O futebol suíço cresceu muito graças aos jogadores de origens estrangeiras, com casos curiosos até dentro da mesma família, como na casa dos Xhaka, com Granit a ter decidido jogar pela Suíça e o seu irmão Taulant pela Albânia, o país onde estão as suas raízes familiares.

Rakitic nasceu em Rheinfelden, no cantão de Argóvia, perto da Basileia. Cresceu em Möhlin, uma pequena cidade de 11 mil habitantes, onde o seu pai, refugiado da guerra na Jugoslávia, criou em 1993 o clube NK Pajde Möhlin, onde Ivan começou a jogar futebol.

Mais tarde, com 19 anos juntou-se aos suíços do Basileia, passando depois pelos alemães do Schalke 04. Sem nunca lhe perder o rasto, a Federação Suíça de Futebol acompanhou sempre de perto a evolução do jogador.

"O potencial estava ali, não havia dúvidas sobre ele nas seleções suíças. Lutámos para que ele ficasse connosco", declarou à AFP Bernard Challandes, então técnico da seleção juvenil da Suíça.

Rakitic com a camisola helvética? Só em amigáveis

Naquela época, o regulamento era diferente e um jogador que disputava uma partida oficial com uma seleção juvenil não podia, no futuro, optar por defender as cores de outro país.

"Isso sempre foi claro e explicou o facto de [Rakitic] ainda não ter tomado a sua decisão, na altura. Dessa forma, ele era convocado apenas para as partidas amigáveis", explica Challandes, agora técnico do Kosovo.

Em setembro de 2007, Rakitic finalmente estreou-se com a Croácia e desde então defendeu o país em dois Europeus e dois Mundiais.

créditos: PETER POWELL/EPA

"Sei de onde venho. Cresci na Suíça, estou orgulhoso de ter jogado pela Suíça nos juvenis", explicou Rakitic numa entrevista recente ao jornal suíço Le Temps.

"Estava decidido a jogar com a Croácia e não com a Suíça", acrescentou. E comunicou isso aos técnicos suíço, Köbi Kuhn, e croata, Slaven Bilic.

É caso para dizer que se há 11 anos a decisão tivesse sido outra, muito provavelmente Rakitic teria ficado pelos oitavos-de-final neste Mundial, eliminatória em que a seleção helvética caiu diante da Suécia. Estaria, pelo menos, muito mais longe de fazer história.

"Tem tudo e nada"

No que se refere ao seu estilo, "é um jogador que tem tudo e nada: não é especialmente rápido, não é especialmente forte fisicamente, não é um artilheiro... Mas faz tudo certinho, é uma espécie de Zidane que percebe e vê tudo antes que os demais e que é muito bom tecnicamente", destaca o técnico.

Neste Mundial, Rakitic marcou um único golo, na vitória por 3-0 sobre a Argentina.

Ivan Rakitic perdeu 4 quilos no jogo contra Inglaterra. Isto, depois de ter passado a noite anterior com 39 graus de febre
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"Ele conseguiu fazer um Mundial muito bom, já que desde o início foi o que é: um jogador indispensável, que nunca ganhará a Bola de Ouro porque não faz bicicletas ou outros detalhes técnicos, mas que joga de uma maneira tão fácil que às vezes as pessoas têm dificuldades em perceber como ele é importante para a equipa. Ele cumpre o seu papel maravilhosamente", acrescentou o técnico.

Rakitic é a estrela desta seleção da Croácia ao lado de Luka Modric. Para ambos, como para seus companheiros, o cansaço depois das eliminatórias com três prolongamentos, será um fator a ter em conta no domingo.

"A chave da partida está na recuperação física. Os croatas vão recuperar dos seus esforços, com um dia a menos de recuperação? Se for assim, então a decisão poderá vir de jogadores excepcionais como Rakitic, Modric ou Perisic, e também de Mbappé ou Griezmann", analisou Challandes.