Há duas semanas afirmámos que os Playoffs são a nossa altura favorita do ano. Como defendemos nesse artigo, é nesta fase da temporada que “o basquetebol da NBA atinge o seu expoente máximo”.

É nesta altura que “vemos uma riqueza tática que não vemos na temporada regular. É isso que os Playoffs fazem à NBA (e ao basquetebol): elevam o nível de jogo, obrigam a soluções criativas e inovadoras. Obrigam as equipas a tentar soluções diferentes. Fazem o jogo evoluir. E, para além da emoção, da intensidade, da incerteza e daquilo que está em jogo, é essa dimensão estratégica que torna este o momento mais alto da melhor liga do mundo.”

Outra das coisas que os Playoffs nos proporcionam como mais nenhuma ocasião da temporada são as grandes performances individuais e as histórias de superação. Como escreveu o Ricardo na semana passada, “a história dos Playoffs da NBA é fértil em momentos de superação, uns mais emocionais (como o de Isaiah Thomas), outros apenas relacionados com a performance de um ou mais jogadores em determinado jogo.”

Essas são duas das maiores razões para esta ser a nossa altura favorita do ano. Mas há ainda uma terceira: é nesta fase da temporada que nascem as maiores rivalidades da liga.

O facto de termos uma série (à melhor de sete) com várias partidas entre as mesmas equipas não eleva apenas o nível táctico a um patamar inédito no resto do ano. Também a competitividade, as picardias e as antipatias entre jogadores atingem níveis inauditos no resto da temporada.

Junte-se a isso o facto da parada estar mais alta do que nunca e das equipas que vencem as suas séries mandarem as outras para casa e temos uma receita perfeita para as rivalidades entre jogadores e equipas ascenderem a níveis lendários.

Este ano já tivemos uma amostra daquilo que enfrentar sempre o mesmo adversário pode provocar: a série entre os Boston Celtics e os Chicago Bulls está a ser fértil em trocas de galhardetes; a série entre os Washington Wizards e os Atlanta Hawks está a ser surpreendentemente picada; e Russell Westbrook e Patrick Beverley certificaram-se que não faltou animação na série entre os Oklahoma City Thunder e os Houston Rockets.

Enquanto esperamos pelos próximos capítulos destas e por aquelas que se seguirão nestes playoffs, vamos continuar a vasculhar no baú da NBA e recordar algumas das maiores, mais intensas e mais memoráveis rivalidades de sempre:

Bill Russell vs Wilt Chamberlain

A primeira grande rivalidade da história da NBA. Maior do que a rivalidade entre as suas equipas, a rivalidade era entre os dois melhores e mais dominantes jogadores dessa era. Chamberlain era o maior talento dessa geração, mas Russell tinha a melhor equipa. Os seus Celtics dominaram os anos 60 e ganharam 9 dos 10 títulos dessa década (sete deles consecutivos). O único ano dessa década em que não ganharam? Ganharam os Philadelphia 76ers de Chamberlain, em 1967.



Chicago Bulls vs Detroit Pistons

Dizer que esta era uma grande rivalidade é dizer pouco. Havia uma verdadeira animosidade (para não dizer ódio) entre estas duas equipas, que protagonizaram alguns dos mais intensos e físicos duelos da história. Os Pistons usavam e abusavam da agressividade e da intimidação física na famosa estratégia defensiva baptizada com o nome da estrela dos Bulls, The Jordan Rules, e foram a pedra no sapato de Michael Jordan durante anos.

Os Bad Boys eliminaram os Bulls três anos consecutivos (entre 88 e 90), até que Chicago conseguiu finalmente derrotá-los em 91, a caminho do seu primeiro título.

A forma como terminou essa Final da Conferência Este é um dos momentos mais infames da história dos playoffs, com os Pistons a abandonar o campo antes de se esgotar o tempo de jogo e sem cumprimentar os adversários.

Chicago Bulls vs New York Knicks

O grande rival dos Bulls nos anos 90 não vinha do Oeste (à exceção de 97 e 98, as Finais foram sempre contra equipas diferentes). O seu maior rival da década foram os Knicks de Patrick Ewing (e John Starks e Charles Oakley e Anthony Mason, entre outros). Treinados por Pat Riley e a fazer lembrar os Bad Boys de Detroit pela forma agressiva como defendiam, protagonizaram séries épicas com os Bulls, com jogadas inesquecíveis como esta:

Ou esta:

Ou esta:

Os Jazz foram a equipa que esteve mais perto de derrotar os Bulls numas Finais, mas os Knicks foram a sua maior ameaça e quem esteve mais perto de os derrotar numa série de playoffs.

