Por esta altura, na temporada passada, o West Ham encontrava-se na décima sexta posição da tabela, salvo da zona de despromoção pela diferença de golos, com um saldo ligeiramente melhor do que o Bournemouth, o 18.º classificado. Com 27 pontos, menos 21 do que este ano, os Hammers poderiam ter sido uma das equipas a não resistir à reta final e ter mesmo acabado por descer ao Championship.

A equipa de Londres, assim como muitas outras espalhadas pelo mundo, tem um problema fundamental de recrutamento. Por muito dinheiro que despendam em novas contratações, estas dificilmente acrescentam qualidade suficiente à equipa de forma a que esta dê um salto qualitativo. Isto não só porque o sistema de recrutamento do West Ham tem sido uma autêntica roda-viva nos últimos dez anos, como a continuidade é simplesmente inexistente. Esta última não só pela falta de um sistema continuo de recrutamento, como pela constante rotação de treinadores no clube, cinco na última década.

Aquando da sua entrada para os Hammers, uma das exigências de David Moyes, talvez sabendo das fragilidades do clube nessa área, foi a de ter um papel fulcral nas contratações. E assim foi. Desde então, olhando apenas a jogadores contratados pelo técnico e com mais de 50% de minutos jogados esta temporada, temos Vladimir Coufal, Tomáš Souček, Jesse Lingard - que não tem 50% dos minutos totais da equipa no campeonato, mas tem-nos desde a sua chegada em janeiro deste ano -, Pablo Fornals, Jarrod Bowen e Craig Dawson que se encontra na mesma situação que Jesse Lingard, tendo ele assinado pelo clube a dias de terminar o ano civil de 2020. Seis jogadores escolhidos pelo técnico jogaram mais de 50% dos minutos jogados pela equipa e são parte do pilar que sustenta a excelente época feita pelos londrinos.

Tomáš Souček, o segredo de David Moyes

Só não será a contratação do ano, uma vez que se juntou aos Hammers já no decorrer da temporada passada, por empréstimo. É de longe o jogador que mais trabalha em toda a equipa. Mas é muito mais que isso. A precisão de posicionamento, a capacidade de defender e atacar, a importância nas bolas paradas, tanto defensivas e ofensivas, e a sua capacidade de marcar golos tem sido extraordinariamente importante para o clube. O médio checo de 1,92m leva já oito golos e é previsível que chegue com facilidade à marca dos dois dígitos no que à concretização diz respeito, sendo mesmo o melhor marcador da equipa. 

Por muito que um jogador corra, algo mais terá que ter. E é esse o caso de Souček. Provavelmente a melhor características do médio é a de fazer dos que o rodeiam melhores jogadores. A sua capacidade de trabalho e versatilidade fazem deles um dos melhores médios da liga, mas mais que isso, fazem dele um dos melhores elementos para fazer parte das melhores duplas da Premier League. Seja na dupla que faz com Declan Rice, que se posiciona ao seu lado no meio campo, ou seja na dupla que faz com Coufal, o seu defesa direito, ou Pablo Fornals na ala direita, ou ultimamente com Jesse Lingard, quando este pisa terrenos próximos do Checo. Souček é um daqueles jogadores que alimenta a equipa e faz desta uma força mais competitiva.

O pensar a curto ou a longo prazo

Faltando a “sorte”, habilidade ou visão para continuar a contratar, ou tendo sido Souček uma exigência exclusiva de David Moyes, qual será a continuidade de contrações do West Ham para lá do técnico escocês? A mudança de treinador por si só não pode ser uma mudança de rumo. Mais do que nunca é cada vez mais difícil contratar jogadores estabelecidos, e é muito difícil mudar uma equipa, assim como é muito complexo construir uma, como temos os exemplos vivos de Manchester United, que paulatinamente vai melhorando, ou Arsenal que tem andado por caminhos tortuosos há quase duas décadas.

Planeamento e uma direção bem definida são condições necessárias a um West Ham que, como clube londrino que é, tem potencial para se aproximar dos seis grandes ingleses, assim como o Leicester, um exemplo de organização, planeamento e sobriedade no que toca a estabelecer uma filosofia, contratar cedo e formar, e por fim executar de acordo com o modelo escolhido.

Ficando por saber quem irá ficar responsável pelas contratações e planeamento a longo prazo do clube, quando o West Ham tiver resultados menos bons e decidir trocar de treinador, fica por saber qual o futuro da equipa. Porque se recair novamente nos ombros do treinador, de forma exclusiva, o mais provável é não voltar a resultar e o clube destruir o excelente trabalho feito nos últimos dois anos.

Respondendo à pergunta que dá título a esta crónica: sim e não. É extraordinariamente importante que um treinador esteja de acordo com as contratações do clube, contudo os jogadores por este contratados têm que ir ao encontro do modelo escolhido pelo clube. A sinergia entre um bem organizado departamento de direção desportiva e um treinador, com a mesma visão que o clube, deve ser a prioridade e o fio condutor de um clube ao mais alto nível.

Premier League | 29.ª Jornada

Sexta-feira, 19 de Março

20:00 | Fulham v Leeds

Sábado, 20 de Março

20:00 |  Brighton v Newcastle

Domingo, 21 de Março

15:00 |  West Ham v Arsenal

19:30 | Aston Villa v Tottenham

Esta semana na Premier League

O West Ham, apesar da fabulosa época que tem vindo a fazer, não tem tido os melhores resultados sempre que enfrenta os seis grandes ingleses. Com um registo extremamente negativo, de 10 jogos, 7 derrotas, 2 empates e uma vitória, não se augura um bom resultado este fim de semana frente ao Arsenal. Até porque a única vitória conseguida, e um dos dois empates diga-se, foram conseguidos frente ao Tottenham que tem um estilo de jogo completamente diferente dos restantes cinco grandes ingleses. O que parece dizer-nos que o West Ham, contra equipas mais criativas, enfrenta maiores dificuldades.