Onde estavam no dia 25 de Abril de 2005? LeBron James estava em casa, a assistir aos playoffs da NBA pela televisão. O que não estava LeBron (nem algum de vós) a fazer? Não estava com um iPhone na mão, não estava a publicar uma fotografia no Instagram, nem estava a escrever um tweet. Porque ainda nenhuma dessas coisas existia. Tirem um minuto para pensar nisso. A última vez que LeBron não marcou presença nos playoffs o mundo era, literalmente, outro.
Se imaginar um mundo sem nenhuma dessas coisas exige já um considerável esforço de recordação, imaginar uma NBA sem LeBron nos playoffs parece exigir um esforço ainda maior. Mas é o que irá acontecer este ano. Pela primeira vez em 14 temporadas James estará em casa a assistir aos playoffs pela televisão. Desta vez, com um iPhone na mão.
Nem os fãs mais ferrenhos esperavam que os Los Angeles Lakers fossem candidatos ao título este ano ou que LeBron James mantivesse viva a sua série de Finais consecutivas (ok, alguns esperavam, mas para esses existe ajuda profissional), mas também poucos esperariam que não fossem sequer aos playoffs. O plantel era obviamente insuficiente para fazer frente às melhores equipas do Oeste, mas parecia ser mais do que suficiente para chegar à segunda fase da temporada.
O que correu mal então? Quem são os responsáveis por este fracasso? Olhemos para os suspeitos:
Suspeitos n.º 1 e 2 - Magic Johnson e Rob Pelinka
A época dos Lakers começou a correr mal logo em julho. Quer dizer, primeiro, correu muito bem. Mas a decisão de LeBron de se juntar aos angelinos não dependeu de Johnson e Pelinka. James já tinha decidido que queria ir para Los Angeles e não foi por nada que o Presidente das Operações de Basquetebol e o Director Geral fizeram que ele escolheu os Lakers.
Caiu-lhes uma super-estrela no colo, portanto. Uma super-estrela que joga com a bola na mão e precisa de atiradores à sua volta. E que fizeram Magic e Rob? Contrataram Rajon Rondo, Lance Stephenson, JaVale McGee e Michael Beasley. Que elenco! O potencial era maior para comédia (ou drama. Ou ambos.) do que para sucesso dentro de campo.
Escreveu Luis de Camões n’Os Lusíadas’ que “um fraco rei faz fraca a forte gente”. Mas o contrário também é verdade. Fraca gente faz fraco um forte rei. Portanto, sem um exército adequado, nem o Rei mais capaz consegue salvar o dia.
E se o começo não foi bom para Johnson e Pelinka, a continuação foi ainda pior. A novela em torno da transferência de Anthony Davis destruiu a química da equipa e a moral dos jogadores envolvidos, hipotecando o que restava da temporada e quaisquer hipóteses de se apurarem.
Suspeito n.º 3 - LeBron James
LeBron diz que sabia no que se estava a meter. Crendo nas suas palavras, ou acreditava que aconteceria o melhor cenário possível (que os jovens corresponderiam às melhores expetativas, que o elenco de renegados encaixasse como ninguém achava possível - e que, com ele, tudo isso fosse possível); ou acreditava que, se não acontecesse, ele seria capaz de carregar a equipa até aos playoffs, pelo menos.
Ou, se calhar, o seu plano nunca foi terminar a temporada com este plantel. O que nos leva à parte que teve a mão (ou pelo menos o aval) de James: a perseguição a Anthony Davis (ou alguém acredita que LeBron não sabia de nada?).
Recuperando o verso de Camões, agora na sua forma original: “fraco rei faz fraca a forte gente”. E LeBron também tem a sua grande quota-parte de responsabilidade no descalabro da equipa. Porque, para além dessa orquestração nos bastidores que saiu pela culatra, o Rei também não foi o melhor modelo em campo para estes miúdos. Quando as coisas começaram a correr mal, LeBron disse “até p'ró ano”. E os outros seguiram.
Mas este monarca também nunca foi alguém com muita paciência para jovens jogadores e sempre colocou a sua agenda pessoal à frente da da equipa (aí, justiça lhe seja feita, ele não é caso único e vários outros grandes jogadores da história o fizeram). Ele tinha o seu plano e alguns destes Lakers não faziam (não fazem) parte do mesmo. Nesse plano, esta temporada era apenas o ano 1 de um projeto a vários anos.
No futuro, poderemos olhar para trás e para esta temporada fracassada como apenas um dano colateral na execução desse plano, mas, para já, LeBron é um dos maiores responsáveis pela mesma.
Suspeito n.º 4 - Luke Walton
Este tem um atenuante. Porque já sabemos que numa equipa de LeBron o treinador é um parceiro e nunca exclusiva e totalmente treinador. Caiu-lhe no colo uma super-estrela que não abdica do controlo (e, pior ainda, um ex-colega de equipa) e todos os planos de desenvolvimento de jogadores que ele e os Lakers podiam ter foram por água abaixo.
Podemos dizer que não fez isto ou aquilo, que podia ter usado esta rotação ou aquela, que podia ter feito mais assim ou mais assado, mas o cenário e os objetivos mudaram completamente com a chegada de LeBron. E se treinadores mais estabelecidos não conseguiram impor a sua agenda, também não era Luke Walton que o iria conseguir. Que podia fazer? Chegar aos patrões e dizer não trabalhava nessas condições? Foi mais vítima das circunstâncias do que culpado pelas mesmas.
Suspeito n.º 5 - Sorte
A falta dela, para ser mais preciso. A offseason foi questionável e o plantel era desequilibrado, mas, mesmo assim, ninguém apostava contra LeBron James. Ele seria capaz de levar quatro tipos do Inatel aos playoffs. Se não se lesionasse, claro.
No dia de Natal, quando se lesionou, a equipa estava em 4.º lugar da conferência Oeste. Quando regressou, 18 jogos depois, eram nonos. Para além desta ausência prolongada de LeBron, também Lonzo Ball e Rajon Rondo perderam grande parte da temporada e Brandon Ingram perdeu a parte final da mesma.
Nunca saberemos se este plantel saudável sobreviveria à novela Anthony Davis e se chegaria aos playoffs. Mas se com todos os jogadores disponíveis já não seria fácil, assim ficou impossível.
Como vimos, foram vários os suspeitos que conspiraram para este desfecho. Podemos dizer que este foi mais culpado que aquele ou que aquele foi mais culpado que aqueloutro, mas encontrar um só culpado parece tarefa impossível. “Fraco rei faz fraca a forte gente”. Fraca gente faz fraco um forte rei. Fraca sorte faz fraco um forte rei e ainda mais fraca a fraca gente. Tudo versões possíveis para este caso.
Fraco rei, fraca gente, fraca sorte, fraco resultado.
No futuro, podemos olhar para trás e para esta temporada fracassada como apenas um dano colateral na execução do grande plano. Se conseguirem Anthony Davis (ou Kawhi Leonard, ou outros dos grandes nomes da free agency deste Verão), este poderá ter sido apenas um passo atrás para dar dois à frente. Para já, esta época de 2018-19 foi um monumental fracasso. Vamos descobrir daqui a uns meses se será recordada como alguma outra coisa.
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