De entre imensos casos positivos na Premier League deste ano — futebolisticamente falando —, os Wolves destacam-se por razões opostas. Com dois meses e meio no início de época positivos, a equipa entrou com o pé esquerdo no mês de dezembro e desde então não conseguiu voltar à boa forma a que nos tem habituado desde que Nuno tomou conta da equipa em 2017. Vejamos as razões para o declínio exibicional e falta de resultados da equipa do norte de Inglaterra.
Raúl Jiménez
Não o jogador em si, mas a falta do mesmo poderá ser a causa maior da queda exibicional da equipa. Contudo, um jogador não poderá explicar tudo e a equipa terá de receber louros e criticas como um todo. O que é certo é que desde a lesão do mexicano, na vitória por 2-1 frente ao Arsenal a 29 de novembro, que os Wolves estão irreconhecíveis.
Com Raúl Jiménez no onze inicial, os Wolves têm um registo, na época 2020/21, de cinco vitórias, dois empates e três derrotas em 10 jogos realizados. Desde a sua lesão, os Wolves apresentam uma vitória, dois empates e seis (!) derrotas em nove jogos efectuados. À data da lesão de Jiménez, os Wolves estavam, curiosamente, em sétimo lugar. O lugar que foi seu no final das duas últimas temporadas na Premier League. Desde a décima jornada, os Wolves desceram o mesmo número de lugares em que se encontravam na tabela, encontrando-se agora na décima quarta posição.
Jiménez — ou a sua ausência — parece ser a causa maior do decréscimo de rendimento da equipa. Contudo poderá não ser a única. Vejamos outras.
Fábio Silva
Por muito potencial que o jogador tenha e por muito que se possa argumentar quanto ao valor pago pelos Wolves pelos serviços do avançado português, Fábio Silva foi pensado neste projecto como um jogador sombra de Jimenez. Um elemento que teria tempo para progredir física e tecnicamente, adaptando-se paulatinamente à liga até ao dia em que teria oportunidade de brilhar. Como qualquer outro plano, corria o risco de ter de ser colocado de lado e foi o que aconteceu. Com a lesão de Jiménez, esse plano foi rasgado e a necessidade de preencher o espaço deixado no centro do ataque dos Wolves fez com que Silva fosse, literalmente, atirado aos lobos.
Em 14 jogos ao serviço dos Wolves, o jovem avançado marcou apenas dois golos e com isso não vem mal ao mundo. O esforço e dedicação do jovem serão recompensados, mas pedir-lhe que carregue a equipa como o mexicano por vezes o faz seria pedir e esperar demais neste momento da carreira do avançado.
Terá sido um erro, a contratação de Fábio Silva? De recordar que apesar de já ouvirmos falar em Fábio Silva há algum tempo, o jogador ainda não completou 19 anos. Terá sido um erro da parte do Wolves, não a contratação o jovem mas, a falta de uma solução mais consolidada para, eventualmente calçar as botas de Raul Jimenez? Não precisamos de responder à pergunta. O próprio clube já fez questão de o dizer, não por palavras mas por acções, ou pelo menos estará perto de o fazer. É esse o sinal dado com o eminente empréstimo do avançado da Real Sociedad Willian José, segundo avança a imprensa inglesa. E se assim for, será uma admissão de culpa por parte dos Wolves ao não terem mais soluções de ataque, permitindo a Fábio Silva alguns minutos na equipa principal, contudo, deixando o jogador evoluir nos Sub-23 na maior parte do tempo durante uma ou duas temporadas.
Adama Traoré
Este é um caso peculiar. O nome do extremo espanhol está aqui por ter sido um jogador influente na temporada passada e por estar, de momento, abaixo desse mesmo rendimento. Numa altura em que a equipa mais precisaria dele, Adama Traoré não tem dado à equipa solidez, golos, consistência, como seria de esperar. Eu serei suspeito ao falar de Adama Traoré, uma vez que nunca vi mais do que momentos repentinos do veloz internacional espanhol. Nunca me pareceu um jogador que pudesse dar mais do que uma solução vinda do banco de suplentes para mexer com o jogo e, até ao momento, não diria estar enganado. Quem discorda desta opinião parecem ser os responsáveis do Liverpool e Manchester City que, alegadamente, estão na corrida pela contratação do jogador. Não compreendo e teremos de esperar para ver se, não só se os rumores de transferência são verdadeiros, como se a influência de um jogador com características tão específicas, numa equipa grande e de sistemas tão complexos como City e Liverpool, será ou não significativa.
