Realizou-se, na passada quinta-feira, a seleção anual de jogadores universitários (e internacionais) por parte das equipas da liga norte-americana de basquetebol. Para quem está menos familiarizado com o processo, uma explicação rápida: todos os anos, as 30 equipas da NBA podem escolher novos jogadores entre os jogadores universitários e internacionais elegíveis (jogadores com pelo menos 19 anos ou um ano de frequência universitária e menos de 24 anos; após essa idade todos os jogadores passam a ser agentes livres e podem ser contratados livremente pelas equipas).
As 14 equipas que não se apuraram para os playoffs na época anterior sorteiam entre si a ordem de escolha (com a equipa que terminou com o pior recorde no ano anterior a ter maiores probabilidades de escolher primeiro, a que terminou com o segundo pior recorde a ter as segundas maiores probabilidades de ganhar a primeira escolha, e assim sucessivamente) e as 16 que se apuraram para os playoffs escolhem pela ordem inversa àquela que terminaram a temporada. Este sistema foi desenhado para aumentar o equilíbrio da liga, possibilitando que as piores equipas escolham os melhores jogadores e possam, em teoria, regressar ao topo da liga.
Este ano a equipa a quem coube a sorte de escolher primeiro foram os Philadelphia 76ers (após uma troca com os Boston Celtics, que ganharam a 1.ª escolha, mas aceitaram trocar a mesma pela 3.ª escolha dos Sixers) e a que escolheu em segundo foram os Los Angeles Lakers. Comecemos por aí.
Los Angeles Lavars
Agora que já decorreram alguns dias desde a realização do draft, vamos lá a uma reação mais a frio à escolha de Lonzo Ball por parte dos Lakers: nããããããooooooooo!!!
Um pouco mais a sério: o base da universidade de UCLA é uma escolha que a equipa de Los Angeles não podia deixar passar. É um jogador com tanto potencial que não podiam perder a oportunidade de o escolher. Mesmo com a desvantagem de ter de aturar o seu desbocado pai, LaVar Ball.
Sim, esse senhor que tem dominado as manchetes (pelas piores razões) não é uma figura que nos inspire muita (ou qualquer) simpatia e, como fãs dos Lakers, ter de torcer pela família Ball é algo que ainda estamos a tentar digerir.
Após este desabafo, voltamos a vestir a camisola de fãs da NBA para deixar aqui uma mão cheia de notas sobre a noite do draft.
O fim do Processo?
Os Sixers foram uns dos grandes vencedores da noite e conseguiram a peça que faltava para abandonar o fundo da tabela. Já eram vencedores desde que fizeram a troca com os Celtics, pois da possibilidade de terem de selecionar (com a 3.ª escolha que tinham originalmente) um jogador que não encaixaria tão bem com as peças atuais, passaram para a possibilidade de escolher um jogador perfeito para complementar essas peças.
Markelle Fultz é o base com o maior e melhor arsenal ofensivo deste draft, capaz de fazer de tudo no ataque e capaz de jogar com e sem bola, o que o torna num base perfeito para jogar ao lado de Ben Simmons (que é um excelente passador e vai ser também, muitas vezes, responsável por organizar o ataque da equipa). Se Fultz, Simmons e Embiid se mantiverem saudáveis, têm aqui uma espinha dorsal para, daqui a uns anos, estar no topo da liga.
Ainda não foi desta, Celtics
Os Celtics estão na posição mais invejável da liga. Têm o melhor de três mundos: uma equipa de topo, escolhas altas no draft e espaço salarial para contratar.
Como explicámos acima, as primeiras escolhas no draft são, normalmente, para as piores equipas. Mas, em virtude da troca que fizeram com os Brooklyn Nets há uns anos (quando trocaram Paul Pierce e Kevin Garnett para a equipa nova-iorquina), as escolhas dessa equipa pertencem-lhes. E como os Nets são, atualmente, a pior equipa da liga, dá-se esta sorte dos Celtics andarem pelo topo da liga e, ao mesmo tempo, estarem entre as que escolhem primeiro.
São a equipa da liga com mais peças para usar e os seus fãs continuam à espera do momento em que vão lançar a candidatura ao título (vá lá, fãs dos Celtics, nem vocês acreditam que já são; vocês sabem que precisam de mais).
