Pode-se dizer que um campeonato é como uma peça de teatro. Cada liga tem os seus “grandes” - protagonistas -, mas a peça não se faz sem os atores secundários - as equipas ditas “pequenas”. É aqui que, aliás, se fazem muitos dos jovens que virão a brilhar nas próximas épocas nos clubes de topo da liga portuguesa, é nestes clubes que se relançam carreiras e se firmam nomes.
No momento em que as cortinas da Liga NOS se preparam para fechar, o SAPO 24 foi aos ‘bastidores’ do campeonato e analisou aqueles que brilham, muitas vezes, fora dos holofotes.
Do quarto ao décimo sexto classificado aqui ficam as nossas escolhas:
Guarda-redes: Douglas (Vitória de Guimarães)
Na baliza, a tendência natural seria encontrar o guarda-redes titular da defesa menos batida que não pertença aos três grandes, no caso, a do Marítimo (que é, inclusivamente, a terceira melhor do campeonato, com 31 golos sofridos e só atrás de SL Benfica e FC Porto).
Contudo, a verdade é que, à data, Gottardi e Charles partilharam a baliza dos madeirenses ao longo da época (16 jogos para cada um), sendo que logo a seguir na hierarquia das equipas que menos vezes foram buscar a bola ao fundo da sua baliza surge o Vitória de Guimarães de Pedro Martins, com 33 golos sofridos, os mesmos do Sporting CP, que conta na baliza com um velho conhecido dos palcos futeboleiros nacionais.
Douglas aterrou na cidade-berço na época de 2010/2011 e só agarrou a titularidade a partir de 2012/2013. Na época passada, com Sérgio Conceição e Armando Evangelista ao leme da nau vitoriana, foi relegado para o banco em detrimento do jovem Miguel Silva. Contudo, esta época tem sido dono e senhor da baliza dos comandados de Pedro Martins, ajudando o Vitória de Guimarães a garantir (pelo menos) o 4.º lugar do campeonato, logo à frente dos seus grandes rivais minhotos de Braga.
Defesa-direito: Patrick (Marítimo)
O Marítimo é uma das boas surpresas do campeonato. Desde que pegou na equipa, Daniel Ramos catapultou-a da segunda metade da tabela para lugares europeus, graças ao 7.º melhor ataque e à já referida 3.ª melhor defesa da prova, até ao momento.
Um dos seus pêndulos é Patrick, rei das assistências e dono do lado direito da defesa dos insulares (28 jogos, 6 assistências e 1 golo marcado). Com 26 anos e o contrato a terminar em junho próximo, fala-se do interesse de clubes de maior nomeada no jogador brasileiro, que chegou ao Marítimo na época passada e pegou logo de estaca na equipa madeirense.
Defesa-central: Roderick Miranda (Rio Ave)
O central formado no SL Benfica que recentemente celebrou 26 anos tem sido um dos esteios do Rio Ave, uma das boas equipas do campeonato português, que luta ainda por um lugar que lhe permita atingir a qualificação para as competições europeias.
Dono e senhor da defesa vila-condense, Roderick é totalista no campeonato até ao momento (32 jogos e 2 golos), ajudando o conjunto de Luís Castro a realizar mais uma boa temporada.
Defesa-central: Pedro Henrique (Vitória de Guimarães)
Aos 24 anos, o defesa-central brasileiro Pedro Henrique (também totalista no campeonato até ao momento (32 jogos) tem ajudado a fazer do Vitória de Guimarães de Pedro Martins um dos adversários mais difíceis de bater, principalmente fora de casa, onde o conjunto vimaranense é a 3.ª defesa menos batida (14 golos sofridos).
Chegado ao Castelo na época passada, Pedro Henrique chegou a jogar pela equipa B do Vitória de Guimarães durante a sua época de estreia, mas esta época tem sido dono e senhor do lugar no centro da defesa do atual 4.º classificado, habitualmente ao lado de Josué, outro dos bons (e jovens) centrais do nosso campeonato.
Defesa-esquerdo: Nélson Lenho (Desportivo de Chaves)
Tendo regressado esta época ao principal escalão do nosso futebol, o Desportivo de Chaves foi uma das boas surpresas do campeonato, tendo chegado a ambicionar algo mais do que um tranquilo lugar a meio da tabela.
