Até há pouco mais de duas semanas, falar do Liverpool era falar da lesão de Virgil Van Dijk e do impacto da mesma na equipa campeã em título. Contudo, é um português que, de forma positiva, está lentamente a retirar os holofotes dos problemas na linha defensiva dos Reds, redirecionando-os de novo para a linha da frente, mais precisamente o trio de ataque que tantas alegrias deu a Jürgen Klopp.
Ainda antes da lesão do defesa central holandês, já tínhamos referido (na crónica "Um Problema de Pressão") que o destaque dado à forma menos boa dos defesas do Liverpool e City era de alguma forma injusta, uma vez que a raiz do problema está na pressão menos eficaz das equipas como um todo, começando em especial na linha da frente e linha média e não em certos elementos.
Com a entrada de Jota, O Incansável — permitam-me adjetivá-lo desta forma — o cenário de pressão e velocidade no ataque do Liverpool parece estar a mudar. A forma do avançado português é tal que é já a opção mais provável para fazer companhia a Sadio Mané e Mohamed Salah no jogo frente aos Citizens, em detrimento de ‘Bobby’ Firmino.
O Destaque está em Jota, O Incansável
Praticamente todas as pessoas com que falo, leio, ou ouço são unânimes em dizer que não havia dúvidas de que Jota era um excelente jogador. Mas… ninguém podia prever este nível de influência numa equipa tão estabelecida como o Liverpool e num trio de ataque considerado por muitos o melhor da atualidade. Eu não sou exceção e revejo-me perfeitamente no mesmo grupo de pessoas.
Todas as contratações até ao momento (como Oxlade-Chamberlain, Takumi Minamino ou Xherdan Shaqiri) tiveram alguns minutos na frente de ataque, mas depressa se percebeu que se Klopp iria optar por um deles, ou seria noutra posição no terreno, ou em jogos mais acessíveis jogando com quatro jogadores de caráter ofensivo, ou como acontece com mais regularidade, a partir do banco de suplentes. Ainda sem ser um dos definitivos jogadores para o trio da frente, Jota está a dar uma enorme dor de cabeça a Klopp e, neste caso, a Roberto Firmino, que dos três jogadores da frente de ataque do Liverpool é o que menos tem brilhado esta temporada.
Depois de ser titular frente ao Sheffield, parecia que Klopp teria os mesmos planos para Jota que teve para os outros jogadores supracitados. Alterando a tática de um 4x3x3 para um 4x2x3x1, colocar Jota no onze parecia ser apenas para jogos em que o adversário iria adotar uma postura mais fechada. Contudo, o jogo de Bergamo frente à Atalanta veio não só dar uma ideia de que Klopp confia em Jota para a frente de ataque, como nos deu a perceber que esta pode ser uma janela de oportunidade para a mudança do onze inicial dos Reds.
Dado como titular na partida frente ao City de Guardiola, Jota pode (ou não) mudar a dinâmica do trio, dependendo se jogue no meio, ou se Salah faça o papel de Firmino. Se Klopp optar pela segunda, pouca coisa muda já que a capacidade de retenção de bola de Salah é muito parecida à de Firmino. Um problema a menos para o alemão. Poder colocar um jovem de apenas 23 anos de idade, cheio de garra, força e ambição, com um faro de golo invejável e não ter que mudar rotinas, a vida não poderia sorrir de melhor forma ao treinador do Liverpool depois dos problemas de início de época.
Quem leva a melhor?
Antes de percebermos quem poderá levar a melhor neste duelo, temos que perceber o que aconteceu e o que terá mudado, em ambas as equipas.
Para quem já se possa ter esquecido, City e Liverpool estiveram já, este ano, em destaque pelas suas derrotas por 5-2 e 7-2, respetivamente, frente a Leicester e Aston Villa.
Desde essas derrotas, a reação das equipas deu-se mas não foram, de todo, reações categóricas. Tanto City como Liverpool concederam empates após os desaires e as vitórias que conseguiram não passaram de um único golo de diferença no resultado final. Na Liga dos Campeões, a forma é também idêntica tendo ambas duas vitórias sólidas e também não é por aqui que iremos encontrar diferenças marcantes entre as equipas.
