A resposta à primeira pergunta é simples e deve ser respondida de imediato. Não! Não é possível mudar tudo do dia para a noite, Frank Lampard não é mau treinador, Tuchel não revolucionou o Chelsea, apenas alterou algumas peças e reconheceu prioridades. No fundo, Frank Lampard poderia estar na mesma posição que Tuchel, não fosse a falta de experiência e reconhecimento dos aspetos que iremos realçar hoje. Pelo menos são essas as diferenças implementadas por Tuchel que parecem estar a colocar este Chelsea, no curto prazo, como uma das equipas mais eficientes do mundo.
Foi na história recente do Chelsea que Tuchel encontrou a solução
- Antonio Conte
Em 2016, um empate e duas derrotas ainda no início do campeonato, com evidência especial na segunda derrota, onde o Chelsea sucumbia por três bolas a zero em casa do Arsenal, mudariam tudo. Conte revertia para o seu 3x4x3, que utilizara na Juventus e a partir desse momento o resto é história. Iniciando uma série de 13 vitórias, Conte levava o Chelsea novamente ao título inglês com a ajuda de uma alteração tática. Com um estilo simples e eficaz, Conte encontrou a fórmula perfeita para implementar o seu futebol: números na frente e números atrás; golos e capacidade de travar o momento ofensivo adversário, especialmente nos ataques rápidos após perdas de bola do Chelsea. O resultado foram 30 vitórias em 38 jogos para vencer a Premier League com 6 pontos de avanço para o Tottenham de Pochettino.
- Maurizio Sarri
Mudando de treinador mas protelando o estilo italiano que tantos resultados deu, sai Conte, entra Sarri.
Com Sarri o Chelsea jogava um futebol de posse, com grande insistência nos movimentos entre linhas para assegurar essa mesma posse, com várias mudanças de flanco até que a equipa encontrasse um movimento ou passe vertical, apostando no desequilíbrio do opositor através de ações rápidas. Aquando da perda de posse de bola a reação era imediata e a pressão alta, fechando espaço entre linhas, obrigando o adversário a jogar sob pressão ou a lançar a bola na frente, para beneficio do próprio Chelsea. Com o acumular de experiência das equipas adversárias sobre o Chelsea de Sarri, blocos baixos começaram a ser um problema para a equipa, levando aos maus resultados.
Essa falta de resultados é explicada em grande parte por um meio campo mais trabalhador que criativo e um esquema tático em 4x3x3 que, nos dias de hoje para poder quebrar equipas fechadas terá que recorrer à subida dos alas no terreno, expondo as costas da defesa, ou ter um meio campo mais criativo, que não era o caso na equipa de Sarri. O resultado foram 9 empates e 8 derrotas que não assegurariam mais que um terceiro lugar na liga ao experiente treinador italiano.
- Frank Lampard & Thomas Tuchel
Assim como Conte em 2016, tivesse Lampard alterado a tática e poderia ainda estar à frente da equipa Londrina. Por razões diferentes que as da equipa do Italiano, mas o Chelsea necessitava de uma alteração não só tática mas de posicionamento de alguns jogadores-chave.
Antes de mais, há que enaltecer o trabalho de Frank Lampard, uma vez que os resultados da equipa neste momento, sob a batuta de Tuchel, têm uma influência enorme sua. Assim sendo, vejamos onde Tuchel retocou a equipa de Lampard para esta passar de uma equipa pouco consistente a uma maquina de vencer.
O tempo de Lampard no Chelsea é dividido em duas fases, pré-transferências e pós-transferências. Na primeira temporada ao serviço do Chelsea viu algumas chegadas, mas não as suficientes para mudar a forma como a equipa resolvia/vencia jogos. Recordemos que o problema de Sarri acabara por ser desmontar blocos baixos. Com a chegada de Pulisic, Mount e algum sangue novo da academia, Lampard conseguiu implementar um futebol atacante mas ainda não letal. Ainda sem consistência tática, utilizando diversas ao longo da época, a escolhida durante a segunda e última temporada foi um 4x2x3x1. Uma tática que, como qualquer outra, se poder adaptar a qualquer filosofia, não é normalmente a tática escolhida para equipas que, como o Chelsea de Lampard, gostam de posse, números na frente e pressão alta.