Um dos seus esteios é o dono do lado esquerdo da defesa e capitão de equipa, Nélson Lenho. Totalista, o veterano de 33 anos distribuiu ainda 4 assistências e ajudou o clube transmontano a manter-se na primeira divisão do futebol português, a eliminar o Sporting CP na Taça de Portugal e a lançar as bases para os flavienses poderem sonhar com outros voos já na próxima época.
Médio-centro: Rodrigo Battaglia (Desportivo de Chaves e SC Braga)
Contratado pelo SC Braga em 2013/2014, Rodrigo Battaglia não se impôs logo nos minhotos. Depois de empréstimos sucessivos a Moreirense e Rosário Central, o argentino que iniciou a carreira no Hurácan — onde também jogaram nomes como Pastore (PSG) ou os nossos bem conhecidos Grimi (ex-Sporting CP) e Bolatti (ex-FC Porto) — começou a época em Trás-os-Montes ao serviço do recém-promovido Desportivo de Chaves. 14 jogos e 3 golos depois, os guerreiros do Minho chamaram-no de novo “à base” (muito por culpa da chegada de Jorge Simão, que o orientava no Chaves, ao comando técnico do Braga) e Battaglia entrou direto para o 11.
Apesar do “reinado” de Simão nos minhotos ter durado menos de meia época (substituiu José Peseiro mas não chegou a terminar a temporada, sendo substituído por Abel Ferreira a quatro jornadas do término do campeonato), a verdade é que Battaglia passou de ser um esteio em Chaves para ser um esteio em Braga. Participou em 14 jogos com a camisola dos arsenalistas, marcou um golo e promete ser o motor do meio-campo de Abel na próxima época.
Médio-centro: Tiago Silva (Feirense)
Da surpresa de Chaves passamos para a surpresa de Santa Maria da Feira. O Feirense, apontado por muitos como uma das equipas com um plantel mais modesto da principal divisão do nosso futebol, está a fazer uma segunda volta muito boa: 23 pontos conquistados quando ainda faltam duas jornadas para o final do campeonato (contra os 15 conquistados na primeira volta).
Um dos obreiros desta mudança é Nuno Manta Santos, que em dezembro do ano passado substituiu José Mota no banco do Feirense e conquistou 31 dos 42 pontos que situam a equipa de Santa Maria da Feira no 8.º lugar do campeonato.
Outro, é Tiago Silva. O jovem médio-ofensivo (23 anos) emprestado pelo Belenenses tem sido um dos principais destaques do Feirense, com 4 golos e 3 assistências em 26 jogos. Tendo o Feirense um dos piores ataques da prova (apenas 28 golos marcados), a influência de Tiago Silva no jogo ofensivo dos comandados de Nuno Manta Santos (25% dos golos passaram pelos seus pés) não passa despercebida.
Extremo-direito: Pedro Santos (SC Braga)
Talvez o principal “abono” do SC Braga nesta época, com 6 golos e 7 assistências em 25 jogos, a influência de Pedro Santos nos minhotos estende-se muito para lá das estatísticas. Capitaneando os arsenalistas em diversas partidas, o extremo tem sido a alma do clube de Braga, numa época marcada por altos e baixos.
Decisivo em várias partidas (foi dele o golo que valeu o empate aos bracarenses com o FC Porto, bem como o que valeu a vitória no dérbi do Minho contra o Vitória de Guimarães logo na primeira jornada do campeonato), o canhoto Pedro Santos é, talvez, juntamente com Rui Fonte, Ricardo Horta e Wilson Eduardo, um dos principais destaques e um “porto seguro” no que toca à qualidade de jogo da turma minhota, que realizou uma temporada atípica, terminando a época com o terceiro treinador diferente no banco e atrás do rival minhoto de Guimarães.
Extremo-esquerdo: Iuri Medeiros (Boavista)
A época de Iuri Medeiros não começou da melhor forma. Tendo integrado a pré-época do Sporting CP depois de realizar uma boa temporada no Moreirense, por empréstimo dos leões, não conseguiu convencer Jorge Jesus e foi novamente emprestado.
Quem agradeceu, foi o Boavista. O Estádio do Bessa acolheu-o de braços abertos e Iuri, considerado um dos maiores talentos da sua geração, não desapontou. Com 6 golos marcos e 7 assistências em 25 jogos, o médio-ofensivo teve é o melhor marcador e o jogador com mais assistências dos axadrezados, tendo tido influência direta em quase metade dos golos apontados pelos comandados de Miguel Leal, que estão a realizar uma época tranquila, longe dos lugares de descida.