E onde poderemos então encontrar algum detalhe que nos possa permitir afirmar que uma equipa tem vantagem sobre a outra? Há duas questões prementes que necessitam análise.
A primeira refere-se à instabilidade tática do City. Sem repetir um único onze e quase sem repetir um esquema tático, a turma de Pep Guardiola ainda não encontrou a fórmula certa, com um onze base, que lhe permita começar a vencer de forma convincente. Olhando para o calendário no início da época e identificando este embate com o Liverpool à oitava jornada, tendo ou não lesões em jogadores fulcrais como Agüero ou De Bruyne, Guardiola teria que, desde o início, trabalhar com o objetivo de encontrar uma ideia tática que lhe permitisse encarar o jogo frente ao grande rival com rotinas bem definidas. Tal não aconteceu e, encontramo-nos hoje aqui sem a certeza de quem irá jogar e como irá jogar o City.
Tal poderia jogar a favor dos Citizens caso jogasse frente a uma equipa que jogasse na reação. Mas não é essa a característica principal do Liverpool. Jogue o City como jogar os Reds vão sair na pressão, vão fazer o seu jogo, não vão desacelerar e, muito menos, esperar para ver o que os azuis de Manchester têm para oferecer.
Assim sendo, ou o City tem todas as rotinas muito bem presentes, sabe ao que vai e consegue impor o seu jogo, ou um Liverpool num bom dia, poderá colocar esta equipa de Guardiola numa posição ingrata.
Se do lado do City o destaque negativo vai para o facto de não ter rotinas táticas e estratégias oleadas a cem por cento — e isso poderá trazer desvantagens jogando frente a tão dominante equipa —, já no Liverpool o destaque vai para um ponto muito positivo: o refrescar de rendimento físico na frente de ataque e a consolidação da pressão quer na linha frontal como na linha média. Com a inclusão de Jota, em quem esta crónica se foca, o Liverpool de Klopp, descobri a faísca que faltou até ao momento.
Sem ter que recorrer a diversões táticas e estratégicas e estando Jota totalmente integrado com a equipa, o Liverpool tem tudo para entrar a todo o gás na partida, dominar o encontro e começar a fazer estragos desde muito cedo.
Com apenas uma alteração tática na Premier League (frente ao Sheffield) é esperado que o Liverpool se apresente no seu habitual 4x3x3, com uma linha média e frontal cientes da sua influência no jogo e da falta que van Dijk faz no quarteto defensivo.
Entre ambas as equipas, em minha opinião, o Liverpool parece ter percebido melhor qual o problema que levou à derrota por 7-2 no campeonato. Não só por esta ter sido maior e mais humilhante, como por ter perdido van Dijk por lesão pouco tempo depois. Não me parece que o City tenha sentido o choque de realidade frente ao Leicester e parece que entre mudanças de jogadores e de sistema, não está, até ao momento, minimamente confiante nas suas capacidades para dominar e esmagar adversários como nos habituou ao longo dos anos.
Para quem está a ler esta crónica pode parecer uma previsão quase catastrófica para o City de Guardiola. E não sendo, poderá servir de aviso, uma vez que jogos grandes, apesar de serem rodeados de incertezas, são também decididos em detalhes muitas vezes psicológicos. E saber onde estão as nossa fraquezas poderá levar, na maioria das vezes, a uma maior concentração e consequente melhor exibição coletiva.
Esta semana na Premier League
Escusado será dizer que o destaque irá totalmente para o jogo analisado hoje. Contudo, não descuidar do importante encontro do Tottenham, do escaldante Leicester vs Wolves, do fulcral — para Solskjær — embate entre Everton vs United e, por fim, do Arsenal vs Aston Villa, onde Mikel Arteta quer continuar a deixar a sua marca na liga, neste caso à custa de uma das equipas sensação do início de época.
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