Penoso é um adjectivo que parece ser unânime para descrever as entrevistas rápidas ou as conferências de imprensa de José Mourinho depois dos jogos menos conseguidos. O treinador está sob uma enorme pressão, claramente não está contente com o coletivo que tem ao seu dispor e, em conjunto com a vontade de vencer que sempre o caracterizou, faz, neste momento, com que uma vez mais na sua carreira as ruturas entre si e o plantel comecem a notar-se.
Sempre que a equipa não ganha, e principalmente quando deixa escapar uma vantagem no resultado, as críticas, consternação e até mesmo resignação começam a tomar conta do discurso do português. Hoje olhamos para três conclusões que a cada fim-de-semana são mais e mais uma certeza.
O Tottenham é a desilusão da Premier League 2020/21
Com a derrota frente ao Manchester United aprendemos aquilo que o que é necessário é redirecionar a atenção para factos menos importantes quando o resultado não nos favorece. Mais uma vez, a atenção de Mourinho virou-se para um comentário, escusado, do treinador adversário — Solskjær disse que se Son fosse seu filho não comia depois de ter simulado uma agressão.
O Tottenham não se exibiu em bom plano, a estratégia de José Mourinho não tem sido, de acordo com os entendidos, a mais correta e, como o próprio faz questão de realçar, existem jogadores no plantel sem qualidade suficiente para altos voos. Ambos os fatores notam-se principalmente frente a equipas grandes que conseguem capitalizar as fragilidades de transição e defensivas da equipa.
Os Spurs contam com seis derrotas consecutivas frente aos restantes cinco grandes ingleses, se contarmos com o Leicester. Temos de recuar a 6 de dezembro de 2020 para encontrar uma vitória sobre um grande, o Arsenal. O Tottenham de Mourinho, desde que deixou de utilizar o 4x3x3 com um meio campo sólido normalmente composto por Pierre-Emile Højbjerg, Moussa Sissoko e Tanguy Ndombele, com o apoio de Steven Bergwijn, nunca mais foi o mesmo. Entre uma tática com três centrais e um 4x2x3x1 em que os quatro jogadores da frente são extremamente ofensivos, o técnico português nunca mais encontrou o equilíbrio que fez a equipa brilhar e os adeptos sonhar no início da temporada.
José Mourinho foi e continua a ser um dos melhores treinadores do mundo. Contudo, nesta fase, a abordagem estratégica para o conjunto de jogadores que tem parece ser inadequada. O tema já foi aqui abordado diversas vezes especialmente esta temporada em Um apelo a José Mourinho e A armadilha da posse de bola.
Os números que mostram a incapacidade do Tottenham em segurar vantagens ao longo da temporada:
Os números acima foram analisados pela Sky Sports após o término do clássico entre Tottenham e Manchester United e demonstram perfeitamente o baixo rendimento da equipa e a incapacidade de segurar os resultados positivos.
Ole Gunnar Solskjær continua a ser o treinador certo para o Manchester United
Outro tema recorrente nas crónicas sobre a Premier League, é o tempo dado a Solskjær à frente do United. Perdemos a conta às vezes que a opinião pública inglesa pediu a cabeça do treinador. Depois de início promissor a fasquia baixou e, com tempo, contratações, serenidade e aposta nos mais jovens sedentos de títulos e vitalidade, tem paulatinamente dado a volta aos críticos e ao clube. Atenção, o norueguês poderá até não ser o treinador certo e com a devida experiência para vencer títulos pelo United, mas já deu provas suficientes de que é o treinador certo para colocar o clube nessa rota. A vitória do fim de semana passado e o aproximar, mesmo que a onze pontos, do rival e líder Manchester City — sendo que a diferença pode ainda ser encurtada uma vez que o United tem um jogo em atraso — são razões suficientes para dar crédito e ter confiança nas capacidades do treinador para executar a tarefa de reanimar os Red Devils.
Um dos argumentos mais vistos é o de que Sir Alex Ferguson é a fasquia pela qual o United tem de se nivelar. Ainda que com razão, o facto é que nem Sir Alex foi capaz de lidar com equipas de performance extraordinária como foram o Arsenal de 2003/04 ou o Chelsea 2004/05 de José Mourinho, por exemplo. Dessa forma, Solskjær não terá de ser obrigado, em apenas dois anos, a lidar com o Liverpool dos 99 pontos e o City das vinte e uma vitórias consecutivas. O que é factual é que, independentemente de tudo isso, o ainda jovem treinador norueguês terminou em terceiro lugar na temporada passada, tem excelentes probabilidades de terminar em segundo esta época e está apenas a três ou quatro contratações de colocar uma equipa competitiva em campo. Se será capaz de restruturar a equipa de forma a que esta suba o patamar competitivo, isso só o tempo o dirá.
Serve apenas esta conclusão sobre o United e Solskjær para fazer um paralelo entre Mourinho e o clube ideal para o mesmo.