Na memória de muitos estará ainda a exibição do canhoto no Estádio da Luz onde, com um golo e duas assistências, ajudou o Boavista a espantar o futebol português e a arrancar um empate a três bolas frente ao Benfica, consentido depois de estar a vencer por 3-0. Depois de uma época menos conseguida do Sporting CP e de um rendimento abaixo do esperado de alguns jogadores que ocupam as alas ofensivas do esquema leonino (Joel Campbell, Bryan Ruiz...), será a próxima época a de afirmação de Iuri no plantel dos leões?
Avançado: Moussa Marega (Vitória de Guimarães)
Autor de 10 golos nas 9 primeiras jornadas da época (sendo que não jogou na 4.ª, contra o clube com o qual tem contrato), a época do internacional maliano Moussa Marega, emprestado pelo FC Porto ao Vitória de Guimarães, ameaçava ser histórica.
Contudo, à 10.ª jornada, Marega foi expulso no jogo em que os vitorianos defrontavam o Nacional da Madeira, tendo apenas regressado na jornada 13, em novembro, frente ao Boavista. Depois, veio a seca de golos. A bola parecia não querer entrar até que os comandados de Pedro Martins visitam Alvalade, já em março deste ano, e Marega volta aos golos — e logo um com esta importância, uma vez que garantiu o empate contra o Sporting CP.
Com uma época de altos e baixos, o avançado contratado pelo FC Porto ao Marítimo no ano passado leva, ainda assim, 13 golos e 6 assistências nos 24 jogos disputados pelo Vitória de Guimarães neste campeonato, o que só prova a influência do jogador do Mali na manobra ofensiva dos vimaranenses, ele que chegou a formar com Soares uma dupla temível, antes deste se transferir para os Dragões. Além disso, Marega é também o jogador com mais golos marcados que não pertence aos três grandes.
Avançado: Whelton (Paços de Ferreira)
Chegado ao Paços de Ferreira nesta época, proveniente do clube brasileiro Remo, Whelton é um daqueles casos de “chegar, ver e vencer”. Num clube que teve um início titubeante mas que com Vasco Seabra ao leme conseguiu acabar por realizar um campeonato tranquilo, os 11 golos e 4 assistências em 28 jogos do avançado brasileiro mostraram-se decisivos para o 11.º lugar atualmente ocupado pelo Paços. Os pacenses têm um total de 31 golos marcados na competição, o que significa que Whelton teve influência direta em cerca de metade dos tentos apontados pela equipa da Capital do Móvel.
Aos 24 anos e com expectável margem de progressão, o móvel e possante Whelton parece preparado para outros voos, falando-se insistentemente no interesse de Jorge Jesus e do Sporting CP em contar com o brasileiro no plantel da próxima temporada dos verdes-e-brancos.
Menções honrosas (que é como quem diz, suplentes de luxo)
Na baliza, Marafona. O internacional português tem sido um dos esteios do SC Braga (27 jogos na competição), a 6.ª defesa menos batida na Liga.
Como suplentes para a defesa, Raúl Silva, central goleador do Marítimo de Daniel Ramos (com 6 golos marcados, é o melhor marcador dos madeirenses) e Rafa Soares, lateral-esquerdo emprestado ao Rio Ave pelo FC Porto e candidato a futuro dono do lado canhoto da defesa da seleção nacional — os 3 golos e 4 assistências conseguidas em 31 jogos pelos vila-condenses mostra que teve um papel importante na boa campanha dos comandados de Luís Castro.
No meio-campo, destacamos os nomes de Cauê – que, apesar da época menos positiva de um Moreirense que ainda não está a salvo da descida, tem mostrado ter futebol para outros voos e ambições (31 jogos, 2 golos e 1 assistência pelos Cónegos) – e de João Costinha, peça-chave no Vitória de Setúbal de José Couceiro com 1 golo e 1 assistência nos 30 jogos realizados.
Para pisar terrenos mais avançados, a posição de extremo suplente caberia a Hernâni, extremo do FC Porto que depois de uma época emprestado ao Olympiacos grego está a fazer uma temporada muito boa no Vitória minhoto (8 golos e 4 assistências em 26 jogos), ao passo que Rui Fonte, ponta-de-lança do SC Braga e a fazer uma das melhores épocas da carreira (11 golos e 1 assistência em 24 jogos), seria também uma opção bastante competente para a posição mais à frente no terreno.
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