Entre 89 e 96, Bulls e Knicks enfrentaram-se sete vezes nos playoffs, com os Bulls a vencerem seis vezes. Sim, quem era fã dos Knicks nos anos 90, não podia ver os Bulls à frente.

Os Bulls foram para os Knicks aquilo que, antes, os Pistons tinham sido para os Bulls: a parede em que esbarravam sempre. Quando, finalmente, os conseguiram derrotar (em 94, quando Jordan se retirou pela primeira vez para ir jogar basebol), perderam depois nas Finais com os Houston Rockets.

New York Knicks vs Indiana Pacers

Se os Knicks passaram a primeira metade da década de 90 a esbarrar nos Bulls, passaram a segunda metade às cabeçadas com os Pacers de Reggie Miller. Entre 93 e 2000, enfrentaram-se seis vezes nos playoffs, numa rivalidade que teve momentos que fazem parte da mitologia da liga: os 8 pontos em 9 segundos de Reggie Miller, os 25 pontos de Miller no 4.º período do jogo 4 em 95 que culminou com o gesto de estrangulamento para Spike Lee ou a jogada de 4 pontos de Larry Johnson na Final de Conferência de 99.

Los Angeles Lakers vs San Antonio Spurs


As duas equipas que dominaram o Oeste nos anos 2000 encontraram-se sete vezes nos playoffs entre 99 e 2013 (com quatro vitórias para os Lakers e três para os Spurs). E quem saiu vencedor de cada uma dessas séries avançou sempre até às Finais. Basicamente, quem vencia o duelo entre eles, ganhava a coroa do Oeste (e, na maioria das vezes, da NBA). Em 11 das 12 Finais entre 99 e 2010, uma delas marcou presença.

Foi a rivalidade que marcou a década na conferência Oeste e um duelo entre os dois melhores jogadores da sua geração (Kobe Bryant e Tim Duncan).

Os fãs dos Spurs ainda têm pesadelos com jogadas como esta:

Mas os dos Lakers também não têm boas recordações destes senhores:

Ou deste:


Cleveland Cavaliers x Golden State Warriors


Duas Finais entre si poderia ainda não ser suficiente para entrar no panteão. Mas duas Finais tão memoráveis (e com uma possível terceira a caminho para tira-teimas) é motivo mais do que suficiente para entrar nesta lista.

Porque alguém alguma vez vai esquecer estas duas Finais, e em particular a do ano passado, com a exibição monstruosa de LeBron James, o trash talk com Draymond Green e Klay Thompson e a recuperação inédita dos Cavs? (os Warriors vão vingar este ano, já ouvimos os fãs dos Warriors a dizer Óptimo, mais um capitulo para tornar este confronto ainda mais épico).

Lakers vs Celtics | Magic vs Bird


É claro que não nos esquecemos desta. Todas as outras estão por ordem cronológica, menos esta, que deixámos para o fim. Porque esta é A rivalidade da história da NBA. Aquela contra a qual todas as rivalidades são medidas. A rivalidade que marcou uma era e mudou para sempre a liga.

Uma rivalidade que já vinha de trás (entre Magic e Bird desde os tempos da universidade - desde a Final da NCAA de 79, entre Michigan State e Indiana State - e entre as duas equipas desde os primórdios da liga) e que continuou (e cresceu) na NBA.

Magic e Bird foram os dois melhores jogadores dos anos 80, dividiram títulos nessa década e foram dois dos maiores responsáveis pela enorme popularidade que a NBA conquistou nesse período. Quem seguia a NBA nos anos 80 era fã de uma destas equipas e torcia por um destes jogadores.

Mas foram mais do que isso. Foram também um exemplo de rivalidade saudável. De como é possível serem rivais dentro de campo e amigos fora deste. Como é possível ser competitivo e manter o respeito pelo adversário. Como é possível não ceder um centímetro e querer derrotar o outro sem que isso tenha de envolver ódio ou animosidade. É a maior rivalidade de sempre e aquela que devemos recordar para sempre.

Márcio Martins já foi jogador, oficial de mesa, treinador e dirigente. Atualmente, é comentador e autor do blogue SeteVinteCinco. Não sabe o que irá fazer a seguir, mas sabe que será fã de basquetebol para sempre.