O maior clássico inglês, cuja história já tive oportunidade de aprofundar em Guerra dos Tronos na Liga Inglesajá influenciou o rumo do Manchester United esta temporada e poderá fazê-lo novamente. Mas antes de olharmos para o que poderá afetar as emoções e nervos das equipas, vejamos o passado recente de ambas as equipas.

Com sete vitórias nas últimas nove ocasiões que recebeu o Liverpool em Old Trafford, o Manchester United, mesmo não atravessando os melhores anos da sua história, continua a dominar o histórico embate. Ao mesmo tempo, focando a lente nos jogos mais recentes da equipa de Jürgen Klopp, o Liverpool só perdeu um dos seus últimos treze jogos fora a contar para a Premier League.

Desde logo, a colisão da bagagem histórica com a performance recente das equipas, é razão mais que suficiente para estarmos ansiosos pelo apito inicial de Michael Oliver, mas há mais uma estatística interessante que poderá abrir a porta ao tema "pressão".

O Liverpool, contra equipas que, no dia do encontro, se encontravam entre nos quatro primeiros da tabela classificativa, não consegue arrancar uma vitória, fora de casa, há já sete partidas. Uma estatística que nos faz lembrar o Tottenham da época passada, que tinha, por norma, mais dificuldades em vencer equipas de topo. Mais uma vez, a pressão dos grandes encontros e dos encontros diretos, que podem obrigar a movimentações nos primeiros lugares da classificação, pode ter influência sobre estas equipas.

“Pressão, qual pressão?”

O que Ole Gunnar Solskjær já fez, e continua a fazer, é impressionante. A capacidade que o norueguês tem tido para manter o Manchester United competitivo, sem deixar transparecer uma gota de pressão, é algo raramente visto ao mais alto nível do desporto, e do futebol em particular.

Quando se pensava que, após atingir o quarto lugar da tabela classificativa - algo impensável de há dois meses a esta parte -, a pressão chegaria, não podíamos estar mais enganados. Ou então tendo a certeza que, após uma derrota para a Liga dos Campeões - frente ao PSG, depois de onze jogos de invencibilidade - a equipa começaria tornar-se mais ‘humana’ e as dúvidas no plantel poderiam surgir. Não! O que é certo é que, mesmo assim, Solskjær e a sua equipa voltam a jogo como se nada se tivesse passado, enfrentam o Chelsea para a FA Cup - após já terem eliminado o Arsenal para a mesma competição - e despacham a equipa de Maurizio Sarri, fazendo todo o processo parecer uma tarefa fácil.

Para o United, a combinação de ter um treinador a quem não é pedido este mundo e o outro, e uma equipa que precisava de confiança e liberdade para explorar a sua maior qualidade, o setor ofensivo, está a desafiar as probabilidades. Colocando o jogo da Liga dos Campeões de parte, os "Red Devils" podem, neste momento, vencer qualquer equipa nas competições caseiras e poderão mesmo ajudar a decidir o título a favor do Manchester City. Não que não seja muito cedo para falar do título, que o é, mas porque o Liverpool tem, é um facto, cedido à pressão imposta pelos "Citizens" e pelo facto de não ter aproveitado, há umas semanas, a oportunidade de se distanciar da equipa de Pep Guardiola.

De onde vem tal confiança? Tamanha capacidade de virar costas à pressão? Como consegue o histórico Manchester United encarar cada jogo com a liberdade mental de uma equipa de meio da tabela? A razão parece-me ser apenas uma. Com a contratação de um elemento respeitado e acarinhado durante anos pelos adeptos, em conjunto com a sua ‘inexperiência’ ao mais alto nível como treinador, tem resultado na combinação perfeita levando uma equipa jovem a explorar resultados que, em condições normais, poderiam não ser os mesmos. Todo o mérito terá de ser dado a Solskjær que, mais uma vez digo, terá de continuar à frente da equipa no início da próxima temporada.

Como poderá o United levar de vencida o Liverpool

Por falar em pressão, este será o fator mais relevante de todo o encontro. A forma como o United lida com a pressão de, à partida,  ter alguma responsabilidade para o jogo, já analisámos, mas e o Liverpool? Quanto aos "Reds", parece-me a mim, poderão ser os seus próprios inimigos. A equipa poderá jogar como o Liverpool que conhecemos e poderá, inclusivamente, ‘atropelar’ este Manchester United, já que tem condições para isso, mas a dinâmica histórica entre ambos os emblemas, aliada ao facto de jogar fora e à proximidade do Manchester City na pontuação poderão, na minha opinião, fazer a equipa de Klopp tremer.

Como lida a equipa do treinador alemão com a pressão de ter tudo a perder, especialmente tendo em conta que essa mesma tem tudo para crescer com o passar das jornadas? Nem sempre é fácil dizer, mas olhando para os resultados de final de janeiro e início de fevereiro - dois empates, ambos a uma bola, primeiro em casa frente ao Leicester e logo de seguida, fora, frente ao West Ham - , numa altura em que os "Reds" poderiam ter aumentado significativamente a distância para o segundo classificado, Manchester City, vemos que a equipa do Norte de Inglaterra se deixou afetar e perdeu pontos que, em teoria, teriam de ser conquistados. No entanto, uma nota para o facto do Liverpool ter um jogo em atraso e caso consiga, no mínimo, um ponto nesse mesmo jogo, passará para a frente dos "Citizens".

Estando a pressão colocada de parte no que toca ao Manchester United e sabendo nós que o Liverpool poderá estar extremamente vulnerável à mesma, que mais poderá influenciar o maior clássico inglês de futebol? Para isso teremos de esperar pelo tão aguardado encontro. Para já, o Liverpool e, mais à frente no campeonato, o Manchester City, serão os desafios mais difíceis e interessantes que o United terá a contar para a Premier League e cá estaremos para ver como lida com eles.

No final, independentemente da pressão ou dos fatores táticos, este é um clássico do futebol inglês. Um jogo que se sobrepõe a jogadores, forma das equipas ou classificação. Este é um jogo em que os próprios adeptos fazem os jogadores sentir a sua importância, em que ninguém quer perder e no qual todos querem participar. Quando a bola começar a rolar, pouco mais importará a não ser dar tudo o que há para dar durante 90 minutos de jogo.

Por fim, dizer que, caso Solskjær consiga lutar de igual para igual com o Liverpool no próximo domingo, e caso a família Glazer e Edward Woodward ainda não tenham decidido sobre a permanência do norueguês na próxima temporada, talvez essa questão seja definitivamente respondida.