Se têm acompanhado, mesmo que na diagonal, esta temporada da liga norte-americana de basquetebol, já devem ter ouvido aqueles dois nomes umas quantas vezes.

O primeiro, o base dos Oklahoma City Thunder, tem-nos brindado com exibições sobre-humanas noite sim noite sim e está cada vez mais perto de alcançar um feito que parecia impossível na NBA moderna: terminar a época com uma média de triplo-duplo.

O segundo, o extremo-base transformado pelo treinador Mike D’Antoni em base a tempo inteiro dos Houston Rockets, está a ultrapassar todas as expetativas que tínhamos antes da temporada, é o maestro de um dos ataques mais prolíficos da liga e tem liderado os texanos até um surpreendente terceiro lugar na conferência Oeste.

Dizer que estes dois estão a fazer uma grande temporada é o eufemismo do ano. Ambos estão com números individuais de cair o queixo (32.1 pontos, 10 assistências e 10.5 ressaltos por jogo para Russell Westbrook; 29 pontos, 11.3 assistências e 7.9 ressaltos por jogo para James Harden) e, juntos, são responsáveis por 45 dos 79 triplos-duplos que já tivemos este ano (que, já agora, é o número mais alto de sempre numa época da NBA).

Por isso, é sem surpresa que os seus nomes monopolizam, desde o início da época, as discussões sobre o prémio de Jogador Mais Valioso (MVP) de 2017. Mas será que esta corrida pelo MVP é mesmo uma corrida apenas a dois?

Há um jogador em Cleveland, LeBron James de seu nome, que tem feito o seu melhor para contrariar essa ideia. Se as suas médias da época já são de encher o olho aos fãs mais exigentes (26 pontos, 8.8 assistências e 8.2 ressaltos), o que dizer daquilo que tem feito no último par de meses? Nos últimos 19 jogos, está com médias de 26.5 pontos, 10.4 assistências e 8.6 ressaltos, com um acerto de 58.7% nos lançamentos de campo e 50.8% nos de três pontos. Produção excepcional como habitualmente, mas com mais eficiência do que nunca. LeBron pode não ser perfeito, mas tem andado lá perto nos últimos tempos.

E, se mais argumentos são precisos para incluir o seu nome na corrida, basta olhar para os Cavaliers sempre que ele não joga para ver o quão valioso é para a equipa. Os campeões perderam os quatro jogos em que ele descansou e as exibições da equipa nesses jogos… bem, digamos que não se assemelharam muito a uma equipa campeã.

E há outro jogador em San Antonio, Kawhi Leonard de seu nome, que também tem feito a sua parte para desmontar a teoria da corrida a dois. O extremo dos Spurs tem os números (26.3 pontos, 6 ressaltos, 3.4 assistências e 1.9 roubos de bola), um impacto defensivo que vai muito para além daquilo que os números podem medir e uma queda para brilhar quando mais importa. Nos jogos contra as melhores equipas de ambas as conferências e contra as equipas dos outros candidatos a MVP (Celtics, Cavaliers, Warriors, Rockets e Thunder), os Spurs estão com um recorde de 8 vitórias e apenas uma derrota e Kawhi está com médias de 30.8 pontos, 5.8 ressaltos, 3.6 assistências e 2.1 roubos de bola.

Há dois dias, na vitória contra os Rockets de James Harden, apresentou o seu caso para MVP em apenas 10 segundos:

Após esse jogo e essa incrível sequência final, o treinador dos Spurs, Gregg Popovich, resumiu também o caso em poucos segundos: “O desarme é o que o faz especial. Obviamente, o triplo... toda a gente faz isso. Mas não conheço quem vá ao outro lado e faça o que ele faz. Não muita gente, de forma consistente, durante todo o jogo, jogo após jogo.”

E não nos esqueçamos ainda daquilo com que um jogador dos Golden State Warriors, Kevin Durant de seu nome, nos estava a brindar antes da sua lesão. KD estava a fazer a temporada ofensiva mais eficiente da carreira e a defender melhor que nunca. Infelizmente, a lesão no joelho sofrida na semana passada (que o deve manter de fora, pelo menos, até ao fim da temporada regular) vai deixar o seu nome irremediavelmente para trás nesta corrida.

Desde Michael Jordan, em 1989, que ninguém faz médias de 25 pontos, 8 ressaltos e 8 assistências. Westbrook, Harden e James estão - os três! - a fazê-lo este ano. E se a Leonard lhe faltam algumas assistências e um par de ressaltos para entrar nesse lote, compensa isso com defesa. Nenhum dos outros tem o impacto do outro lado do campo que o extremo dos Spurs tem.

Se Westbrook terminar a época com média de triplo-duplo, será muito difícil (se não impossível) que o painel de jornalistas e comentadores que vota ignore esse feito histórico e não lhe dê o prémio de MVP. Mas esta já não é uma corrida isolada, e muito menos uma corrida a dois. E se Westbrook e Harden abrandarem neste troço final da verdadeira maratona que é a temporada regular da NBA, podem ver-se surpreendentemente ultrapassados mesmo em cima da meta.

Hoje não temos nenhuma citação, mas terminamos com um provérbio: Até ao lavar dos cestos é vindima. E LeBron e Leonard continuam a encher os seus.

Márcio Martins já foi jogador, oficial de mesa, treinador e dirigente. Atualmente, é comentador e autor do blogue SeteVinteCinco. Não sabe o que irá fazer a seguir, mas sabe que será fã de basquetebol para sempre.