O Caçador de Trolls (2010) é um mockumentary (um filme que se faz passar por documentário real) em que um grupo de Trolls gigantes anda à solta nas frias florestas norueguesas. A história não prima pela originalidade, pois pese embora o guião ter os seus momentos satíricos capaz de fazer soltar aquela gargalhada da boa, na verdade é um exercício muito semelhante ao Projeto Blair Witch (1999) ou Clovervield (2008) — basicamente alguém encontra filmagens de um grupo que se encontrou com algo ou alguém que não devia. Mas a verdade é que a criatura antropomórfica das lendas escandinavas é grande, feia, está coberta de misticismo e impõe respeito nas cenas passadas na noite e em que tudo é escuro e assusta. Além disso, por alguma razão, parece só atacar quem acredita em Jesus ou Deus.
Mas porquê chamar para aqui o filme André Øvredal? Bem, primeiro porque se trata dum norueguês chamado André que partilha o nome com o guarda-redes do Rosenborg, também ele André. Segundo, porque o site oficial da UEFA diz que a alcunha da equipa, segundo um dialecto local, é Os Pequenos Trolls. E hoje, os jogadores do clube mais titulado da Noruega (26) e que está em risco de falhar as competições europeias, mostraram que realmente estão habituados ao frio (atacaram muito e nunca desistiram) mas já não são tão grandes assim. Porque é impossível não lembrar que, entre 1995 e 2007, o Rosenborg esteve por 11 ocasiões (oito consecutivas) na fase de grupos da Liga dos Campeões e que a deslocação a Trondheim era terrível. Nos anos 90, então, o poderio era temível. No entanto, a realidade atual é bem diferente. E o talento, idem.
É por isso que não é difícil resumir os primeiros 45'. Porque o Sporting foi — e é — superior ao Rosenborg. Em Trondheim, a equipa portuguesa começou e terminou mais forte. Assim como não há dúvidas quanto à justiça da vitória. Mas a verdade é que pouco houve além dos golos. Especialmente nesta primeira parte. Existiram dois golos, e foi isso. Não há muito mais a relatar. Porém, tudo isto não passam de balelas românticas que nada interessam quando se ganha — ainda para mais, de forma justa. No primeiro tempo, o Sporting não fez um jogo exuberante, mas fez o suficiente para estar confortável no jogo e entrar para a segunda parte com tranquilidade para cedo resolver a questão com um possível terceiro golo.
A segunda parte, contudo, podia ter oferecido vários desfechos diferentes. Mas os jogadores do Rosenborg não mostraram ter destreza na ponta das botas para alterar fosse o que fosse. Tiveram oportunidades, inclusivamente uma bola ao poste (85'), num lance em que Borja não fica muito bem na fotografia, mas não fizeram golos. O Sporting aproveitou-se bem daquilo que fez na primeira e até houve um caso em que parece ter havido lance para grande penalidade (62') que, em caso de conversação, traria certamente ainda mais tranquilidade e que encerraria o jogo.
Do ponto vista estético, falando estritamente da qualidade de jogo, não é possível encontrar palavras que reconfortem o globo ocular de quem o viu, uma vez a bola foi (quase sempre) mal tratada de parte a parte.
De regresso aos três centrais
Neste final de tarde, o Sporting tinha a possibilidade de marcar posição no grupo com um resultado positivo que fizesse esquecer o mais rapidamente a derrota em Tondela, no fim de semana. De resto, foi exatamente isso que fez, tendo a vitória chegado com uma mudança a nível táctico, já que os leões voltaram a alinhar no esquema 3-5-2.
Sem Mathieu disponível, a contas com problemas físicos, os leões alinharam com Coates, Illori e Neto (não jogava desde a eliminação da Taça de Portugal frente ao Alverca) no centro da defesa; Rosier e Borja (ambos de regresso à titularidade) nas alas com a missão de galopar nos flancos e dar apoio e profundidade à equipa; mais à frente no terreno Miguel Luís deu lugar a Eduardo Henrique, que jogou ao lado de Bruno Fernandes e Doumbia; Bolasie e Vietto foram os escolhidos para ameaçar a baliza do guarda-redes André (Hansen).
No entanto, a novidade sem realmente o ser, passou pela reintegração do brasileiro Wendel, que esteve a cumprir castigo nos sub-23.
