“O futebol já não é um território exclusivamente masculino. Foi-o historicamente, mas esta é altura de as mulheres entrarem. Há mais jogadoras, há mais audiência nos estádios e nas transmissões (televisivas e online)”. Foi desta forma que Sarai Bareman, diretora da divisão de Futebol Feminino da FIFA, começou uma conversa cronometrada com o SAPO24 após a sua apresentação no segundo dia do Football Talks. “É um momento importante para o futebol feminino”, sustenta.
A FIFA deu, no ano passado, um passo ao abrir a porta do Governance ao sexo feminino. Foi assim que Sarai Barema, ex-jogadora da equipa da Samoa e ex-CEO da Confederação de Futebol da Oceânia, se tornou na altura a mulher mais poderosa no futebol. “Há mais hoje em dia”, assegura. “Não só a nível da FIFA, mas também nas Confederações e nos países”, sublinha.
“A discriminação das mulheres não se resume a uma área”, diz. “Estamos a bater à porta numa mudança enorme e global”, adianta, enquanto reconhece que é necessário “investir tempo e dinheiro” para levar a cabo essa mesma mudança.
Traça, desde logo, um objetivo. “Gostaríamos de duplicar o atual número de jogadoras e, daqui a 10 anos, termos 60 milhões”, adianta.
Mas não só de crescimento de praticantes se resume esta empreitada. “Mais árbitras e mais treinadoras. É importante para o jogo”. E é do que se passa nas quatro linhas que vem o próximo desejo: “mais competições não só a nível da FIFA, mas a nível nacional, mais competições, como a Liga de Campeões feminina, por exemplo, alargadas na Região do Pacífico”, exemplifica.
Sarai defende que o futebol feminino “é tão competitivo” quanto o masculino. “O desafio é como fazer com que mais gente veja o futebol feminino”, diz. E aqui entram os media que desempenham “um papel importante na divulgação”, reforça, ao mesmo tempo que elogia a BBC e a diretora de Desporto da estação pública britânica, Barbara Slater, que lhe precedeu nas apresentações e que mostrou o crescente interesse, no Reino Unido, ao nível das audiências – na televisão, online e rádio – sobre o futebol feminino.
O nome de cinco jogadoras de futebol famosas? A pergunta que poucos sabem responder.
“Se perguntar, na rua, um nome de uma jogadora, ou as cinco melhores ... se souberem, dizem a Marta (Brasil)”. Por isso, reforça que há mais um desafio pela frente. “Como fazer heróis (heroínas, no caso) no futebol para além dos ídolos masculinos, questiona a diretora da FIFA.
“Temos que ter paciência e não creio que seja de um dia para o outro que teremos o mesmo engagement. Mas vamos continuar a pressionar”, garante.
Olhando para a pirâmide do futebol, frisa “que não devemos focar só no nível mais alto (seleções) mas também para a parte de baixo”, diz, reforçando que é importante que os principais clubes das competições nacionais “abram as portas ao futebol feminino”. “É um desafio e há muito a fazer”, atira.
E quando se aproxima o fim da conversa, entra Portugal. A diretora da FIFA diz-se “entusiasmada por ver, pela primeira vez, a seleção nacional numa competição internacional (campeonato da Europa)” e elogia Mónica Jorge (na foto) no trabalho desenvolvido. Elogios estendidos à assistência no estádio no recente jogo entre Sporting-Braga.
O lado comercial e o lado competitivo do futebol feminino caminham lado a lado no novo modelo da FIFA 2.0, modelo estratégico pensado em exclusivo para as mulheres. Recordando ainda a apresentação da diretora da BBC que mostra um crescimento de audiências televisivas, reconhece que “as receitas são muito importantes em vários países” pelo que há que “criar novas receitas para futebol feminino para se reinvestir no desenvolvimento da modalidade”, sustenta. E nesta partilha de receitas (publicidade e direitos televisivos) é lapidar. “O futebol feminino é um novo bolo. Não necessitamos de retirar uma fatia do bolo masculino”, finaliza.
A conferência da Federação Portuguesa de Futebol, as Football Talks 2017, decorrem até ao dia 24 de março no Centro de Congressos do Estoril. Veja o acompanhamento diário do SAPO24 aqui.
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