Antes de mais, definir processos simples como algo complexo. Provavelmente o mais difícil de concretizar em desporto. Fazer parecer simples requer trabalho, rigor e dedicação de forma a conseguir a transferência de competências do treino para o jogo. O que Leicester e Spurs fazem todas as semanas na Premier League é, nos dias de hoje, uma raridade. Conseguir levar a melhor sobre equipas com enorme capacidade de agregação de elementos fantasistas, capazes de decifrar qualquer código defensivo, é no mínimo impressionante.
Contudo, Spurs e Foxes não são assim tão semelhantes. Vejamos então as diferenças na organização de ambas e quem, afinal, poderá leva vantagem no duelo que opõe o segundo e quarto classificados da Premier League.
Tottenham e a chave para o sucesso
Não será novidade para quem acompanha as crónicas, que para mim a chave do sucesso deste Tottenham está, além do binómio Harry Kane/Son Heung-min, no binómio Pierre-Emile Højbjerg/Tanguy Ndombele. E é principalmente no último dos quatro jogadores referidos, que reside o principal ‘problema’. E é em Ndombele porque é o que, por uma razão ou por outra, é o único que Mourinho, de vez a vez, retira do onze base. E sempre que o faz, o que resultado não tem sido o melhor. Prova disso foi a análise feita em “Mourinho não se dá bem com Guardiola” onde analisamos os resultados obtidos pelos Spurs, na Premier League, com e sem Ndombele. A diferença é significativa!
O jogo em Anfield foi mais um desses casos. José Mourinho, ao colocar Giovani Lo Celso em campo, procura no médio argentino uma capacidade técnica que não está ao alcance de muitos. E como tal colhe frutos dessa mesma aposta, como foi o excelente passe para golo do médio frente ao Liverpool, assim como mais um par de excelentes pormenores. Contudo, existem dois lados de uma moeda e o lado menos positivo da troca de Ndombele por Lo Celso é precisamente a capacidade defensiva de ambos. Sendo que Ndombele leva grande vantagem. Principalmente no que diz respeito à pressão imposta nos adversários. E foi precisamente nesse campo que existiu uma pequena aberta, permitindo à equipa de Liverpool adiantar-se no marcador.
Aos 8 segundos do video — poderá colocar o vídeo em pausa para perceber melhor — consegue ver-se perfeitamente a dificuldade de Lo Celso com as distâncias entre linhas. Nesta posição e situação especificas Ndombele tem por norma uma atitude mais proativa, fechando mais os espaços à sua frente, não permitindo aos jogadores adversários tempo para pensar e executar. Como Lo Celso não tem capacidades defensivas tão apuradas como o colega de equipa francês, deixa o jovem médio do Liverpool Curtis Jones receber à vontade, de frente para o jogo, e consequentemente combinar com Firmino, deixando o médio penetrar entre linhas, levando a uma situação de perigo que daria em golo.
São pequenos detalhes que decidem os jogos e são, principalmente, pequenos detalhes defensivos que influenciam o destino de equipas como o Tottenham de José Mourinho, onde o segredo do sucesso está, primeiramente, em não sofrer golos. Este é apenas um lance, entre outros que se acumularam e acabaram por não permitir à equipa ganhar a posse de bola mais cedo e com isso não só estar mais sujeito a situações de perigo do adversário como reduziu em grande número as suas próprias ocasiões de perigo.
Leicester e a armadilha da posse de bola
Não fazendo uma grande diferença na maioria dos jogos a que o Leicester está exposto na Premier League, no domingo, não será esse o caso. Refiro-me ao jogo mais progressivo e mais rendilhado do Leicester, em vigor desde há duas épocas a esta parte. Não sendo uma equipa de puro contra-ataque, que era aquando da conquista do título em 2016, este Leicester é uma equipa muito diferente nos dias que correm. Para melhor ou para pior, isso depende do adversário. Neste caso, frente ao Tottenham de José Mourinho, penso que poderá ser para pior. Sendo o estilo de jogo das Raposas um dos fatores mais importantes para a definição do encontro. Isto porque como quer que a equipa alinhe, ir-se-á colocar, ou não, à mercê do Tottenham.
Quisesse o Leicester entregar o domínio de jogo o Tottenham e poderia colocar-se numa posição mais vantajosa perante a organização letal do adversário, já que no jogo do Tottenham o domínio do encontro através da posse não só retira as vantagens de transição de Kane, como a velocidade de Son. Não só, retira igualmente a coesão entre setores e com isso expõe as posições mais frágeis do Tottenham, principalmente em jogo corrido, os defesas centrais.
Como podemos ver no quadro, um Leicester com maior domínio da partida poderá ir de encontro ao que José Mourinho pretende, deixando-se cair na armadilha tática da posse de bola.
Como termos de comparação à percentagem de posse de bola do Leicester no encontro frente ao Liverpool, o Tottenham teve apenas 24% de posse. Não sendo por isso que não teve oportunidades suficientes para vencer a partida e provando que a posse pode funcionar nos dois sentidos.
Como em qualquer outro jogo da Premier League, o Tottenham sendo fiel aos seus princípios, jogando com um meio campo sólido de três, ou quatro jogadores, incluindo Pierre-Emile Højbjerg e Tanguy Ndombele, tem todas as chances de levar de vencido o seu adversário. Com o Leicester não será diferente.
Esta semana na Premier League
Os destaques da semana terão que ir não só para o jogo analisado nesta crónica como para o Southampton v Man City, Man Utd v Leeds e finalmente para o emocionante dérbi londrino Chelsea v West Ham, onde dois históricos e rivais do futebol inglês estão separados por apenas um ponto e uma posição na tabela classificativa. Ambos em excelente forma, tudo terão para proporcionar um excelente fecho à décima quarta jornada da Premier League.
Comentários