Os golos, esses, aconteceram ambos na primeira metade, num momento em que praticamente nada se passava. E foi Bolasie a dar uma mãozinha ao Sporting e um empurrão ao jogo. O homem que é conhecido pelos highlights graças à sua técnica apurada e ao Bolasie Flick, criou sozinho a jogada que acabou no remate que valeu o canto do primeiro golo dos leões. Dá-se a marcação do pontapé de canto, a bola é penteada para o segundo poste, Neto prossegue em sua busca e, sem dúvidas e como se de um lateral se tratasse, cruzou com conta, peso e medida para Coates abrir o marcador. Ambos costumam ser alvos de críticas, mas esta noite apresentaram-se em bom nível e fizeram a diferença.
Até à meia hora de jogo, o Sporting não criava perigo, mas também não deixava que o mesmo chegasse à sua área. É verdade que o Rosenborg tentava pressionar alto; porém, no último terço, ou os passes saíam para tudo aquilo que não era pé de jogador norueguês ou dava corte leonino. Soderlund, sozinho lá na frente, bem que se esforçava mas tudo aquilo que parecia conseguir fazer era chegar atrasado aos cruzamentos ou perder bolas para as jogadores de Silas. Até que, como aconteceu inúmeras vezes nos últimos três anos, a bola chegou aos pés de Bruno Fernandes. E, quando assim é, quem gosta de futebol, sabe que há uma forte possibilidade de acontecer uma bojarda que faz avançar o placard. E foi exatamente isso que aconteceu aos 38': a redondinha acabou a beijar as redes da baliza de André Hansen.
Se sem espaço o internacional português já é difícil parar, então com espaço para dominar e trabalhar o esférico, a tarefa parece ainda mais remota de ser anulada. Independentemente do pé com que remate. Neste caso, simulou com um (direito) para tirar um defesa da frente e disparou com outro (a canhota) para selar aquele que viria a ser o último golo da partida.
Foram dois lances em que o Sporting não falhou, mostrou serenidade e rugiu no frio para garantir três pontos e dar um valente passo para chegar à fase a eliminar da Liga Europa. É certo que nos últimos minutos surgiram as jogadas mais perigosas do adversário, mas até nesse momento Renan mostro foco — e o resultado não se iria alterar.
Ou seja, resumindo e concluindo, na classificação, o Sporting CP têm agora nove pontos e lidera o Grupo D, contra sete do LASK (atropelou em casa, por 4-1, o PSV Eindhoven), que está em segundo. No entanto, sete são aqueles que os holandeses contabilizam também. Tudo em aberto, portanto, mas com os leões bem encaminhados. Certezas, só que os trolls noruegueses, bem grandes e maus nos anos 90, passadas décadas e a 7 de novembro, somam zero pontos e estão eliminados.
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
Há um lance na primeira parte que espelha bem aquilo que é Doumbia: tanto trabalha muito bem (foi dele a recuperação de bola para Bruno Fernandes no lance do segundo golo), como tem lances de uma imprudência que pode penalizar a equipa. Este foi um caso em que aconteceu a última hipótese. Foi aos 19’. É uma jogada em que tentou despachar a bola com aquela violência característica de quem quer mandar para fora… só que acabou por dar uma valente biqueirada no adversário e provocou um livre que podia ter causado perigo a Renan.
Bruno Fernandes — fica na retina o bom jogador de futebol
Torna-se um pouco repetitivo quando o tema de "bom jogador" se refere a Bruno Fernandes. Mas, como se costuma dizer ao bom estilo corriqueiro, é o que é. E o que é… é que o capitão do Sporting CP joga que se farta e continua a ser decisivo. A par de Coates, esteve em bom plano e, ainda que tenha só tenha feito três remates, a verdade é que meteu um na gaveta norueguesa.
Coates, vantagem de ter duas longas pernas
A história recente do uruguaio remete para os autogolos, mas o que conta é o jogo desta noite. E esta noite Coates foi o esteio que a defesa do Sporting CP precisava e ainda foi resolver na frente com um forte cabeceamento. Jogo muito positivo do central.
Nem com dois pulmões chegava a essa bola
Não chegou com dois pulmões, mas chegou à cabeçada. Não foi, Borja? O lance (85’) podia ter dado golo, mas o poste e Renan ajudaram a que o assunto ficasse encerrado. Ainda bem para o colombiano — porque ler mal o lance, receber com a cara e dar chance ao adversário parece coisa de pulmão que já não bombeia oxigénio para o cérebro.
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