós próprios. Isso será uma agradável surpresa para todos e daremos o nosso melhor até ao fim”, concluiu Diogo Hasse Ferreira, pilar.
Antes, no anúncio da última chamada dos 23 jogadores, Patrice Lagisquet deixou um recado. “Só quero ver se conseguem surpreender-me uma vez mais e alcançar o sucesso que merecem por tudo o que têm dado desde o início. Tenho a certeza de que (independente do resultado) não mudará o que sinto por esta equipa, mas só quero partilhar mais uma vitória, mais uma coisa boa com eles”.
“Quero que apreciem cada minuto, cada segundo, mesmo que os últimos dias tenham sido difíceis para mim porque eu, tal como jogadores, adorei o que fizemos desde o dia 26 de junho. Só quero partilhar com eles estes últimos minutos de competição”, confessou o selecionador que esteve no cargo desde julho de 2019.
Três jogadores não se estrearam no Mundial e não entram no estádio dos pontos
Se este artigo começa por falar de um jogador fijiano, o fim da história da passagem de Portugal pelo França 2023 termina com um tríptico nacional.
António Machado Santos, Simão Bento e Manuel Picão. Três nomes, três lobos que não entraram nas quatro listas dos 23 no Mundial e despendem-se do campeonato do mundo de França sem um segundo em campo.
Aos três, resta-lhes as bancadas do Estádio de Toulouse, palco onde Portugal somou, até à data, três pontos, os únicos nas duas participações em mundiais. Em 2007, em França, a equipa de Tomás Morais, em estreia no campeonato do mundo, somou o ponto de bónus defensivo na derrota com a Roménia (14-10). O França 2023 trouxe o empate (18-18) com a Geórgia e respetivos dois pontos.
“Eles não precisam de palmadas nas costas. São homens e jogadores com uma capacidade e uma qualidade brutais, mas quero dar-lhes uma palavra de agradecimento, porque estiveram connosco até ao ‘Captain’s Run’ a pensar no coletivo e deixando as dores individuais de lado. Isso é bastante importante”, fez questão de louvar João Mirra.
“Seria mais fácil dar oportunidade a todos os jogadores para jogarem durante o Mundial, mas porque esta equipa demonstrou uma enorme capacidade de competir contra qualquer adversário, decidimos manter a mesma linha e mentalidade”, atestou Lagisquet aquando da escolha dos 23. “Só quero ver se conseguem surpreender-me uma vez mais e alcançar o sucesso que merecem por tudo o que têm dado desde o início. Tenho a certeza de que (qualquer que seja o desfecho) não mudará o que sinto por esta equipa, mas só quero partilhar mais uma vitória, mais uma coisa boa com eles”, realçou a 48 horas da despedida.
“Quero que apreciem cada minuto, cada segundo, mesmo que os últimos dias tenham sido difíceis para mim porque eu, tal como jogadores, adorei o que fizemos desde o dia 26 de junho. Só quero partilhar com eles estes últimos minutos de competição”, confessou o selecionador que deixou ainda uma palavra a quem não se equipou. “Para alguns jogadores, alguns a terminarem as carreiras, esperavam jogar este último jogo, mas explicamos porque fizemos essas escolhas, mesmo que seja muito difícil para os aceitarem e compreenderem porque não estão no 23”, disse. “Para alguns jogadores as nossas escolhas foram muito difíceis de compreender porque depois de três meses e meio esperavam jogar, e também pela mentalidade que tiveram durante este período, também mereciam jogar, para ser honesto”, finalizou.
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