As vinganças, diz-se, devem ser servidas frias. Depois de uma época penosa, o Paris Saint-Germain (PSG) decidiu abrir os cordões à bolsa. O vice-campeão francês quis chamar todas as atenções para si, avisando o mundo todo que tinha mais dinheiro para gastar do que qualquer outro clube.

Quem, naquele dia 8 de março de 2017, estava com os olhos postos em Camp Nou, a ver história acontecer, não imaginava que esse jogo podia mudar tanto o futebol. Vencer o Barcelona por 4-0 em casa e ser derrotado por 6-1 fora, sendo eliminado da Liga dos Campeões, causou mossa no clube parisiense. Muita mossa. Neymar foi a cara da reviravolta, numa exibição para mais tarde recordar. Meses mais tarde o PSG bate recordes comprando-o. Não houve "Se queda" que valesse. Neymar chegou, "chegando e bagunçando a zorra toda".

Perder um campeonato que estava entregue antes da competição começar, também deve doer. Aqui é Jardim e os seus pupilos que merecem o crédito. Foi precisamente no Mónaco que o Barcelona viu um dos substitutos ideais para Neymar — Kylian Mbappé. Só que o PSG não deixou. Nasser Al-Khelaifi, o grande pensador e financiador de todo o negócio parisiense, decidiu ir buscar a estrela ao Barcelona, assim como o jogador que estes queriam para colmatar a sua saída. Para dar a machadada final, só faltava emprestar Verratti ao Espanhol (eterno rival dos culés)...

O negócio Mbappé é simples de ser explicado. O campeão francês emprestou o seu melhor jogador ao vice-campeão e, no próximo ano, receberá uma "pipa de massa" por isso. Depois de tudo isto, caso esta época Jardim se consiga sagrar bicampeão, é muito provável que o PSG compre o Mónaco...

Para além de ter adquirido Dani Alves para lutar pela lateral com Meunier e Aurier (entretanto transferido para o Tottenham), ao contratar Mbappé o clube parisiense decidiu reforçar uma posição onde já coabitavam Draxler, Lucas Moura, Di Maria, Lo Celso,Ben Arfa (apesar de proscrito pelo treinador Unai Emery), Jesé e Gonçalo Guedes (sendo que estes dois últimos acabaram por sair por empréstimo, para Stoke City e Valência, respetivamente). Está na cara que tinha de investir...

Claro que isto se torna inválido quando se fala dos dois melhores jovens jogadores do mundo (considerando as idades de Ronaldo e Messi) e, nesse prisma, estas transferências só elevam a qualidade da equipa. Mas há sempre a outra face da moeda. Este PSG, que se propõe a vencer a Champions, tem lacunas complicadas de colmatar. Não é só ter Cavani, Mbappé e Neymar na frente, é preciso saber como organizá-los de forma a tirar o melhor proveito deles.

Antes de conseguir as colocações de Jesé e de Gonçalo Guedes, o PSG parecia ter pensado jogar em 2-2-6. Mas há mais. Também é preciso ter em conta que o ataque a esta Champions que querem vai ser feito com Rabiot e Thiago Motta no meio campo. O Real Madrid de Zidane, Ronaldo, Figo, Raúl e Beckham tinha muito para ensinar a Al-Khelaifi, mas este parece não querer aprender.

A intermediar todas estas negociações esteve Antero Henriques, que é agora o diretor desportivo dos parisienses. O ex-Porto, que sempre quis levar Jesus para o Dragão, também tentou levá-lo para o PSG, como se provou pelas notícias que foram saindo no início deste mercado de transferências. Com um pequeno exercício de imaginação podemos colocar o treinador português a treinar jogadores como Neymar, Mbappé e Cavani, tentando descobrir quem era o melhor para se adaptar a lateral esquerdo...

Segundo o técnico nascido na Amadora, o fair play é uma treta. Opinião também partilhada pelo PSG. No caso destes últimos, o financeiro. O futebol não é mais jogado só dentro de campo. Chegou o futebol kardashiano. O futebol da ostentação. O futebol-novela. O resto do mundo quis fechar portas ao Qatar, então o Qatar vai comprar o resto do mundo.

Pedro Nunes é editor da La Liga para o Fair Play.

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