Os apenas três anos de vida encurtam as possibilidade do Racing Power Football Club ter uma alargada legião de adeptos a vestir a camisola amarela do equipamento.
Não são muitos, é incontornável, mas são e têm sido fiéis testemunhas das ainda curtas e frescas páginas da história de sucesso escritas por este clube de futebol nascido no Seixal, na margem sul de Lisboa, pela mão de um pai, Ismael Duarte, que pretendeu dar continuidade futebolística à filha, Mariana Duarte (ex-Paio Pires).
Ao sonho deste pai juntou-se igual desejo de outros dois pais de jogadoras. Nuno Painço, presidente e pai de Beatriz Painço (Benfica B) e Pedro Sebastião, vice-presidente, pai de Beatriz Sebastião (Racing).
Pela mão deste tridente, o Racing Power FC, clube só feminino, escalou vertiginosamente da terceira para a primeira divisão em apenas três temporadas.
Da sede no Seixal e nos inúmeros treinos no Jamor, na divisão de elite, o emblema que pede emprestado o nome do patrocinador de bebidas energéticas, terminou a época no último lugar do pódio, atrás do Sporting e do campeão Benfica.
Eliminado na meias-finais da Taça da Liga, pelas leoas, viria a marcar encontro com as águias na final da Taça de Portugal, no Estádio Nacional, no Jamor, Oeiras.
Na estreia no estádio de todas as taças venceu quem já recebeu o caneco na Tribuna presidencial. O Benfica bateu o Racing Power por 4-1 e leva para o museu Cosme Damião a Taça de Portugal, a segunda da história, para juntar e fazer póquer de troféus na temporada: Supertaça, Liga, Taça da Liga e Taça de Portugal.
Às outras meninas do Seixal, finalistas vencidas, ficou reservado o corredor de aplausos na subida das míticas escadarias de pedra para receberem as medalhas para mais tarde recordarem.
Recordação embelezada pelas palmas vindas, em particular, de uma pequena falange de apoio encostada aos degraus centrais do estádio, por onde passaram vencedoras e finalistas vencidas da Taça de Portugal.
“Os adeptos são maioritariamente a família das jogadoras da formação”
Entre os 18,124 espetadores presentes no Jamor, novo recorde de assistência na Taça de Portugal feminina, os 200 bilhetes solicitados pelo Racing Power pouca comichão poderiam provocar à enorme e ruidosa mancha encarnada, já experimentada em cânticos de apoio noutros palcos a outros artistas da bola.
A antecipada crueldade da estatística em nada afetou, nem roubou qualquer entusiasmo, a quem viajou até às matas do Jamor para apoiar o jovem clube nascido pelas mãos do empresário Ismael Duarte, CEO da empresa RPower Energy Drink, principal investidor do emblema.
“Os adeptos são maioritariamente a família das jogadoras da formação. A formação tem uma massa associativa muito forte, no escalão sub-17 e sub-19, em média 100 adeptos em cada, e os pais vão a todo o lado”, caracterizou Diogo Santos, confesso jovem adepto do Racing Power e professor de educação física.
“Hoje, como é um jogo mais importante e histórico, seremos mais. Pais, familiares e amigos, virá toda a gente”, prometia ao apresentar-se no Jamor acompanhado do seu pai, um seguidor especial, ambos com a fé inabalável de sempre.
O adepto mais velho apresenta-se sem revelar o nome de batismo. “Sou o Jardel. Para os amigos, sou o Jardel do Seixal. Fica assim porque toda a gente me conhece por Jardel no Seixal (agora partilhado com o mundo)”, disse em conversa ao SAPO24 no estacionamento do Parque 2 no Complexo Desportivo do Jamor, do lado do CAR de Ténis.
“Estamos aqui, agora e sempre, para apoiar o futebol feminino”, acrescentou. “Sou o adepto número um do futebol feminino, no país no geral”, frisou este adepto especial para quem o Seixal é “a terra do futebol feminino”, catalogou.
Aprofundou. “Sou o chefe da claque porque alguém tem de meter os pais na ordem”, sorriu, enquanto guardava, no porta-bagagens do seu velho Peugeot 205, o cachecol do Sporting Clube de Portugal, abrindo as confissões ao outro clube do coração.
“Também sou pai”, assumiu ao apresentar a descendência que calça chuteiras: “A minha filha, Nicole Santos, joga nos sub-17 do Racing, mas antes representou o Amora”, equipa feminina que seguia, assim como “os jogos da seleção nacional”.
Os números de partidas assistidas pelo Jardel do Seixal impressionam. “Esta época vi 121 jogos, o 120.º foi hoje de manhã, ao ver as sub-17”, destacou.
É a segunda vez no Estádio Nacional. Da primeira, ainda não havia futebol feminino
Do mesmo parque de estacionamento, e ao longo de todo o percurso até ao tapete verde do Jamor, muitos adeptos e muitas adeptas vestiam a camisola de Kika Nazareth, verdadeiro ídolo das águias, tal como Jéssica Silva.
Um quarteto 100% feminino com as cores do Sport Lisboa e Benfica caminhava vagarosamente para o jogo das famílias, passeio domingueiro cujo comportamento, reconhecem, não pauta por um seguidismo acentuado no chuto da bola.
“Sou adepta do Benfica, é tudo Benfica, mas é só a segunda vez que vejo o futebol feminino”, confessou Sílvia Pinto, acompanhada da mãe, Fernanda e de duas sobrinhas.
“Vimos o jogo com o Lyon, para a Liga dos Campeões, não foi Márcia?”, interrompeu o raciocínio ao questionar a sobrinha. O acenar da cabeça deu a resposta antes de passar a bola para a matriarca da família das águias de apelido Pinto.
“É a segunda vez que venho ao Estádio Nacional. Vim nos anos 50 ou 60 (século passado) não era futebol feminino, não havia na altura e a minha filha, que tem 57 anos, ainda não tinha nascido”, registou Fernanda Pinto, 78 anos de idade.
Pessoa de sorriso fácil, disparou uma pergunta em forma de queixa. “Não há um elevador ao lado das escadas (do CAR de Râguebi)?”, apontou.
À falta da infraestrutura, a filha Sílvia respondeu com pragmatismo. “Eu carrego a minha mãe às costas”. Tal como a frase “Carrega Benfica”, escutou-se por entre a mata do Jamor antes, durante e depois da final da Taça de Portugal.
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