Normalmente a incidência do 4x2x3x1 vai para o duplo pivot e foi aí que Lampard, na época pó-transferência, colocou Mason Mount. A tentativa de utilização de jogadores, que pudessem dar vida ao processo ofensivo, levou a que descuidasse o processo defensivo. Isto porque, em conjunto com a verticalidade dos laterais, Reece James e Ben Chilwell, a tática torna-se incomportável com o equilíbrio necessário para vencer não só jogos, como uma prova da dificuldade da Premier League.
O conflito de tática com estratégia/jogadores seria o início do fim de Frank Lampard como treinador do Chelsea e o foco de Tuchel ao assumir o controlo da equipa.
De sublinhar o excelente futebol atacante produzido pela equipa. Independentemente dos resultados, devido ao desequilíbrio defensivo da equipa, o Chelsea de Lampard era uma equipa cujo processo ofensivo era dinâmico, veloz e eficaz.
O que mudou Tuchel para revolucionar não a equipa mas a forma como esta segura jogos e acaba por vence-los? Com 14 jogos, 10 vitórias, 4 empates e nenhuma derrota até ao momento, Tuchel é já a sensação da época e não só está a solidificar a quarta posição na Premier League, como poderá vir a lutar pelo segundo e terceiro lugares na tabela, e é uma das equipas a ter em conta na Liga dos Campeões.
Com 17 golos marcados e apenas dois sofridos, sendo apenas um deles do adversário, já que o outro foi um autogolo desastroso de Antonio Rüdiger, o que mudou Thomas Tuchel?
Sendo conhecido por ser um estudioso do adversário, neste caso parece que Tuchel terá estudado, primeiramente, a história recente do Chelsea. Já que, aproveitando as rotinas de posse e dinâmicas atacantes de Lampard, foi com uma mudança de sistema, e alteração de algumas peças no onze, que Tuchel revolucionou a equipa.
Com a reinvenção do 3x4x3 de Antonio Conte, a posse de Sarri e o ataque criativo de Lampard, Tuchel encontrou a solução perfeita para o problema do Chelsea e para a implementação do seu próprio futebol. Ao contrário de Lampard, onde as responsabilidades defensivas dos laterais eram de importância vital para a equipa, o alemão assumiu essa importância e reforçou o centro da defesa. A existência de três centrais focados no processo defensivo e a não colocação de jogadores como Mason Mount no centro do terreno, onde o processo de contenção ocorre com frequência, foram igualmente cruciais. Tuchel foi capaz de, de forma simples e económica - no sentido de permitir à equipa continuar com as rotinas ofensivas já existentes - revolucionar a equipa para que esta desse o passo necessário para passar de uma equipa ofensiva, a uma equipa vencedora.
Ao observarmos o Chelsea podemos ver agora a influência dos laterais na equipa, sem que haja falhas de posicionamento. Redescobrindo o papel de trabalhador a Kante, Tuchel reanimou o jogador francês e com ele a própria equipa. O estilo de jogo do jovem treinador de 47 anos vem ao encontro das características dos treinadores antecessores e, como tal, a transição parece estar a ser facilitada. Tuchel pode, assim, ter sido a opção ideal de Abramovich para a sucessão de Frank Lampard.
Esta semana na Premier League
Além da expectativa de ver o duelo pelos lugares cimeiros, entre Manchester United, Leicester City e Chelsea, temos o atrativo de um Arsenal Liverpool que, apesar da fase menos boa de ambas, será sempre um agradável espetáculo de futebol que promete golos e emoção.
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