A 15 de junho de 2004, os Detroit Pistons receberam e bateram os Los Angeles Lakers por 100-87, no jogo 5 das Finais, conquistando o seu terceiro e último título da NBA. Liderados pelo base Chauncey Billups, eleito MVP das série decisiva, os Pistons superaram uns californianos que contavam com uma autêntica constelação de estrelas, incluindo Kobe Bryant, Shaquille O'Neal, Gary Payton e Karl Malone.

Este foi o derradeiro jogo de Shaq pelos Lakers, já que o poste seria trocado para os Miami Heat um mês depois. Esta foi, também, a última vez que uma equipa da liga ganhou o anel de campeão sem que, na fase regular, estivesse no top-11 das eficiências ofensiva e defensiva. Nas últimas 16 temporadas, esse é o segredo para vencer o título da NBA: equilíbrio entre boa defesa e bom ataque.

De acordo com o site NBA.com, apenas dois conjuntos quebraram esta tendência desde a viragem do século. Os Lakers de 2000/2001 foram campeões depois de, na fase regular, terem combinado o melhor ataque da liga (107.0 pontos por cada 100 posses de bola) com a 22.ª melhor defesa ou, por outras palavras, com a 8.ª pior eficiência defensiva da prova (103.6 pontos sofridos por cada 100 posses de bola). A outra exceção à regra foram os tais Pistons de 2003/04 (2.ª melhor defesa e 19.º melhor ataque).

Ainda assim, ambas as equipas equilibraram o ataque e a defesa nos playoffs. Os Lakers de 2001 lideraram os rankings das eficiências ofensiva e defensiva na fase a eliminar da competição - de 103.6 pontos sofridos por cada 100 posses de bola, na fase regular, baixaram para apenas 96.4 nos playoffs -, enquanto os Pistons de 2004 subiram de 2.º para 1.º na eficiência defensiva e melhoraram de 19.º para 8.º na eficiência ofensiva, entre fase regular e playoffs.

«Fast forward» para o presente. Este ano, e a pouco mais de uma semana do termo da fase regular, há cinco equipas que cumprem a tal premissa de estar no top-11 em ambas as eficiências: L.A. Clippers (2.º melhor ataque e 9.ª melhor defesa), Utah Jazz (4.º ataque e 3.ª defesa), Milwaukee Bucks (5.º ataque e 7.ª defesa), Denver Nuggets (6.º ataque e 11.ª defesa) e Phoenix Suns (7.º ataque e 6.ª defesa).


Ouça aqui o episódio desta semana do Bola ao Ar, podcast sobre NBA produzido pela MadreMedia e apresentado por João Dinis e Ricardo Brito Reis:


Os L.A. Lakers, atuais campeões em título, detêm a melhor eficiência defensiva da liga e apenas o 24.º melhor (ou 7.º pior) ataque e os Miami Heat, finalistas vencidos da temporada passada, também têm muito melhor desempenho na defesa (8.ª) do que no meio-campo ofensivo (22.º), mas tanto Lakers como Heat estiveram muito desfalcados ao longo da época. Já os Philadelphia 76ers, líderes da conferência Este e também apontados como candidatos, ostentam a 2.ª melhor defesa e o 13.º melhor ataque.

E os Nets? Bem, os Nets de 2020/21 têm como cartão de visita a melhor eficiência ofensiva da história da NBA, marcando 116.9 pontos por cada 100 posses de bola. Apesar de "o melhor ataque da história da NBA" ser uma expressão que fica no ouvido, convém sublinhar que os seis melhores ataques desta época - Nets, Clippers, Trail Blazers, Jazz, Bucks e Nuggets - são, igualmente, os seis melhores ataques de sempre. Posses de bola cada vez mais curtas e maior volume de lançamentos de três pontos, blá, blá, blá.

O problema dos Nets é mesmo o meio-campo defensivo, já que contam apenas com a 23.ª melhor (ou 8.ª pior) defesa de toda a liga, que sofre 113.2 pontos por cada 100 posses de bola. A saída do poste Jarrett Allen, envolvido na troca que levou James Harden para Brooklyn, não ajudou. A ausência prolongada de Nicolas Claxton, no protocolo de deteção e controlo da covid-19, também não.

Mais do que esperar uma melhoria a conter os adversários, os adeptos dos Nets salivam pelo regresso de Harden e do monstro de três cabeças composto por Kevin Durant, Kyrie Irving e o antigo jogador dos Houston Rockets, que jogaram juntos em apenas sete partidas e partilharam o campo durante meros 186 minutos. Nessa pequena amostra, a eficiência ofensiva dos Nets escalou para uns estratosféricos 122.4 pontos marcados por cada 100 posses de bola. Imparáveis.

Nos jogos contra Lakers, Clippers, Bucks, 76ers, Jazz, Suns, Nuggets e Heat, esta temporada, os Brooklyn Nets somam 11 vitórias e 7 derrotas. Nada de preocupante, até porque tinham 10-1 antes da lesão de James Harden.

O desafio que se coloca a Durant, Irving, Harden, Nash e companhia é subir o nível de competência defensiva quando chegarem os playoffs, tal como fizeram os Lakers de 2001. Ou - e parece que esta poderá ser mesmo a única opção dos Nets - provar que há tradições que podem ser quebradas e que a combinação de um excelente ataque com uma defesa medíocre é suficiente para ser campeão.