A vitória desta noite, frente aos Atlanta Hawks, deu aos Mavericks uma sensação de alívio e isso foi evidente nas palavras de Luka Dončić. "Não foi perfeito, mas ganhámos e isso é o que mais importa. É tudo o que importa, para mim. Ficámos felizes, porque esta foi uma fase difícil", disse o esloveno, numa referência à série de seis derrotas consecutivas que somavam antes da partida desta madrugada.

À entrada da jornada desta noite, os Dallas Mavericks eram a única equipa da NBA só com derrotas desde 23 de janeiro. Foram praticamente duas semanas sem ganhar qualquer jogo, mesmo com o regresso dos cinco atletas, entre titulares e jogadores da rotação principal de Carlisle, que falharam quase três semanas de competição por questões relacionadas com a covid-19. Aliás, os texanos não tinham a equipa completa e sem ausências há mais de 400 dias (4 de dezembro de 2019).

A falta de coesão e trabalho de continuidade é evidente e a consequência é óbvia. A quebra de rendimento gera derrotas e, neste período de duas semanas, os Mavs revelaram números preocupantes. Reforçaram o estatuto de pior equipa da liga nos rankings do lançamento de três pontos (eficácia de 30.1%, com apenas 9.3 triplos marcados por jogo) e dos ressaltos (37.5 por partida), e apresentaram o 10.º pior ataque e a 3.ª pior defesa de toda a NBA.


Ouça aqui o episódio desta semana do Bola ao Ar, podcast sobre NBA produzido pela MadreMedia e apresentado por João Dinis e Ricardo Brito Reis:


O treinador Rick Carlisle tem testado várias soluções, que é o mesmo que dizer que tem sido forçado a ir à procura de alternativas no fundo do banco. Em 22 jogos, já passaram 11 jogadores diferentes pelo conjunto titular e foram usados 10 cincos iniciais distintos. Mas nada parece funcionar, sobretudo no que diz respeito ao lançamento exterior, que é fundamental para o sucesso de uma equipa que usa e abusa de situações de bloqueio direto.

O "atirador" Seth Curry, que deixou a equipa e reforçou os Philadelphia 76ers, deixa saudades em Dallas, até porque Josh Richardson e Kristaps Porziņģis (KP) estão a fazer mínimos de carreira na eficácia do lançamento de três pontos, muitos deles sem oposição. J-Rich costuma ser a primeira linha de passe de Luka e o unicórnio letão é o parceiro privilegiado no bloqueio direto de Dončić, logo são ambos, por norma, os alvos principais dos passes do "Wonder Boy".

Com a menor eficácia de Richardson e KP, as ajudas ao defensor de Luka são cada vez mais evidentes. Isso significa que, apesar das médias impressionantes na temporada (27.2 pontos, 8.9 ressaltos e 9.6 assistências), Luka Dončić tem cada vez mais oposição e tem estado cada vez menos efetivo no lançamento exterior, com mínimo de carreira de 29.0%. Em 53 atletas com uma média superior a seis triplos tentados por jogo, Luka é o pior lançador de todos. E Porziņģis é o segundo pior.

Kristaps Porzingis v Dallas Mavericks
créditos: Mike Ehrmann | AFP

Dončić era apontado pelas casas de apostas, ainda antes da bola ao ar no primeiro jogo da temporada, como o principal candidato ao prémio de MVP. Nesta altura, já caiu para fora do top-5. Fora de forma, com rendimento aquém do esperado e demasiado temperamental — esta época soma 5 faltas técnicas e só não lidera esse ranking porque Dwight Howard (8), Russell Westbrook (7) e Draymond Green (6) continuam iguais a si mesmos —, Luka terá que melhorar para ajudar às expectativas da formação de Dallas.

A vitória diante dos Hawks vai ajudar ao controlo emocional e, mais do que interromper a série de seis derrotas seguidas, confirmou a tendência de que a equipa de Dallas ganha sempre que marca mais do que 120 pontos. Apesar de toda a equipa, no seu conjunto, ter voltado a lançar mal do perímetro (13 triplos marcados em 40 tentativas, para uma eficácia de 32.5%), os Mavericks colocaram para trás das costas o momento negativo e têm que capitalizar um calendário acessível até à pausa para o All-Star, entre 5 e 10 de março.

Até lá, os Mavs jogam 14 partidas, mas dez são em casa. E os próximos sete jogos são todos no American Airlines Center, em Dallas, diante de Golden State Warriors (2x), Minnesota Timberwolves, Atlanta Hawks, New Orleans Pelicans, Portland Trailblazers e Detroit Pistons. É certo que jogar sem adeptos não trará vantagem acrescida, mas evitar viagens e estar no conforto da família em vez de andar em aviões e em quartos de hotéis há-de traduzir-se em mais tranquilidade também dentro das quatro linhas.

Ainda não é tempo de carregar no botão de pânico, uma vez que os Mavericks estão a apenas quatro jogos de distância dos Denver Nuggets, 4.º da tabela classificativa do Oeste. Mas se as vitórias não se acumularem até à pausa All-Star, os responsáveis do «front office» poderão ser forçados a tomar decisões.

O «trade deadline» é a 25 de março e, para uma equipa que quer voltar aos playoffs e passar da primeira ronda, todos têm que jogar melhor. Num ano com uma fase regular mais curta e em que só os seis primeiros classificados de cada conferência garantem uma presença os playoffs, o próximo mês será de tudo ou nada para os Dallas Mavericks.