No Cruzeiro, Rogério Ceni caiu após meros oito jogos. Depois da troca de farpas públicas com os atletas mais experientes do elenco, com Thiago Neves à cabeça, e a evidente falta de apoio da Direção para as mudanças que queria fazer numa equipa que está perto da zona de descida, o antigo guarda-redes goleador do São Paulo ficou isolado no clube e, sem autonomia e poder para implementar seu trabalho, foi demitido. Dizem que o episódio fatal foi uma discussão com outro líder do plantel, Dedé, sobre a escolha do onze inicial da última partida. Coincidência ou não, o contratado é Abel Braga, treinador com boa relação com esses mesmos jogadores.
O Cruzeiro, após dois títulos seguidos na Copa do Brasil, tem realizado uma temporada pífia e, se o campeonato terminasse hoje, cairia para segunda divisão, fato inédito na sua história. Além disso, vive uma grave crise financeira e sofre com investigações policiais de atos questionáveis de sua Direção. Sem rumo e liderança, os jogadores ganharam preponderância nas decisões.
Brincadeira dos torcedores:
Pelos lados do Fluminense, clube histórico que também habita a parte de baixo da tabela, o conflito jogadores/treinador foi público. Durante o empate contra o Santos, o médio Paulo Henrique Ganso, estrela da equipa, insultou o treinador chamando-o de “burro... burro para c*****” após ser substituído na segunda parte da partida, recebendo como retribuição o "elogio" de “vagabundo” por parte do técnico Oswaldo de Oliveira. Ganso ainda teve de ser contido por outros jogadores no banco de suplentes e passou a partida a orientar a equipa ao lado do treinador na área técnica. No braço de ferro entre a maior contratação do clube e o treinador, vitória da falta de hierarquia: Oswaldo de Oliveira durou apenas 38 dias.
Ambos os clubes lutam contra a descida. Serão os jogadores responsabilizados caso não sobrevivam na primeira divisão? Afinal, as decisões parecem ser tomadas por eles.
Mas o caso mais mediático de todos aconteceu na outra ponta da tabela. O São Paulo, hexacampeão brasileiro e tricampeão mundial, passa por um jejum de títulos que já dura há sete anos (11 se considerarmos os campeonatos de primeira linha). Durante esse período, muitos treinadores e jogadores passaram, sem sucesso, pelo clube, e não há, como nos outros casos, um projeto muito bem definido de estilo de jogo.
No começo do ano, com André Jardine (atual treinador da seleção sub-23 do Brasil e multi-campeão nas camadas jovens do clube), a aposta era num estilo de jogo ofensivo e baseado na troca rápida de passes e manutenção da posse de bola. Durou pouco. Veio Cuca e seu “Cucabol”, nome pejorativo que a imprensa dá ao futebol praticado pelas suas equipas que fazem de transições rápidas, bolas longas, marcação adiantada e muitos cruzamentos a sua imagem de marca.
Após mais uma derrota em casa, fruto de um mau jogo contra uma equipa inferior, Cuca pediu o boné (expressão brasileira para um pedido de demissão). A explicação dada pelo técnico foi que “não deu liga” entre eles, leia-se, os jogadores e o seu estilo de jogo. Após o investimento feito no presente ano, era inaceitável a falta de padrão de jogo e resultados para um São Paulo que conta com nomes como Daniel Alves, Alexandre Pato ou Hernanes no plantel.
O fato curioso, contudo, aconteceu após a conferência de imprensa em que a saída de Cuca foi anunciada. Em menos de 24 horas, foi noticiado que o clube seria dirigido interinamente pelo Coordenador de Futebol (Vagner Mancini), foi anunciado um novo treinador (Fernando Diniz) e o Coordenador de Futebol pediu a demissão (o já referido Mancini).
Nos bastidores, uma conversa entre a Direção e os líderes do plantel, entre eles Daniel Alves (a quem Mancini atribui sua saída), selou a contratação de um treinador com o estilo que os jogadores acham ideal. Para escancarar a falta de comando e a bagunça que vive um dos maiores clubes do Brasil, um áudio de WhatsApp, supostamente vazado sem querer, dá a versão de Vagner Mancini:
"Sabe por que eu saí? Porque eu fui efetivado no cargo, aí 4 horas depois disso o Daniel Alves foi lá pedir o Fernando Diniz. Eles me chamaram e falaram que estavam em dúvida. Aí eu falei: ué, se vocês estão em dúvida, vão atrás do Diniz que eu tô indo embora. Tchau".
Fernando Diniz é aclamado pelos jornalistas devido ao seu futebol esteticamente bonito e ofensivo, ainda que pouco desajuizado. Um fenómeno criado pela soma da insatisfação com as propostas reativas e defensivas dos treinadores brasileiros com o sucesso do estilo de Guardiola na Europa, referenciado, segundo o próprio, pelo futebol brasileiro dos anos 70 e 80. No campo, apesar de um bom começo em clubes do interior de São Paulo, a verdade é que Fernando Diniz não conseguiu resultados expressivos no Atlhético-PR e no Fluminense. Contudo, nunca teve a qualidade de jogadores que terá agora ao seu dispor.
Terão Daniel Alves, Thiago Neves e Ganso inaugurado o novo cargo de "Diretor-Jogador" na estrutura dos clubes?
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