São quatro as principais figuras nesta transação que já dura há muito. Vamos resumidamente perceber quem são.
Mike Ashley
Bilionário britânico que adquiriu 77,06% do Newcastle United a 15 de junho de 2007 e desde então tomou controlo do clube. Durante quase treze anos à frente da formação inglesa, não se pode dizer que Ashley tenha conseguido sucesso ou o apoio dos próprios adeptos. Nas palavras de Graeme Souness: “Todos os adeptos do Newcastle vão ficar felizes com a saída de Ashley”. Tendo já colocado o clube à venda por três vezes, parece agora que conseguirá definitivamente passar o testemunho.
O bilionário comprou o Newcastle United pela quantia de 134 milhões de libras. Parecia então que o histórico clube estaria financeiramente salvo e com excelentes perspetivas desportivas. Longe disso. Ashley injetou capital, foi tendo a capacidade de o manter vivo, mas nunca conseguiu — uns dizem que por falta de empenho, outros por falta de visão — estimular o crescimento de um clube com um potencial ímpar na liga inglesa.
A história de Ashley no mundo do futebol é longa e não menos polémica. Ao longo de todos estes anos o empresário inglês tem tratado o Newcastle como uma das muitas lojas de desporto que possui — de recordar que Ashley é dono de várias lojas de venda e revenda de artigos desportivos — e com isso só tem visto a fúria dos adeptos crescer. Uma história de pouco sucesso no mundo do desporto que, assim que se confirme a sua saída, não irá deixar saudades aos adeptos dos Magpies.
Amanda Staveley & Jamie Reuben
Nascida em 1973, em Yorkshire, a pouco mais de cem quilómetros de Newcastle, Staveley já é cara conhecida no mundo dos negócios, inclusivamente nos da Premier League. Se a história de Ashley no futebol é longa, a de Staveley nos negócios não se ficaria atrás. Após alguns empreendimentos com sucesso dúbio, Staveley decidiu mudar-se para o Dubai em 2008, não sem antes abrir a sua própria empresa de aconselhamento financeiro, que se tornou entretanto o seu principal foco profissional.
A PCP Capital Partners esteve envolvida na recapitalização do Barclays, através dos investimentos provenientes do médio oriente e, em 2009, foi a principal força por detrás da facilitação do negócio que levou à compra do Manchester City pelo Sheikh Mansour. No mesmo ano, Staveley participou numa potencial compra de 49% do Liverpool, o que lhe valeria um lugar na direção do clube caso tivesse avançado em definitivo. Após deixar cair essa oportunidade, Staveley tem seguido de perto o Newcastle e já não é a primeira vez que está em vias de concretizar negócio, sendo que desta vez as estrelas parecem estar alinhadas de forma definitiva.
A paixão de Staveley pelo mundo do futebol vem de longe e, desta feita, caso se confirme o negócio, parece mesmo que terá a sua parte, mais precisamente 10% do clube.
Outros 10% do Newcastle ficariam para os Reuben Brothers. Esta é uma empresa de família, entre as mais ricas de Inglaterra, e seria Jamie Reuben, filho e sobrinho dos irmãos Reuben, que ficaria com uma posição na direção do clube, assim como Staveley. Sendo já diretor do Queens Park Rangers, posição essa da qual terá que abdicar caso o negócio vá para a frente, o jovem de 32 anos é conhecido pelas suas ligações políticas a Boris Johnson, primeiro-ministro inglês, tendo feito parte do seu gabinete quando este era mayor de Londres.
Mohammed bin Salman
O príncipe da Arábia Saudita é quem lidera o negócio. Já tendo sido ligado, por diversas vezes, a uma compra do Manchester United, Mohammed bin Salman viu agora uma outra oportunidade de entrar na Premier League. Os rumores de compra do United de Manchester diziam-nos que apenas uma proposta a rondar os 4 mil milhões de libras tornaria possível o sonho do príncipe, um valor muito diferente dos 300 milhões pelos quais, alegadamente, conseguirá comprar o United, de Newcastle.
Com o investimento de Yasir Al-Rumayyan, governador do fundo de investimento soberano saudita, Mohammed bin Salman ficará com 80% do clube. Estando o investimento já a ser comparado ao do Manchester City, pelas melhores e pelas piores razões, este é apenas mais um passo na, ainda maior, globalização da Premier League. É esperado um investimento de mil milhões de libras nos primeiros anos do príncipe à frente do clube, renovando e transformando todo o cenário em volta de uma cidade com mais de 250 mil habitantes e um estádio com capacidade para mais de 50 mil pessoas, o St James Park, o oitavo maior estádio inglês.
Caso se venha a realizar a compra e caso o investimento pessoal e financeiro venha também a ser o esperado, não nos admiremos de ver o Newcastle United como uma nova potencia do futebol inglês e mundial, igualando ou superando os investimentos feitos por clubes como o Manchester City e PSG.
As perguntas que ficam no ar
O que significará para a Premier League mais uma investida do médio oriente no futebol inglês? Talvez faça mais sentido fazer a pergunta de outra forma. O que significará para o futebol inglês, mais uma investida do médio oriente? A Premier League como entidade autónoma só terá a ganhar com a injeção de capital num dos clubes que joga a sua competição, mas para o futebol inglês significará o mesmo?
A grande questão a colocar é a sustentabilidade dos negócios, em particular da Premier League. Significa o “crescimento” dos clubes da Premier League uma forma saudável e sustentável de promover o desporto inglês? Como ficam os clubes mais pequenos? Será esta uma forma de concorrência desleal? Será que tais argumentos passam pelas mesas de decisão aquando da viabilização destas compras? Onde entram as questões morais sobre a forma como alguns dos direitos humanos fundamentais são colocados de parte nos países de proveniência de tal investimento?
Todas estas perguntas são extremamente difíceis de responder, mas igualmente difíceis de contornar. Terão as entidades desportivas em Inglaterra perdido, há já algum tempo, a mão sobre as suas responsabilidades e objetivos?
Esta semana na Premier League
Os clubes uniram-se mais uma vez, desta vez para bloquear uma data limite para eventual término da época, caso não se jogue até dia 30 de junho. Isto parece indicar que os clubes quererão a todo o custo terminar a época, mesmo que isso signifique não terem uma paragem significativa entre a presente e a próxima temporada.
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