“Portugal teve uma demonstração impressionante de recuperação após uma situação financeira e económica muito difícil e uma recuperação baseada na abertura da economia, em regras orçamentais muito inteligentes e, também, centrada na inovação e na digitalização, prioridades que são agora também partilhadas pela Comissão”, declarou hoje à agência Lusa, em Bruxelas, o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni.
Em entrevista à Lusa e a outros três órgãos de comunicação social europeus — no dia em que Bruxelas anunciou prever uma recessão de 6,8% em Portugal este ano e uma taxa de desemprego a subir para 9,7%, resultante da crise gerada pela covid-19 –, o comissário europeu indicou que “esta situação [resultante da pandemia], infelizmente, atinge Portugal neste período de transição positivo, com um excedente orçamental”.
“E isto é lamentável [para o país], como também é para a Grécia, que também tem estado a recuperar, embora numa situação muito diferente”, comparou Paolo Gentiloni, realçando que “Portugal é atingido por esta crise num momento de recuperação”.
Para mitigar os efeitos desta recessão relacionada com a pandemia, o responsável italiano defendeu que Portugal deve criar “respostas nacionais” e “garantias nacionais à liquidez”, sem as quais “não é possível haver recuperação”.
“Mas, ao mesmo tempo, penso que a resposta europeia é particularmente importante para países como Portugal, porque só uma resposta comum europeia pode limitar o risco de diferenças excessivas entre países”, argumentou Paolo Gentiloni.
Sobre essas medidas de nível europeu, o comissário começou por destacar as políticas recentemente adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE), considerando que tais operações de liquidez são “fundamentais […] especialmente para países como Portugal, que tiveram altos níveis de dívida e dificuldades, ultrapassadas recentemente, nos setores financeiros”.
E para assegurar o crescimento da economia portuguesa é também crucial, segundo Paolo Gentiloni, o plano de recuperação que a Comissão Europeia está a preparar e que vai apresentar nas próximas semanas, pois será direcionado para os “setores [europeus] mais afetados” pela covid-19, como é o caso do turismo.
“Será particularmente importante por causa da especificidade do turismo em Portugal, que é muito virado para o turismo estrangeiro, muito mais que em França ou Itália, onde a proporção do turismo doméstico é maior, também devido à dimensão da população”, observou Paolo Gentiloni.
“Se formos capazes de ajudar, rapidamente, os setores também com instrumentos europeus, penso que isso será absolutamente estratégico”, acrescentou o comissário.
Nas previsões económicas hoje publicadas, as primeiras projeções sobre o impacto da pandemia, a Comissão Europeia projeta uma redução de 50% na atividade turística na Europa este ano devido à pandemia, estimando “consequências prolongadas” no setor, sendo Portugal um dos países mais afetados pela sua “dependência do turismo estrangeiro”.
Recorrendo a dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) referentes a 2018, o executivo comunitário destaca que Portugal é dos países mais dependentes do turismo, país no qual este setor representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e 9,8% do emprego, apenas superado nesta dependência por Espanha (onde representa 11,8% do PIB e 13,5% do emprego).
Nestas previsões, a Comissão Europeia disse ainda prever que, após a recessão de 6,8% e a taxa de desemprego de 9,7% em 2020, se registe uma recuperação da economia portuguesa de 5,8% em 2021, bem como uma diminuição da taxa de desemprego para 7,4%.
Na entrevista à Lusa e a outros meios, Paolo Gentiloni vincou ainda ser necessário garantir apoios para o emprego.
“Não devemos apenas olhar para a taxa de desemprego que, aparentemente, não é assim tão dramática porque sabemos que é ligeiramente reduzida pelos esquemas de desemprego temporário que foram implementados em vários países”, alertou.
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