Na semana passada, o mundo do futebol ficou em choque com a notícia da morte de Vichai Srivaddhanaprabha, proprietário do Leicester City. Do trágico acidente de helicóptero não viriam a resultar sobreviventes e além de Srivaddhanaprabha, viriam a falecer outras quatro pessoas. Para Vichai, que antes do acidente tinha dispendido duas horas a fazer uma das coisas que mais gostava, ver o Leicester City jogar, as ações falavam mais alto que as palavras.
Sem apreço nem necessidade pela exposição pública, o tailandês era um investidor que colocava tudo o que podia, não só no clube, mas também no que rodeava o mesmo: a cidade e as pessoas de Leicester. Com presença assídua no camarote presidencial dos Foxes, juntamente com o seu filho Aiyawatt, era um dono de clube pouco comum.
A família Leicester City
O sonho começara em 2010. Com a compra do então desportiva e financeiramente instável Leicester City, a primeira medida do novo dono do clube foi a de saldar a dívida do mesmo, na altura cifrada em mais de 100 milhões de libras.
Com um crescimento pensado e sustentado, o dinheiro investido foi colocado ao serviço do desenvolvimento do clube e não com o objectivo do sucesso esporádico. Vichai construiu depois o impossível: em apenas seis anos, levou o Leicester de quinto classificado na Championship (segunda divisão inglesa) a histórico campeão da Premier League.
De recordar que, emaAgosto de 2015, inicio da temporada em que as Raposas viriam a ganhar o campeonato, a probabilidade de estes o conseguirem era, segundo as casas de aposta, de 5.000 para 1. Em probabilidades, essa é, mais coisa menos coisa, a definição de ‘missão impossível’.
“Vichai fez do Leicester City o que ele é hoje. Fez dele uma familia, fez dele um sonho. Vichai investiu no clube, na cidade, nas pessoas.” Claude Puel, atual treinador do Leicester City
Contudo, os milhões investidos por Vichai não se resumiam ao clube - também a comunidade viria a beneficiar da generosidade do homem forte do Leicester. Disso são exemploos milhões de libras doados à Universidade de Leicester e ao hospital público Royal Infirmary, também ele em Leicester.
Aos adeptos, que com ele partilhavam o amor pelo futebol e pelo Leicester City em particular, este era conhecido por oferecer regularmente cerveja, bolos e cachecóis, particularmente em dias de jogo onde as temperaturas eram mais baixas que o habitual. Adicionalmente, muitas foram as vezes que organizou viagens para os jogos fora sem quaisquer custos para os fãs dos Foxes.
Vichai era um homem que preferia não ostentar de forma gratuita a sua riqueza, que não dava entrevistas, e que deixava normalmente o protagonismo para o seu filho mais velho. Contudo, em pouquíssimo tempo passou de um mero investidor a líder amado e idolatrado por todos os que rodeavam a família Leicester City. Sem dúvida alguma um exemplo muito positivo de entre os inúmeros investidores no futebol inglês moderno.
De agora em diante
Esta semana foi apenas o início de tempos muito difíceis para a família Srivaddhanaprabha, e também para o staff, adeptos e jogadores do Leicester. Todos terão que fazer o seu luto em plena competição, esforçando-se ao máximo para continuar a honrar, cada vez mais, o clube e a memória do homem que o transformou de ‘mais um’, em campeão inglês.
Mas a família Leicester City está de rastos. Todos os jogadores e staff técnico estão a passar por momentos muito difíceis, sendo Kasper Schmeichel um dos exemplos mais prementes, o guardião titular da equipa que testemunhou parte da queda do helicóptero. O guarda-redes dinamarquês apressou-se, juntamente com outras testemunhas, para o local do acidente, e tem estado visivelmente afetado nas presenças públicas e nas redes sociais desde o acontecimento.
Fica a esperança de que toda a equipa recupere rapidamente desta tragédia e consiga ultrapassar tamanha dificuldade com a certeza de que sempre que lutarem pela camisola do Leicester City, estão não só a representar o seu historial, como também o homem que teve a visão e capacidade de reunir um grupo de pessoas que viria a fazer do Leicester aquilo que é hoje, um clube histórico.
Por isso, nada melhor que relembrar as palavras do próprio Vichai Srivaddhanaprabha, no dia da entrega do título de campeão à sua equipa, em 2016: “O nosso espírito (de equipa) existe devido ao amor que partilhamos uns pelos outros e a da energia que esse mesmo amor ajuda a criar. Nos anos que estão para vir essa continuará a ser a nossa melhor qualidade”. Força, Raposas!
Esta semana na Premier League
Se não tivermos em conta os incidentes recentes, o campeonato e a emoção está ao rubro, e com razões para isso. Com três equipas invencíveis, a luta entre Chelsea, Liverpool e Manchester City promete vir a ser épica. O Arsenal recebe o Liverpool no sábado, dia 3, pelas 17h30, e Unai Emery tem o seu primeiro grande teste após o grande momento que a equipa vive. Com onze vitórias consecutivas até ao empate da jornada passada com o Crystal Palace, os Gunners quererão mostrar que têm capacidade para, a médio-prazo, lutar com as equipas da frente. Mais um jogo a não perder na mais competitiva e espetacular liga de futebol do mundo.
Uma nota ainda para a notícia do internamento de Glenn Hoddle. Apenas um dia após o artigo da semana passada, "o rapaz dos golos bonitos" Glenn Hoddle acabaria por ser internado de urgência após sofrer um ataque cardíaco em pleno estúdio da BT Sport, no dia do seu sexagésimo primeiro aniversário. Passada uma semana o ex-internacional inglês parece estar a recuperar bem. Resta-nos esperar as melhoras rápidas do agora comentador.
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