Thiago Neves é um jogador extremamente talentoso. Foi campeão por onde passou, ídolo no Fluminense, destaque no Flamengo com Ronaldinho Gaúcho, brilhou no Cruzeiro bi-campeão da Copa do Brasil e teve passagens até pela Seleção Brasileira. Não teve sucesso na Europa, mas foi feliz e ganhou muito dinheiro no mundo árabe.

Djalminha, em sua coluna no Uol, foi muito feliz em citar a expressão “fez a fama, deita na cama”(pelo menos assim é a versão brasileira da expressão). Thiago sempre foi reconhecido pelo seu talento e pelo espírito vencedor. Por isso, sempre foi admirado pelos adeptos e teve espaço em grandes clubes. A sua fama de médio talentoso sempre o acompanhou e o protegeu em momentos menos bons na carreira.

Entretanto, o ano de 2019 foi péssimo para Thiago Neves. Sem conseguir, em campo, manter o nível e ajudar a salvar o Cruzeiro, foi escolhido por imprensa e torcida como o principal responsável pelo fracasso. A verdade é que o comportamento do jogador, fora de campo, não o ajudou em nada a se defender.

Polémico, parecia desinteressado nas entrevistas. Foi visto em festas e outros eventos enquanto a sua equipa perdia em campo. Na disputa entre jogadores e o treinador Rogério Ceni, apareceu publicamente como um dos líderes dos jogadores insatisfeitos. E, para piorar, teve um áudio revelado, no qual cobrava salários atrasados ao presidente do clube e dizia que, em troca, a equipa ganharia um jogo contra um rival bastante inferior. Não ganharam. Caíram para a Serie B e Thiago foi eleito o vilão.

Com sua imagem extremamente arranhada, recebeu uma boia de salvação do amigo Renato Gaúcho, treinador do Grémio e famoso por recuperar jogadores em baixa. Com alto salário e desempenho apenas mediano, o clube aproveitou a desculpa da “crise da pandemia” para se desfazer do jogador. Livre para assinar por outro clube, os adeptos passaram a manifestar-se nas redes sociais, pedindo para que o seu clube não o procurasse.

Eis que uma ideia “genial” quase o levou para o Atlético-MG. O que passa na cabeça de um clube para aceitar a sugestão do seu treinador e procurar uma antiga estrela do principal rival, famoso por provocar seu clube e sua torcida e, ainda por cima, com o estigma de liderança negativa responsável pela queda de divisão? Não tinha como dar certo e todo o processo criou uma crise desnecessária na semana do Galo Mineiro.

Assim que a informação sobre a negociação foi tornada pública, virou "Trending Topic" mundial no Twitter, sempre com repercussão negativa, e a mobilização dos adeptos fez o clube e jogador recuarem. Dizem que já tinha até contrato assinado. A enorme rejeição pesou e o negócio foi desfeito, mas não impediu que a imagem dos diretores e do jogador fossem ainda mais arranhadas.

Thiago Neves vê-se assim sem clima para continuar a jogar no Brasil. Talvez tenha mercado em clubes menores, mas está marcado pelo fã de futebol como um “mau caráter”. Ninguém sabe o que se passa nos bastidores do jogo e, por isso, é injusto crucificar e é difícil de inocentar o jogador, mas como o ditado diz, a fama já ficou. Estará no centro das atenções em qualquer crise e sofrera muita pressão. Sendo assim, vale a pena a sua contratação?

Justa ou injustamente, Thiago Neves é o responsável por se colocar nessa situação. Passar de talento diferenciado a persona non grata na visão dos adeptos da maioria dos clubes do Brasil. Ele fechou as portas para si quando teve uma postura menos profissional e foi protagonista do maior vexame da história de um dos maiores clubes do país. Isso é um facto. Agora, tem de aprender a conviver com ele e decidir se quer reverter esta imagem com muito trabalho, no Brasil, ou refugiar-se, como já fizeram outros, em mercados alternativos da bola.

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