Estádio vazio
Terá a pandemia, e a consequente ausência de publico, influenciado o rendimento da equipa no estádio Molineux? Poder-se-á argumentar que é igual para todas as equipas. Contudo, discordo. Acho que os Wolves, assim como algumas equipas na Premier League, serão mais prejudicadas por não terem o seu público nos estádios, ao contrário de outras, onde o público caseiro tem por vezes uma ação mais nociva do que propriamente construtiva no rendimento da equipa. Equipas como Liverpool e Wolves alimentam-se claramente do calor e emoção dos seus adeptos e daí serem conhecidas pela sua consistência a jogar em casa. Equipas como Chelsea e Tottenham, para mencionar duas, nem sempre beneficiam do público caseiro, tendo este uma influência nem sempre positiva no rendimento da equipa, deixando-a historicamente em alguns momentos mais nervosa do que confiante em momentos de pressão.
As perdas de Matt Doherty e Jota
Chegámos aquela que, em conjunto com a ausência de Raúl Jiménez poderá ser a outra razão principal para a quebra de rendimento da equipa. Sim, as ausências de Doherty e Jota vêm desde o final da época passada, o que não significa que, por uma razão ou por outra, incluindo as boas prestações de Jiménez, os Wolves não pudessem segurar exibições satisfatórias por um determinado período de tempo. Contudo a perda definitiva de dois elementos fundamentais e agora de Jiménez temporariamente poderá ser o limite da equipa conduzida por Nuno.
A influência do também lesionado Jota foi indiscutível e, ao contrário de Traoré, temos a certeza que Jota era o tipo de jogador que viria em resgate da equipa e que poderia carregá-la por algum tempo. Com a perda do português, existem agora outras soluções, que se têm exibido em grande nível, como são os casos de Pedro Neto e Daniel Podence. No entanto, Jota tinha outra experiência na Premier League e parecia, como provou a sua transferência para o Liverpool, estar de momento noutro patamar exibicional.
Assim sendo chegamos aquela que poderá ser uma dura realidade mas que, de forma a transformar o mau momento num outro mais positivo, terá de ser encarada. Os Wolves necessitam de renovação. De uma injeção de energia, de outras soluções e de algum tempo para os novos jogadores poderem evoluir um pouco mais. A equipa poderá ter atingido o seu pico na temporada passada, com outro sétimo lugar na liga e os quartos-de-final da Liga Europa, e poderá agora ter de passar por uma época menos boa, repensar alguns elementos, renovar outros e partir para a próxima temporada com novas aspirações. Ambas as janelas de transferência serão fundamentais para acalmar os adeptos que, desde 2017, antes da chegada de Nuno Espírito Santo, não estavam tão nervosos e, alguns até, divididos.
Esta semana na Premier League
Em mais um fim-de-semana dedicado ao calendário da FA Cup, a próxima jornada da Premier League, sem tempo a perder, será jogada a meio da semana. Com diversos jogos importantes a serem jogados, do ponto de vista exibicional as esperanças estão colocadas no Everton v Leicester. Ambas as equipas estão a fazer um excelente campeonato, com o Everton a aproximar-se dos lugares da frente e com o Leicester, a par do United, a querer tomar a liderança da liga. Do ponto de vista de importância para a resolução do futuro das equipas, temos o electrizante Spurs v Liverpool a fechar a jornada na quinta-feira dia 28 de janeiro. Após mais uma derrota, o Liverpool não vence há já cinco jornadas, algo impensável no início da época e facto do qual José Mourinho terá, obrigatoriamente, de tomar vantagem, se quer ver a sua equipa a lutar por um título inglês que de momento, parece poder cair para qualquer lado.
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