Na semana passada, o Ricardo Brito Reis escreveu aqui sobre a loucura que tem sido a conferência Oeste nestes primeiros meses da temporada. Catorze equipas a lutar pelos playoffs, os Denver Nuggets em primeiro lugar, os Golden State Warriors já com 11 derrotas, os Oklahoma City Thunder à frente destes, os Los Angeles Lakers também lá em cima, os Los Angeles Clippers, os Memphis Grizzlies e os Dallas Mavericks a surpreender, tem sido a loucura total. Mas, se esta conferência tem reunido a maioria das atenções, do outro lado dos Estados Unidos também não faltam motivos de interesse. Pode não ser a insanidade que tem sido a sua parente rica, mas aquela que tem sido a conferência pobre da liga nas últimas temporadas também nos tem entretido bastante este ano.
Ou alguém apostaria que, no final de Dezembro, os Toronto Raptors teriam o melhor recorde de toda a liga? E que os Boston Celtics estariam em quinto lugar da conferência? E que os Brooklyn Nets estariam a lutar pelos playoffs? Ou que os Washington Wizards estariam tão lá em baixo? Atentemos então ao que tem acontecido e a algumas equipas que têm surpreendido, ora pela negativa, ora pela positiva.
Com a saída de LeBron James dos Cleveland Cavaliers, já sabíamos que estava aberta a corrida ao trono da conferência. Mas todos (ou quase todos) esperavam que esse lugar fosse ocupado pelos Boston Celtics. Depois de, em 2017-18, terem ido até às finais de conferência e levado os Cavaliers de King James a jogo 7 SEM Kyrie Irving e Gordon Hayward, este ano, com a equipa completa, eram apontados como os maiores candidatos à sucessão.
Mas a equipa de Brad Stevens tem estado bastante abaixo dessa expetativa. Se na defesa continuam na lote dos melhores, no ataque as coisas não têm corrido tão bem. São apenas o 14.º melhor ataque, com 111 pontos marcados por jogo (o que parece muito, mas nesta explosão ofensiva que a liga tem vivido, não é). É verdade que no ano passado foram ainda piores, apenas o 18.º melhor ataque, mas, lá está, faltavam peças. Este ano, com todas as peças disponíveis e com a experiência que Jayson Tatum, Jaylen Brown e Terry Rozier foram obrigados a ganhar na temporada anterior, esperava-se muito mais. Pode ser o desafio de integrar Gordon Hayward no ataque, podem ser dores de crescimento dos miúdos Brown e Tatum, mas os verdes de Boston terão de fazer muito melhor se querem ocupar o trono que lhes parecia reservado.
Um trono do qual, neste momento, estão mais perto os Toronto Raptors. Havia, no início da época, alguns pontos de interrogação na formação canadiana. O maior de todos chamava-se Kawhi Leonard. Como regressaria o ex-jogador dos Spurs depois de um ano sem jogar? Mas havia outros. Como reagiria Kyle Lowry à troca do seu melhor amigo DeMar DeRozan? Como se adaptaria o elenco secundário? Como se portaria o estreante técnico Nick Nurse?
Mas todos pontos esses transformaram-se em pontos de exclamação. Kawhi está a jogar tão bem ou melhor do que antes! Kyle Lowry está a liderar a liga em assistências e - embora não o confesse - deve estar a adorar jogar ao lado de Kawhi! Serge Ibaka está rejuvenescido no seu novo papel de poste titular! Pascal Siakam é uma das revelações da liga! E Nick Nurse parece um veterano do banco! A época dos Raptors está a correr sobre rodas e são os maiores candidatos ao trono do Este!
Os Milwaukee Bucks também estão mais perto. Finalmente. Há anos que prometiam dar o salto e entrar na elite da conferência e este ano finalmente fizeram-no. Giannis Antetokounmpo continua a sua ascensão, está com números sensacionais (26.9 pontos, 12.9 ressaltos, 6.1 assistências, 1.3 roubos de bola e 1.3 desarmes de lançamento!) e é um dos principais candidatos ao prémio de MVP (porventura, o maior neste momento). E, desta vez, a equipa acompanha-o. Já escrevemos aqui sobre como Mike Budenholzer implementou um sistema de jogo mais rápido, mais móvel e mais eficiente, como está a maximizar o potencial deste plantel e como transformou estes Bucks em candidatos. E numa das equipas a não perder de vista.
Outra das equipas que vale a pena manter debaixo de olho são os Philadelphia 76ers. Porque entretenimento é coisa que não falta nesta equipa. Entre os tweets de Joel Embiid, a cada vez mais bizarra saga de Markelle Fultz (LeBron, se estás a ler isto, ele tem de entrar no elenco do Space Jam 2!), a evolução de Ben Simmons (e o suspense de ver quando é que - ou se alguma vez - ele vai lançar um triplo) e a chegada de Jimmy Butler são espectáculo garantido. “O Processo” acabou e entraram em modo de “ganhar agora”. E tornaram a corrida ao trono do Este ainda mais interessante.
Tornando a enveredar pelo caminho das desilusões (e desbravando novas fronteiras nessa direção), chegamos aos Washington Wizards. Nenhuma equipa tem desiludido mais que a de John Wall e companhia. É verdade que os Wizards ficarem abaixo das expectativas é já uma tradição anual, mas este ano estão a conseguir níveis inéditos de desilusão. Dwight Howard, a grande contratação do verão, tem estado no estaleiro (fez apenas 9 intermitentes jogos) e lá vai continuar mais uns meses, o plantel e o balneário parecem cada vez mais disfuncionais e os dirigentes da equipa fizeram uma última tentativa de salvar esta época (e este grupo) com a troca por Trevor Ariza. Mas o potencial de desastre paira sobre esta equipa. É ficar atento.
Também os Chicago Bulls têm atingido níveis inéditos de disfunção. Reconstrução era a palavra-chave para este ano e não se esperava muito em termos competitivos desta formação. Mas também não se esperava uma reconstrução tão tumultuosa. Entre o despedimento de Fred Hoiberg, derrotas históricas e a revolta dos jogadores com o novo treinador dias depois da sua contratação, os Bulls têm sido uma das anedotas da temporada. E serem gozados pelos Sacramento Kings é bater no fundo.
Para acabar numa nota positiva, terminamos a nossa ronda com os Brooklyn Nets: uma equipa que tinha (tem) como principais objetivos para 2018-19 desenvolver os seus jovens, conseguir mais uma ou outra escolha em drafts futuros e limpar a folha salarial para atacar a "free agency" do próximo Verão, mas que está na corrida pelos playoffs. Uma equipa sem super-estrelas, mas que (também por essa razão e por necessidade) joga um basquetebol colectivo e aguerrido. São, por isso, uma das equipas mais interessantes e divertidas de seguir nesta conferência. São os Clippers do Este.
Pode não ser o Oeste selvagem, mas este Este também tem a sua selvajaria. E, entre equipas que nos estão a encher o olho dentro de campo e outras que nos estão a entreter fora dele, é uma conferência que merece uma espreitadela.
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