Quentin Beunardeau chegou este ano a Portugal, vindo do Metz (que desceu na temporada passada à Ligue 2, segunda divisão francesa). Com 41 internacionalizações nas seleções sub-16 a sub-20, em França, um dos primeiros atos do então desconhecido guarda-redes do Desportivo das Aves foi no jogo da Supertaça, diante o FC Porto. Após a derrota por 3-1 com os Dragões, à sua frente estava a concretização de um “sonho de criança”. Nem mais, nem menos que “jogar” com Iker Casillas, o dono da baliza dos azuis e brancos, e com quem, curiosamente, vai jogar no sábado
“Quando ia para o autocarro, perguntei ao Maxi Pereira se podia falar com Casillas. Com a ajuda do telemóvel mostrei-lhe uma mensagem porque não sabia na altura falar português. Ele sorriu e deu-ma”, disse, ao SAPO24, num português hoje bastante razoável, o guarda-redes menos batido na 2ª volta, nos jogos fora de casa (somente um golo em 6 jogos).
Beunardeau congratula-se de, em pouco tempo, já conseguir “falar com todos”. Diz que o objetivo quando aterrou em Portugal “era falar o mais rápido possível, no balneário e no campo” e que a “língua não é barreira”.
Na fase de adaptação, Quim, antigo internacional português e com mais de 400 jogos na primeira Liga, atual diretor de relações institucionais do clube, após cinco épocas a defender a baliza avense, foi peça-chave. “Explicou-me a história do clube e ajudou-me na tradução de alguns exercícios”, relembrou.
Foi, no entanto, em bom francês que voltou a trocar camisola com outro guarda-redes. No caso concreto, com Salin, seu compatriota que ocupou a baliza do Sporting no jogo de 13 de abril, na Vila das Aves. Uma troca que tem um significado especial. “O meu pai foi treinador dele. Já o conhecia e foi uma pessoa que ajudou à minha integração no país”, recordou.
O pai que foi responsável por tudo e a melhor fase da vida em Portugal
Régis Beunardeau, pai de Quentin Beunardeau, jogou toda a sua vida de futebolista profissional no FC Le Mans, de 1985 a 1999. Enquanto treinador, na formação do Le Mans, orientou o filho, “dos 15 aos 20 anos”. A expressão “obrigado, pai”, sai-lhe com espontaneidade, ou não fosse o progenitor o responsável por “tudo” e de o ter “empurrado até aqui”, disse. Distinguir o trabalho da vida familiar não foi tarefa que tenha conseguido fazer e afirma estar “triste” por não o ter nas bancadas a “ver os meus jogos”. Afinal, “o meu pai é o meu pai”, solta.
Aos 25 anos, depois de ter jogado somente um jogo na Ligue 1 (1ª divisão francesa), ao serviço do Metz, ter “feito poucos jogos na 2ª divisão”, ter estado “dois anos na Bélgica”, igualmente na 2ª divisão, depois de ter representado quatro clubes, em Portugal começa a despertar o interesse de clubes ingleses e franceses. “Estou a viver o melhor momento da carreira”, assume. “Um guarda-redes necessita de ter experiência. De jogar”, explica.
Em relação ao putativo interesse de outros emblemas, fecha-se em copas. “Em França não tive oportunidades. Estou a ter aqui. Num campeonato com grandes equipas. Mas estou preocupado em cumprir o objetivo da manutenção”, assume, pondo fim ao tema.
Aproveita e compara os dois campeonatos, gaulês e português. “Não há muita diferença. Em França há o PSG, em Portugal, Benfica e Porto”, especifica. Se os estádios em França têm todas as semanas “30 mil pessoas”, em Portugal “jogas diante 60 mil no estádio do Benfica”, descreve. “Há grandes equipas e grandes jogadores nos dois campeonatos”, resume.
Diferenças encontra, sim, em alguns métodos de treino. “Aqui trabalhamos tudo. Profundidade e remate. Em França fazemos mais remates”, explica enquanto aproveita para elogiar Tiago Castro, treinador de guarda-redes. “Estou feliz por trabalhar com ele. Ajuda-me muito e dá-nos muita confiança”, sublinha.
Fora de campo, Quentin Beunardeau gosta de fazer “comidas e bolos”
Acrescenta que quando troca de roupa no balneário é “um pouco mais louco”, ainda mais do que quando está em campo. “Para ser um guarda-redes devemos ser um pouco loucos”, reforça.
Gosta “muito de falar”. Fala de tudo. Só não perde tempo em falar de árbitros e arbitragem. “Não gosto falar de árbitros. Fazem o melhor trabalho possível”, frisa. “Fiz um treino de árbitro e sei que é muito difícil”, finaliza.
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