Uma lista curta mas cheia de talento. Temos o primeiro português a ser eleito Golden Boy, a transferência mais cara de sempre do Sporting, o primeiro português a integrar o plantel do Barcelona esta década e um jovem talento em bruto, que após um início de carreira conturbado, começa a mostrar aquilo de que é capaz e o porquê de, em 2013, ter tido os gigantes europeus à porta de Alvalade a batalhar pela sua contratação.
Todos eles estão constantemente debaixo dos holofotes. Além fronteiras, a realidade é outra e as opiniões dividem-se: para a imprensa desportiva o desempenho é um, nos balcões dos cafés a opinião é outra. Para tirar tudo a limpo, nada como recorrer às estatísticas e aos números. Renato Sanches, apesar da pouca utilização, tem estado pior do que quando jogava na Luz? E Bruma? O antigo talento leonino está melhor depois do 'finca pé' para sair de Alvalade? João Mário continua a ser tão determinante no Inter de Milão como era no Sporting e como foi para a seleção portuguesa? E por fim, André Gomes: terão os blaugrana dado um passo maior do que a perna aquando da decisão de contratar o campeão europeu?
O SAPO24 e o GoalPoint vão tentar responder a estas e outras questões. Ora veja.
Renato Sanches
Ainda antes de abrir o mercado de transferências do verão de 2016, já Renato Sanches estava vendido aos alemães do Bayern de Munique. Numa transferência de 35 milhões de euros, que pode ascender até aos 80 milhões caso o português alcance determinados objetivos, o Golden Boy foi um dos principais protagonistas da janela de transferências, não só pelo valor pago por um jogador de tão tenra idade, mas sobretudo pela imagem que passou ao mundo por se ter imposto como titular no SL Benfica e se ter afirmado como uma das principais soluções para a luta da seleção nacional na conquista do Campeonato da Europa.
Chegado à Baviera, o jovem da Musgueira não teve a vida facilitada. 'Atropelado' pelo alemão Kimmich, que se apresentou em grande forma no início da temporada, Renato Sanches foi remetido para o banco de suplentes e têm sido escassas as vezes em que é utilizado. Soma 19 jogos, apenas 7 a titular, e nunca cumpriu os 90 minutos, esta época, dentro das quatro linhas. Mas quão diferente está a jovem pérola encarnada?
Se olharmos para os números as diferenças estão longe de ser escandalosas. Comparando a sua prestação na Liga NOS, no ano passado, com a atual época na Bundesliga, vemos que os parâmetros não variaram muito. Salta à vista que em terras germânicas o português não assistiu nem marcou qualquer golo. Fora isto, os únicos comparativos em que piorou foram os passes para ocasião e as ações defensivas. Ou seja, o médio tornou-se menos preponderante no meio-campo, errando mais. No entanto, destaca-se uma grande melhoria na eficácia de passes no meio-campo adversário e na quantidade de vezes que Renato remata.
Este pode ser o espelho de um ano de adaptação. Se está a comprovar o seu valor? A resposta tem sido dada sucessivas vezes por Carlo Anceloti que diz que Renato não sai e que conta com ele para o futuro.
João Mário
Após ter envergado durante 13 anos a camisola do Sporting CP, João Mário, campeão europeu, protagonizou a maior transferência de sempre em Alvalade ao sair para o Inter de Milão por 40 milhões de euros.
De verde e branco, o médio mostrou ser um jogador chave no Sporting CP da época passada e sua saída deixou um buraco enorme em Alvalade, apenas compensada pelo aparecimento de Gelson Martins.
Com 3 golos e 4 assistências em 23 jogos, a experiência em Itália transformou o médio formado em Alvalade. O irmão de Wilson Eduardo deixou de jogar tão encostado à linha e passou a posicionar-se mais no centro do terreno; remata e defende menos, assumindo mais o papel de ‘maestro’, que lança os companheiros nas suas ações. Tal verifica-se na grande diferença, da época passada para esta, ao nível dos passes para ocasião e nos dribles conseguidos.