Ainda não foi este ano que trocaram a escolha no draft pela estrela que falta à equipa, mas selecionaram Jayson Tatum, mais um jovem extremo com tremendo talento ofensivo para juntar à já boa equipa que têm. E (lá está a posição invejável) ainda têm espaço salarial para ir atrás dessa estrela este Verão.
Os Kings tiveram uma excelente noite
Vlade Divac e os dirigentes dos Kings habituaram-nos a algumas decisões questionáveis (ou inquestionavelmente más) nas últimas épocas, mas desta vez foram responsáveis por um dos melhores drafts (se não o melhor draft) da noite.
Escolheram, na 5ª posição, De’Aaron Fox, um dos melhores bases da colheita deste ano (e uma posição que a equipa precisava urgentemente de preencher); com a 15ª escolha, sacaram Justin Jackson, um extremo talentoso e que complementa bem as outras peças da equipa; apostaram em Harry Giles, que é um dos jogadores mais talentosos deste draft e estaria entre os primeiros se não tivesse o historial de lesões que tem (é um risco, claro, mas com a 20ª escolha, é uma aposta justificada e que pode valer bem a pena); e, na 34ª posição, apostaram também em Frank Mason, outro jogador muito talentoso, que foi Jogador Universitário do Ano e que estaria entre os primeiros se não tivesse “apenas” 1,83m.
O último base baixinho, talentoso e guerreiro em que apostaram chamava-se Isaiah Thomas (é certo que depois deixaram-no sair, mas devem ter aprendido a lição) e esta pode ser outra aposta que lhes corre muito bem.
Este ano é que é, Wolves
Outros dos grandes vencedores da noite foram os Timberwolves. Não pelas escolhas que fizeram, mas antes pela troca que concretizaram nessa noite. Enviaram Zach LaVine, Kris Dunn e a 7.ª escolha no draft para os Chicago Bulls e receberam Jimmy Butler.
À segunda tentativa, Tom Thibodeau consegue o jogador que queria. No draft do ano passado tinha feito uma oferta semelhante aos Bulls, que desta aceitaram.
Há duas épocas que dizemos que os Wolves vão ser uma das equipas mais excitantes da liga e uma das equipas a seguir mais atentamente, mas este ano parece que é seguro dizer isso.
Este ano é que os Wolves vão aos playoffs.
Apertem os cintos, fãs dos Bulls
Já para os lados de Chicago, playoffs é coisa que não devem ver tão cedo. Os dirigentes dos Bulls quiseram roubar o lugar de pior front office da liga aos Kings e fizeram uma das piores trocas dos tempos recentes. Trocar Jimmy Butler pode ser defensável (a equipa não estava a ir a lado nenhum e decidir recomeçar do zero é uma opção válida), mas o que conseguiram em troca de um All Star com a qualidade de Butler foi muito pouco.
Bem, pelo menos, depois de andarem num limbo em que ora diziam que queriam reconstruir e faziam mudanças nesse sentido, ora contratavam Dwyane Wade e Rajon Rondo e tentavam (e falhavam) ser competitivos no presente, decidiram-se por uma direção. Agora o caminho é claro. É aguentar a travessia no deserto e esperar pelo que vai sair dali, fãs dos Bulls.
Enquanto isso, Dwight Howard também foi trocado (ninguém reparou?), os Cleveland Cavaliers despediram o general manager David Griffin e estão de repente numa instabilidade e incerteza inacreditável para uma equipa que vem de três Finais consecutivas, Paul George pode (deve) mudar de ares neste Verão, Chris Paul e Blake Griffin são free agents, há rumores dos San Antonio Spurs quererem trocar LaMarcus Aldridge e procurarem outra estrela, os Boston Celtics não querem ficar por aqui e os Houston Rockets andam atrás de todos os free agents possíveis e imaginários.
Portanto, este Verão promete ser muito, mas muito animado. Esta noite do draft foi só o aperitivo. Mantenham-se ligados.
Márcio Martins já foi jogador, oficial de mesa, treinador e dirigente. Atualmente, é comentador e autor do blogue SeteVinteCinco. Não sabe o que irá fazer a seguir, mas sabe que será fã de basquetebol para sempre.
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