Será a única solução de José Mourinho um clube de menores dimensões?
Após mais uma desilusão ao deixar o Newcastle empatar nos minutos finais da partida, José Mourinho disse, no dia 4 de abril: “O mesmo treinador, jogadores diferentes.”
Será mesmo verdade? Talvez. Contudo o tempo tem vindo a provar duas coisas. José Mourinho assume o comando de uma equipa sem pressão e obrigação de vencer, como foi o Porto, o Chelsea por duas vezes e o Inter, ou José Mourinho assume o comando de uma equipa que tem essa obrigação mas ao mesmo tempo tem um plantel de alta qualidade, como foi o caso do Real Madrid. As restantes posições de José Mourinho foram as duas últimas curiosamente. Um United e um Tottenham que se esperam ser super ofensivos e que não têm, nem de longe, as características no plantel que se coadunem com o estilo de José Mourinho.
Roy Keane disse que a estrutura defensiva dos Spurs não é constituída por bons jogadores defensivos. Os laterais são bons ofensivamente, menos bons defensivamente. Os centrais não estão ao nível de um clube vencedor da Premier League. Com tudo isto e, acrescentando a futura pressão dos adeptos quando estes voltarem, José Mourinho tem em mãos um problema.
No mesmo painel Jamie Redknapp disse inclusivamente que José Mourinho teve sorte em não ter os adeptos dos Spurs no estádio. Estes não ficariam contentes com as exibições. O Tottenham pode não vencer há muito tempo, mas a qualidade exibicional sempre foi algo com que os adeptos poderiam levar do estádio como consolação. No jogo frente ao United, nem o resultado, nem a forma de jogar. A dimensão do clube, o investimento no estádio e neste caso a expectativa dos adeptos requer um tipo de futebol diferente caso as vitórias não estejam em cima da mesa. O mesmo aconteceu com o United e José Mourinho. Aí, ganhou troféus, não evitando o atrito. O seu nome e história no jogo trazem com ele uma aura e uma expectativa enormes. Mourinho não tem o luxo de passar três ou quatro anos a construir uma equipa. A pressão extrínseca e intrínseca nunca o permitirão.
Os números do Tottenham (frente ao United) em liderança e após ceder a liderança do jogo
De momento, não estando a imagem e estilo de jogo do treinador português associados a mais nenhum clube grande inglês, seria errado pensar que José Mourinho, caso não permaneça nos Spurs no final da temporada, deveria unir forças com um clube de menores dimensões? Onde a pressão por títulos estará automaticamente descartada e Mourinho pudesse construir uma super equipa?
Um dos clubes já falados é o Crystal Palace. A relação platónica do treinador para com o clube parece existir desde há muito. Ficam as declarações do mesmo ao longo do tempo para, quem sabe, uma previsão do futuro próximo do treinador português.
Junho de 2007
“Londres é perfeito. A minha família é feliz aqui. Apesar de nunca se poder prever o que poderá acontecer em futebol, gostaria de estar em Londres em 2012 (anos dos jogos Olímpicos). Se não for a trabalhar para o Chelsea, então que seja o Crystal Palace ou outro.”
Dezembro de 2013
“Ele (Tony Pulis) entrou no Palace com a equipa no fundo da tabela e muitos treinadores não teriam aceitado o desafio com medo de não terem hipóteses. Ele e a equipa fizeram um trabalho extraordinário”
Sobre os adeptos do Palace: “Fantásticos, fantásticos, fantásticos adeptos. Apoiaram a equipa até ao fim, ajudaram-nos o tempo todo.”
Março de 2014
“Eles (os adeptos do Palace) são barulhentos, apoiam a equipa, colocam pressão no adversário e no árbitro. E isso é bom. Sem violência, é algo que aprecio. Sinto falta do ambiente de Portsmouth, fico muito feliz por jogar em casa do Crystal Palace.”
Tudo isto, como pista para que o próximo destino de José Mourinho seja o Crystal Palace, poderá ser um argumento fraco. Contudo, se pensarmos nas dificuldades e nas restrições profissionais de José Mourinho no momento, poucas serão as oportunidades com a cara do treinador português. Poderia uma mudança radical de trajetória na sua carreira ser o segredo que trouxesse de volta o Special One?
Esta semana na Premier League
Mais uma jornada, mais um desafio. O Tottenham de José Mourinho, aqui evidenciado por nós, defronta mais um grande, se quisermos considerar o Everton como um. O embate da primeira volta remete-nos para a jornada inicial da Premier League em que o Everton entrou com o pé direito sobre a equipa londrina. Um jogo com oportunidades de lado a lado que acabou por cair para o lado do Everton com um golo solitário de Dominic Calvert-Lewin. A forma actual do Everton é outra ao momento, e a luta pelo sétimo lugar está em jogo.
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