Depois da época de estreia, parecem ter sido lançadas boas bases para um futuro risonho do médio português ao serviço dos Nerazzurri.
André Gomes
A saída do médio português do SL Benfica para o Valência em 2014 tinha dividiu a opinião pública na altura. Uns diziam que era o espelho da fraca política de aposta em jovens de Jorge Jesus. Outros, que era um excelente negócio. Afinal de contas André Gomes tinha saltado a fronteira por 20 milhões de euros com pouco mais de 40 jogos com a camisola do clube da Luz.
No Mestalla brilhou mas, ainda assim, a sua transferência para o Barcelona por 35 milhões de euros não deixou de ser surpreendente. Em Camp Nou veio encontrar uma concorrência enorme, com um meio-campo titular formado por Iniesta, Sergio Busquets e Rakitic.
Com poucos jogos a titular, o internacional português passou de estrela da equipa (em Valência), à principal vítima da ira dos adeptos aquando das más exibições dos blaugrana. Mas estará o médio assim tão diferente?
Os números dizem que não. O papel de André Gomes em Camp Nou é muito mais defensivo do que era no Mestalla. O português tem a função de fazer a primeira ligação entre a defesa e o ataque e os dados estatísticos mostram isso mesmo: mais ações defensivas e mais passes eficazes no meio-campo adversário. Por contraste, passou a rematar menos e a sair menos a jogar com bola.
Tal como Renato Sanches, esta é uma primeira época de adaptação a uma nova realidade. Resta saber se, no futuro, André Gomes faz jus ao valor pago e à confiança depositada pelo Barça nas suas qualidades.
Bruma
Em 2013, Armindo Tué Na Bangna, mais conhecido por Bruma, era o principal rosto do talento que saía de Alcochete. Contudo, a sua transferência para o Galatasaray não foi simples. O jogador não queria ficar em Alvalade e o facto de os direitos do jogador estarem distribuídos entre Sporting CP, Holdimo, Catió Baldé, e Pini Zahavi dificultou a transferência e um acordo entre as partes.
A verdade é que Bruma acabou mesmo por chegar à Turquia, esbarrando numa realidade completamente diferente. Na primeira época, não foi opção recorrente, tendo mesmo chegado a ser emprestado a outro emblema turco, o Gaziantepspor, no qual não realizou qualquer partida. A segunda época foi melhor, mas ainda assim o jogador estava longe de ser o extremo explosivo que se mostrou de verde e branco. Em 2015/16, segundo empréstimo: Bruma sai da Turquia e aterra em Espanha para alinhar pelos bascos da Real Sociedad. A experiência, mais uma vez, não correu da melhor maneira.
Regressado à Turquia, muito se falou em nova transferência, mas o internacional português acabaria por ficar e pôr fim a todas as dúvidas, com uma época que está a encher as medidas aos dirigentes do clube. Com 8 golos e 6 assistências em 21 jogos , o extremo tornou-se vital para o clube turco. O que mudou?
As estatísticas mostram que Bruma se tornou num jogador mais de equipa e que passou a jogar mais com a bola nos pés. O número de remates no campeonato turco diminui, assim como os cruzamentos. Mas o extremo passou a driblar mais (e melhor) e a fazer mais passes para ocasião de golo. Decisivo, portanto.
Contas feitas e...
As contas fazem-se no fim, e tendo em conta a tenra idade de cada um dos protagonistas desta análise, todos eles têm possibilidade de crescer e vingar em cada um dos países em que se encontram. Para três deles, esta é a época de estreia num gigante europeu; para Bruma, é o regresso a uma casa onde está determinado a vencer.
A conclusão maior é que cada um deles está diferente, com novos papéis, devidamente moldados às novas realidades. Mas, sobretudo, sabemos que os seus treinadores contam com eles para o futuro. Eles, melhor do que ninguém, saberão o papel adequado para cada um no desenrolar desta e das próximas épocas.
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